Ninguém Morre - Estagiamos Entre Dois Mundos
Versão para cópia“Sou eu mesmo”
Mãe, abençoe-me. Vozinha, guarde-me em suas preces.
Sou eu mesmo. Estou na escuta.
Compreendo, mamãe. Tudo se foi, do ponto de vista da experiência propriamente material. Até o corpo se desmanchou, do mesmo jeito que a fumaça que, por fim, desapareceu.
Do Natal de choque e de lágrimas em que tantas surpresas e tantas inquietações se amontoaram sobre nós — num momento só —, restamos nós ainda mais unidos, coração para coração.
Isso não é surpresa para mim. Sempre pensei no íntimo que seria assim mesmo.
Estava ao seu lado e procurava a sua presença por toda parte, era seu filho e não sabia porque me sentia mais do que isso. Quem sabe medir essas complicações? Eu não sei.
O que não nego é que a chamada morte me soldou espiritualmente ao seu carinho.
Lembro-me com clareza. Quando o carro em movimento me tocou a peça quase parada, recordo o salto obrigatório em que me vi despejado, quase em voo cego, ignorando onde bateria meu corpo.
Uma pancada de cabeça me tonteou!… Quis raciocinar ou falar, mas não consegui.
Tive a ideia de que um barulho imenso me tomava a sede do pensamento, e não conseguia reunir ideias para essa ou aquela resolução.
Entretanto, joguei meus impulsos interiores para a sua imagem e para Cida, junto de quem poderia eu valer alguma cousa…
Senti que me recolhiam e que me transportavam para lugar que não dispunha de visão para reconhecer.
Suponho que a morte — se a morte possui individualidade — se compadeceu de mim e não quis me tocar enquanto a sua mão não me abençoasse…
Esperei, esperei… E o momento chegou… Percebi que a sua presença se comunicava comigo, ouvia a sua voz e pressenti o seu espanto, e quando as suas mãos me tatearam de leve, esforcei-me por dizer que a esperava…
Reuni todas as minhas energias e tentei mobilizar a boca de modo a falar com clareza, no entanto, apenas pude emitir um grito que se fazia muito mais um gemido de dor, que a sua bondade compreendeu…
Num gemido só, eu disse tudo o que ansiava transmitir-lhe… Que momento belo e terrível! — porque o seu entendimento de mãe não mais se apartou de mim.
Percebi que a Dídi nos acompanhava, e que estávamos reunidos num carro que somente depois vim a saber tratar-se da ambulância, em que descansei num sono realmente de morte.
Mãe querida, tantas lutas vivemos juntos!… A parada final não podia ser diferente. Ambos em harmonia, imaginando e vendo a vida com a cabeça um do outro… A morte devia obedecer a esse mesmo figurino.
Hoje, compreendo que nos separamos em viagem, porque a ambulância era igualmente um veículo igual aos outros, e a via pública é a continuação de qualquer estrada.
O torpor em que me vi prostrado se transformou num desmaio que atingiu a própria inconsciência.
Quando acordei, me achava num lar acolhedor e, a meu lado, alguém me falava com a doçura da vozinha…
O receio da morte estava em mim, qual se não houvesse, de minha parte, atravessado a passagem estranha…
Essa criatura que vim a reconhecer — a vó Bernardina — me explicava com bondade e prudência tudo o que me sucedera.
Buscara-me num hospital a que fora recolhido, trazendo-me para junto dela, com permissão das autoridades que me assistiram, sem que eu tomasse qualquer conhecimento disso, e dialogava comigo, auxiliando-me a entender a situação com menos choro e mais segurança.
Aceitar a novidade não me foi fácil. A sua presença, a família, a lembrança de Cida e da Fabiana me surgiam na memória… Reconheci que devia ter viajado ao encontro do Lênio e que fora arrebatado por outras imposições.
Mãe, aí eu chorei mesmo. Era efetivamente o seu menino, procurando o seu colo para esconder a minha contrariedade e o meu sofrimento.
A vovó Bernardina deixou que eu derramasse as lágrimas que eu quisesse, e concordou comigo que não era justo deixar a Terra assim tão cedo…
Ela bem que sabia terminado o meu tempo, mas o amor das avós é grande demais para saber tratar com a realidade.
Vó Bernardina dizia o que eu desejava fosse dito, repetia-me o “sim” de quem ama sem desejar a criação de qualquer problema, e lutei comigo mesmo, até que o meu avô Totônio e o meu tio Pedro conversassem comigo de homens para homem.
Busquei uns restos de fortaleza que me fugiam do espírito, e reajustei-me. Fiz-me de valoroso para conseguir reaproximar-me de casa e, com isso, ensaiando uma energia que era simplesmente de araque, fui vê-la em nosso recanto.
Mãe, agora, vejo claro. Muito obrigado por sua coragem. Os seus pensamentos promoviam o apoio em favor de Cida e da nossa pequena, e o seu exemplo me fortaleceu.
A coragem é também contagiosa. Envergonhei-me de haver chorado para me lançar ao trabalho.
Graças a Deus, o seu plano foi realizado. A nossa querida Aparecida regressou aos pais com uma casa própria, e Deus permitiu igualmente que um companheiro a desposasse.
Ficamos nós dois de novo, intimamente associados. Então, querida mãe, é que reconheci que nos pertencemos, de todo, um ao outro.
O Toni e o Neto, a Dídi e a Lourdinha, irmãos que estimo tanto, se acham em seu lugares próprios, nos compromissos que abraçaram.
De minha parte, notei que o seu coração querido é a minha pousada e o meu porto, no rio tumultuado em que a gente vai viajando…
Felizmente, com a sua força, voltou a minha resistência, ao modo da luz de uma vela acesa quando inflama uma vela apagada, e tomo novos rumos com o seu coração querido na marcha em direção ao futuro.
Se procurei reencontrá-la, você igualmente não acreditou na morte e veio ao meu encontro. Sei quantas dificuldades você atravessou para vencer as ilusões dos sentidos físicos e agora, de corações unidos, sempre que possível, retemperamos energias na união espiritual.
Com o amor, não há quem se veja derrotado e, por isso, amparado em seu carinho, prosseguirei melhorando.
O avô Totônio, o tio Pedro, a vovó Joaquina, a Madre Natividade — amiga de meu avô que fiquei conhecendo —, e meu pai Bernardino, tanto quanto possível, me auxiliam e, com isso, querida mãe, nós dois prosseguimos viajando até que, um dia, possamos ficar juntos para sempre.
A vozinha está aí, a tia Idinha, o tio Weaker e tanta gente boa me permitem escrever… Perdoem-me todos se tanto me estendo… Um encontro entre mãe e filho faz sinal vermelho em qualquer trânsito. Todos me desculparão pelas minhas alegrias e por minhas lágrimas de agradecimento a Deus!
Mãe, não nos separaremos. Continue trabalhando sempre. Agradeço quanto fez e fará por nossa estimada Cida que hoje é para mim uma irmã do coração.
Peço dizer à nossa Ana que muitas vezes vou vê-la no Adauto, e também à Lourdinha visito sempre, na tarefa a que ela se dedicou no auxílio às crianças em dificuldade.
Ao nosso Helder e ao nosso prezado amigo Peixoto, sem me esquecer da nossa estimada Rosa, os meus agradecimentos que se estendem ao nosso Lênio, amigo que me auxiliou providencialmente nas horas mais decisivas do meu caminho.
Mamãe, com a nossa querida vozinha, receba todo o meu carinho de sempre.
Aqui fico a me lembrar de nossas alegrias e de nossos apertos. Tenho saudades da nossa condução de trabalho, em que nós dois procurávamos com tantos obstáculos a conquista do metal para as despesas, tenho saudades dos nossos segredos para que os irmãos e a vozinha não soubessem que as dificuldades eram tantas, e penso na bondade de Deus quando me recordo de que todas as provas foram vencidas.
Mãe, uma vez mais, beijo o seu rosto. Perdoe-me o trabalho que dei ao seu amor, e receba todo o coração, repleto de esperança, do seu filho, sempre o seu
Bernardino Victoi Júnior
Na tarde de 30 de março de 1980, em Uberaba, Minas, graças à gentileza do casal amigo Sr. Weaker-D. Zilda Batista, entrevistamos a Sra. Maria Costa Victoi, residente em Goiânia — Rua 5-A, nº 95, Setor Aeroporto —, sobre a mensagem que ela recebera de seu filho Juninho — Bernardino Victoi Júnior —, por intermédio do médium Francisco Cândido Xavier, no Grupo Espírita da Prece, nove dias antes, a que demos o título de “Sou eu mesmo”.
Por itens, vejamos o que conseguimos apurar da referida entrevista.
1 — Juninho nasceu em Anápolis, Estado de Goiás, a 27 de março de 1957, e desencarnou na capital do mesmo Estado — Goiânia —, em consequência de acidente com moto, a 25 de dezembro de 1978.
Seu pai, Sr. Bernardino Victoi, que nasceu em Catalão (GO), a 2 de agosto de 1912, desencarnou na capital do Paraná — Curitiba —, a 18 de março de 1968, vítima de insuficiência renal.
Tendo feito somente o Curso Ginasial, Juninho chegou a trabalhar com a genitora numa firma ligada ao comércio de carnes, e, no dia em que foi sepultado 26 de dezembro —, de passagem de ônibus comprada, deveria retornar a São Paulo a fim de concluir a documentação necessária para ingressar na aviação civil.
Era espírita convicto, e, segundo as informações dos familiares, lia os volumes da mediunidade de Chico Xavier com grande atenção.
2 — Vozinha: Trata-se de D. Ana Maria Costa, avó materna, residente em Goiânia. Nasceu a 6 de janeiro de 1901.
3 — “Quando o carro em movimento me tocou a peça quase parada, recordo o salto obrigatório em que me vi despejado, quase em voo cego, ignorando onde bateria meu corpo. / Uma pancada de cabeça me tonteou…”
Tanto a referência ao “Natal de choque e de lágrimas”, quanto os presentes detalhes do quase voo cego e do traumatismo cranioencefálico são muito importantes do ponto de vista de autenticidade mediúnica.
Com efeito, segundo as pessoas que testemunharam o acidente, Juninho aguardava a abertura do sinal verde, no semáforo perto da CELG — Centrais Elétricas de Goiânia —, na Avenida Anhanguera, quando o carro dirigido por uma senhora abalroou-lhe a moto, jogando-o longe, indo-lhe a cabeça de encontro ao meio-fio.
4 — “Entretanto, joguei meus impulsos interiores para a sua imagem e para Cida, junto de quem poderia eu valer alguma cousa…”
O autor Espiritual se refere à sua ex-esposa D. Maria Aparecida, que se casou cerca de oito meses após a desencarnação de Victoi Júnior, e se encontrava grávida por ocasião de nossa entrevista.
Conforme nos informou D. Maria, quando Juninho retomou de São Paulo, a 23-12-78, ao perceber que a esposa se encontrava com um anel junto da aliança no dedo, teria lhe perguntado:
— Você com anel de viúva?
Dois dias depois, sem que conscientemente buscasse a desencarnação, penetrou-lhe os domínios.
5 — “Percebi que a sua presença se comunicava comigo, ouvia a sua voz e pressenti o seu espanto, e quando as suas mãos me tatearam de leve, esforcei-me por dizer que a esperava…/ Reuni todas as minhas energias e tentei mobilizar a boca de modo a falar com clareza, no entanto, apenas pude emitir um grito que se fazia muito mais um gemido de dor, que a sua bondade compreendeu…/ Num gemido só, eu disse tudo o que ansiava transmitir-lhe…”
Eis, leitor amigo, palavra a palavra, o que nos disse a entrevistada sobre estes expressivos trechos da mensagem:
— Aí está, meu caro doutor, revelado o segredo que existia entre mim e o Juninho que somente a abençoada mediunidade de Chico Xavier poderia trazer a público.
Nunca havia dito isso para ninguém: na ambulância, quando segurava o frasco de sangue, eu tinha a nítida impressão de que ele — Juninho — estivesse dormindo.
Sem que saiba explicar como foi direito, senti um desfalecimento e logo estávamos — o Juninho alegre, bonito, com os cabelos esvoaçantes, um companheiro todo de branco e eu — numa embarcação belíssima. O ar era tão puro, tudo tão belo!
Num lapso de segundos, voltei a mim e ouvi o gemido que escapou dos lábios mudos do meu filho.
Percebi — e com que fortaleza de ânimo! — que ele havia se desligado do corpo.
Daí para cá, eu não tive tristeza e nem ansiedades aflitivas, porque o vejo e lhe sinto a presença.
Noto, perfeitamente, que ele me beija e me abraça, repetindo sempre: — Paciência, mãezinha! A senhora vai vencer!
6 — “Percebi que a Dídi nos acompanhava, e que estávamos reunidos num carro que somente depois vim a saber tratar-se da ambulância, em que descansei num sono realmente de morte.”
Sobre a ambulância, a que Juninho novamente alude linhas abaixo, confrontemos o item anterior.
Quanto à Dídi, trata-se da irmã Ana Maria Costa Victoi, psicóloga, residente em Goiânia.
Pormenor seriíssimo este: somente Juninho a chamava assim — Dídi e não Didi — e ninguém mais.
Eram irmãos com pouca diferença de idade.
7 — “Mãe querida, tantas lutas vivemos juntos!…” Victoi Júnior, desde criança, se revelou trabalha
dor, calado, de semblante tristonho, desapegado dos bens materiais.
Era o companheiro inseparável de sua mãezinha nos trabalhos pesados, principalmente carroçando, e sempre disposto a qualquer tarefa braçal com a qual viesse a se defrontar.
8 — Vó Bernardina: Trata-se da bisavó paterna — D. Bernardina Rosa de Jesus, que nasceu em Catalão (GO), a 13 de abril de 1870, e desencarnou em Corumbaíba, no mesmo Estado, a 11 de maio de 1935.
9 — Fabiana: Filha adotiva — Fabiana de Almeida, na época da entrevista, com cinco anos de idade.
10 — “Reconheci que devia ter viajado ao encontro do Lênio e que fora arrebatado por outras imposições.” Com efeito, um pouco deprimido, tencionava Victoi Júnior fazer uma consulta com o seu primo Dr. Weaker Lênio Costa Batista.
11 — “… e lutei comigo mesmo, até que o meu avô Totônio e o meu tio Pedro conversassem comigo de homens para homem.”
Trata-se de:
a) Avô Totônio: Sr. Antônio Salvino da Costa Sobrinho, avô materno, que nasceu em Catalão (GO), a 12 de junho de 1900, e desencarnou no Município de Caldas Novas (GO), a 9 de julho de 1938;
b) tio Pedro: Sr. Pedro Salviano da Costa, tio materno, desencarnado em acidente — arrastado pelo animal que cavalgava —, em 1934, em Catalão.
12 — “A nossa querida Aparecida regressou aos pais com uma casa própria, e Deus permitiu igualmente que um companheiro a desposasse.” Sobre o assunto de novo casamento do cônjuge que continua no plano denso da matéria, temos em Doutrina Espírita material valioso a estudar.
13 — “O Toni e o Neto, a Dídi e a Lourdinha, irmãos que estimo tanto, se acham em seus lugares próprios, nos compromissos que abraçaram.” — Juninho se refere aos seus irmãos, todos residentes em Goiânia:
a) Toni: Antônio Alberto Victoi, o primogênito da casa;
b) Neto: Apelido do Dr. Eurípedes Dolival Victoi, distinto advogado;
c) Dídi: Cf. item 6, acima;
d) Lourdinha: D. Maria de Lourdes Victoi Faverett, dedicada professora para excepcionais, na Escola Pestalozzi.
14 — “Com amor, não há quem se veja derrotado e, por isso, amparado em seu carinho, prosseguirei melhorando.”
Que cada um de nós possa, com urgência, erradicar qualquer traço de ódio que, conscientemente, venha a albergar dentro de si.
Com o serviço infatigável no bem, a pouco e pouco, todos conseguimos nos despojar de quaisquer tendências inferiores que, inconscientemente, remanescem conosco de vidas pregressas.
15 — “O avô Totônio, o tio Pedro, a vovó Joaquina, a Madre Natividade e meu pai Bernardino.” — Remetendo o leitor ao item 11 — a e b — acima, completemos os seguintes dados:
a) vovó Joaquina: Bisavó materna, D. Joaquina Ferreira nasceu e desencarnou em Catalão (GO);
b) Madre Natividade: Amiga da infância do avô Totônio, em Catalão.
16 — “A vozinha está aí, a tia Idinha, o tio Weaker e tanta gente boa me permitem escrever…” — Sobre a vozinha, consultemos o , acima;
a) tia Idinha: D. Zilda Costa Batista, tia materna, distinta poetisa, residente em Uberaba;
b) tio Weaker: Sr. Weaker Batista, marido de D. Zilda e dedicado companheiro do médium Xavier, nas tarefas do Grupo Espírita da Prece.
17 — “Um encontro entre mãe e filho faz sinal vermelho em qualquer trânsito.” — Para quem veio a desencarnar em acidente de trânsito, belíssima imagem esta do sinal vermelho.
18 — “No Adauto”: Hospital Adauto Botelho, de Goiânia.
19 — “Ao nosso Helder e ao nosso prezado amigo Peixoto, sem me esquecer da nossa estimada Rosa, os meus agradecimentos que se estendem ao nosso Lênio, amigo que me auxiliou providencialmente nas horas mais decisivas do meu caminho.”
a) Helder: Trata-se do cunhado Sr. Helder Teixeira Favarett (marido de D. Lourdinha), residente em Goiânia;
b) Peixoto: Sr. José Basílio Peixoto, amigo da família;
c) Rosa: D. Rosa Maria Barros 5ictoi, distinta cunhada;
d) Lênio: Cf. , acima.
20 — Tenho saudades da nossa condução de trabalho…” — D. Maria confirmou-nos que, por muitos anos, ela e o filho — o inesquecível Juninho — tiveram oportunidade de, juntos, trabalharem nos serviços mais rudes, buscando a própria sobrevivência, com alegria e sem nenhuma revolta, principalmente quando conduziam uma carroça puxada por um só cavalo.
“Que tempo maravilhoso aquele nosso, meu Deus!” — acrescentou a nossa entrevistada, com os olhos úmidos de lágrimas.
21 — Tencionávamos encerrar com o parágrafo anterior o presente capítulo.
Entretanto, apreciando o relato das visões e sonhos de D. Maria, não tivemos outra alternativa senão resumir algumas dessas experiências fora do corpo, para edificação nossa e de nossos leitores.
É o que faremos, em seguida, por ordem numérica.
1 — Na hora da recepção da mensagem:
Durante a psicografia da página mediúnica, D: Maria como que em desdobramento espiritual, presenciou um belo quadro, do qual nos fez, no seu dizer, pálida descrição.
O médium Xavier encontrava-se a cerca de dois metros de altura do solo.
Juninho, vestido com uma camisa de cor azul clara, de pé, com a mão esquerda apoiada na mesa, ia ditando a mensagem e, de vez em quando, olhava para a mãezinha e sorria.
Atrás do Chico e dele — Juninho —, uma roda de luz e uma entidade espiritual que tomava a forma de uma santa da Igreja Católica com a mão esquerda apoiada no ombro do médium de Emmanuel, e a outra estendida para a assistência.
Estrelas lucilavam, emitindo luz de indescritível beleza.
Quando foi lida a mensagem, D. Maria percebeu a Avó Bernardina perto do neto querido, como que cumprimentando-o pela oportunidade de comunicar-se com os que ficaram no Plano Terrestre.
2 — O sobrado de flores:
Local de vegetação luxuriante e de um verde originalíssimo, com as folhagens a exalarem perfume incomparável.
Sala ampla. Uma senhora simpática e alegre, com duas meninas vestidas de branco e com fita branca nos cabelos, arrumando comprida mesa, em cuja extremidade Juninho manuseava uns livros.
Todos retribuíram os cumprimentos da visitante, mas continuaram trabalhando.
De ampla janela do sobrado, vislumbrava-se um pomar todo florido e perfumado, sobre o qual Victoi Júnior dava à genitora explicações assaz convincentes.
3 — Lá o dia estava muito claro:
“Às quatro horas da tarde, eu estava muito aflita, com saudades, tristeza, chorando, com um nó na garganta que quase me levava ao desespero.
Encostei a cabeça no travesseiro, tentando esquecer tudo o que aconteceu desde que o meu filho retomou ao Mundo Espiritual.
Vi o Juninho no alto de um belo jardim, de um verde que não existe outro igual na Terra. Lá o dia estava muito claro.
Juninho ia andando, olhava para trás e sorria. Andava mais um pouco, olhava e sorria.
Voltei a mim como que de um desmaio, alegre por compreender a beleza do mundo em que o meu filho passara a viver.”
4 — Abraçando o irmão Neto:
“Certa ocasião, Juninho e Neto tiveram uma pequena discussão.
Passou o tempo, e Juninho desencarnou.
Em sonho, Neto e eu fomos visitá-lo em bela casa de alpendre amplo, onde nos sentamos ao seu lado. Juninho se levantou e se dirigindo ao Neto, com
semblante amorável, lhe disse:
— Neto, eu quero te abraçar e te pedir perdão pelo nosso desentendimento.
E abraçou o irmão, com muito amor.”
5 — Nos demais episódios oníricos ou de experiência fora do corpo físico, em número de dezesseis, D. Maria verificou que o seu filho vem trabalhando no socorro a crianças, jovens e adultos mais necessitados, sempre com outros mensageiros da Espiritualidade Maior, servindo-se de uma espécie de carro transparente, que se locomove no ar, sem um encarregado da pilotagem; que ele — Juninho — vem se destacando nas tarefas que abraçou, em nome de Jesus, com muito mérito no estudo e no trabalho; que o vê em companhia dos familiares citados na mensagem; que nove dias após a sua desencarnação, quando, em casa, orava, na hora do Ângelus, viu-o entrar sorrindo, “com aqueles cabelos bonitos”, contagiando-a com alegria celeste; que, finalmente, “em sonho, eu fui ao lugar em que o Juninho estava morando. Era uma sala grande, parecia uma biblioteca, mas não entendi bem como era o trabalho dele.
Eu lhe disse:
— Juninho, eu vim buscar você. Os seus irmãos estão todos reunidos, à sua espera, e você virá comigo. Ele me respondeu:
— Mãe, eu não posso ir! Eu não morri! Estou vivo, mas não posso voltar!
Eu insisti:
— Sei que você está vivo, mas vamos embora! Percebendo que eu não me conformava com a realidade da aparente separação, ele me explicou, com mais clareza, como sempre num tom amoroso e afável:
— Mãe, se eu voltasse para viver lá, agora, eu não seria mais seu filho, e nem me chamaria Júnior. Iria ter outros pais e outro nome. Não pense, Mãe, que eu morri! EU ESTOU VIVO!”
Ao pronunciar estas últimas palavras, enternecida, com os olhos brilhando de jubilosa emoção, D. Maria nos perguntou:
— Meu caro amigo, acha o senhor que depois de tantas provas de sobrevivência do meu filho após a morte, eu precisarei ficar ainda chorando de angústia? Para que se ele sempre está perto de mim, me consolando e me alegrando, me dando forças para continuar vivendo?
Guardando respeitoso silêncio, restou-nos apenas balbuciar, mentalmente:
— Ave, Allan Kardec! Os que palmilhamos os caminhos da Eternidade te saudamos e glorificamos para sempre!
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