Na Era do Espírito

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Capítulo XXII

Questões graves


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Chico Xavier

“Antes de nossa reunião poucos irmãos (era uma reunião íntima para tarefas de desobsessão) perguntavam uns aos outros qual o ponto mais expressivo em que nos devemos firmar quando as questões mais graves do mundo nos surgem pela frente.

As dificuldades na reencarnação se mostram com muitas faces. E, compreendendo assim, trocávamos opiniões.

No intróito do programa de ação temos sempre alguns minutos para contato com os ensinamentos de Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, () aberto sem ideia preconcebida, nos deu a questão 843, referente ao livre arbítrio, para meditarmos.

Ao término das tarefas o amigo espiritual que nos veio ao encontro foi o nosso caro André Luiz que escreveu, por nosso intermédio, a página a que intitulou — O mais importante.”



André Luiz

Provavelmente você estará atravessando longa faixa de provações em que o ânimo quase que se lhe abate.

Crises e problemas apareceram. Entretanto, paz e libertação, esperança e alegria dependem de sua própria atitude.

Se veio a colher ofensa ou menosprezo, você mesmo pode ser o perdão e a tolerância, doando aos agressores o passaporte para o conhecimento deles próprios.

Se dificuldades lhe contrariaram a expectativa de auto-realização, nesse ou naquele sentido, a sua paciência lhe fará ver os pontos fracos que precisa anular a fim de atingir a concretização dos seus planos em momento mais oportuno.

Se alguém lhe impôs decepções, o seu entendimento fraterno observará que isso é uma bênção da vida imunizando-lhe o espírito contra a aquisição de pesados e amargos compromissos futuros.

Se experimenta obstáculos na própria sustentação, o seu devotamento ao trabalho lhe conferirá melhoria de competência e a melhoria de competência lhe elevará o nível de compensações e recursos.

Se você está doente, é a sua serenidade, com a sua cooperação, que se fará base essencial de auxilio aos médicos e companheiros que lhe promovem a cura.

Se sofre a incompreensão de pessoas queridas, é a sua bondade, com o seu desprendimento, que se lhe transformará em arrimo para que os entes amados retornem ao seu mundo afetivo.

Evite as complicações de rebeldia e inconformidade, ódio e inveja, egoísmo e desespero que apenas engrossarão o seu somatório de angústia.

Mudanças, aflições, anseios, lutas, desilusões e conflitos sempre existiram no caminho da evolução. Por isso mesmo, o mais importante não é aquilo que aconteça e sim o seu modo de reagir.



Irmão Saulo

Muita gente pergunta em que consiste o livre arbítrio na reencarnação, desde que esta é condicionada pelo carma, pela lei de ação e reação. Há nas correntes filosóficas existenciais o princípio da facticidade, segundo o qual já nascemos feitos no mundo, determinados pelo nosso corpo e pelo meio em que surgimos. Mas apesar disso os filósofos da existência consideram a criatura humana como a única dotada de liberdade, o único ser livre da Terra. Porque a partir desse dado inicial o homem é livre para pensar e agir, sem o que não teria responsabilidade.

Muito antes dessa descoberta dos existencialistas O Livro dos Espíritos já estabelecia o livre arbítrio como característica da espécie humana. A questão 843 desse livro () mostra que a liberdade humana é progressiva, desenvolvendo-se em fases sucessivas desde o nascimento até a madureza. O condicionamento físico do homem, abrangendo as condições orgânicas, a hereditariedade, o meio e a cultura, não lhe tira a capacidade de discernir e escolher. As predisposições instintivas o inclinam em diversos rumos, mas nem por isso o obrigam a fazer isto ou aquilo. Assim como o motorista, limitado pelas condições do carro que dirige, não perde a sua liberdade, o homem continua, como Espírito, livre para pensar, querer e agir no condicionamento da sua reencarnação.

É por isso que André Luiz considera como o mais importante o modo de reagir da criatura diante das vicissitudes da vida. Essas dificuldades agem sobre o homem como consequências do passado, mas é através da sua maneira de reagir que o homem vai superar o passada e abrir novas perspectivas para a sua vida no presente e no futuro. Se reagir mal continuará enleado no seu carma. Se reagir bem libertar-se-á dele. Nosso comportamento, portanto, diante das questões mais graves que o mundo nos propõe, é o que vai decidir o nosso destino. Poderíamos querer mais ampla liberdade do que essa, a de construir por nós mesmos o nosso futuro?



NOTA: Essa mensagem foi publicada no Anuário Espírita de 1973.



Francisco Cândido Xavier


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