Notáveis Reportagens com Chico Xavier

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Capítulo XXXVIII

“A mulher não precisa masculinizar-se e sim educar-se”

O feminismo em face do código transitório dos homens — As desigualdades sociais — A evolução dos povos e de seus códigos — Livre-arbítrio — Só é criminoso quem quer — Mais três respostas de Emmanuel


PEDRO LEOPOLDO, 11 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — O feminismo, logo se vê, não podia escapar às cogitações dos consulentes de Chico Xavier. Não fosse essa uma das maiores preocupações do próprio século.

As indagações que surgem, a respeito, do seio da correspondência, são várias. Há uma, porém que constitui, daquelas, uma síntese:

Qual a opinião dos Espíritos sobre o feminismo?

Simples, direta, sem malícia nem animosidade.

E assim também é a resposta dada pelo guia e protetor do médium.


Contra a masculinização espetaculosa


Na resposta, não está explícito propriamente um pronunciamento geral dos “Espíritos”, como pede a pergunta. Como, porém, o guia não faz restrição alguma às suas palavras, parece-nos que podemos aceitá-las como um ponto de vista coletivo. E este, como se verá, não é de todo favorável ao sentido tomado pelas chamadas conquistas feministas no panorama contemporâneo.

Eis como pensam os Espíritos sobre essa questão, segundo a resposta assinada por Emmanuel:


— A mulher deve colaborar com o homem, de forma admissível ao seu sexo, nas variadas esferas de sua atividade. Mas não compreendemos como legítimo esse movimento de masculinização espetaculosa, preconizada por inúmeros orientadores do mau feminismo, os quais iludem a mulher quanto às suas obrigações no seio da coletividade.

O homem e a mulher, dependendo um do outro, são elementos que se completam para a consecução da obra divina.


Não precisa masculinizar-se e, sim, educar-se


A mulher não precisa masculinizar-se. Precisa educar-se, dentro da sua feminilidade.

O problema do feminismo não é o da exclusão da dependência da mulher; deve ser o da compreensão dos seus grandes deveres. Dentro da natureza, as linhas determinadas pelos desígnios insondáveis de Deus não se mudam sob a influência do limitado arbítrio humano; e a mulher não pode transformar o complexo estrutural do seu organismo.


Os deveres mais sagrados


Homem e mulher, cada um deles, tem obrigações nobilíssimas a cumprir nas posições diferentes em que foram colocados dentro do planeta. Aliás, na humanidade, a mulher, por sua profunda capacidade receptora, guarda os deveres mais sagrados diante das leis divinas.

Todas as questões feministas se reduzem a um problema de educação mais do que necessária.


Um problema que foge aos códigos transitórios dos homens


Neste século, as experimentações tocam ao auge. A mulher não podia escapar a essa onda de transições. Todavia, faz-se preciso conter o delírio, a alucinação de mentalidades apaixonadas, nos excessos de idealismo, e que se voltam para o campo da publicidade, falhas no conhecimento imprescindível das realidades da vida, sem saber o que desejam e sem nada trazer de melhor aos que se formam para as lutas da existência, intoxicando o espírito da juventude. As ideias são forças que, como a eletricidade, arruínam o que encontram na sua passagem, quando não são devidamente controladas. Toda a força necessita de educação para se expandir com benefícios.

O problema da mulher, antes de ser estudado, dentro dos códigos transitórios dos homens, precisa ser resolvido à luz do Evangelho. Emmanuel.

A evolução dos povos significa a evolução dos seus códigos

O que dissemos em relação ao feminismo, poderíamos repetir quanto às questões sociais em geral: as indagações são muitas, a respeito.

Uma dessas é a seguinte:

— “Que pensam os Espíritos das desigualdades sociais?”

A indagação é das que convidam aos debates longos e às demoradas dissertações.

Emmanuel, porém, vale-se aí, mais uma vez, do seu admirável poder de síntese para responder.:

— O problema das desigualdades sociais afronta os pensadores desde a aurora dos tempos. É preciso, contudo, considerar-se que, se a pobreza luta com infortúnios e adversidades, a riqueza e a autoridade implicam deveres muito sagrados, diante das leis humanas e divinas, dos quais decorrem responsabilidades temíveis para quantos não os saibam cumprir.


As classes existirão sempre — O dever de solidariedade


Em tese, as classes existiram e existirão sempre.

O que, porém, deve preocupar os sociólogos modernos é estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.


Medida importa pela evolução geral


A evolução dos povos significa a evolução de seus códigos. Cremos, portanto, que, em futuro próximo, os fenômenos sociais serão controlados com mais critério, na esfera da política administrativa como medida necessária imposta pela evolução geral.

Emmanuel.

O livre-arbítrio e a fatalidade

— “Está o homem subordinado ao livre-arbítrio ou à fatalidade?”

A essa pergunta assim respondeu Emmanuel:

— O homem está subordinado ao seu livre-arbítrio; mas sua existência está também submetida a determinadas circunstâncias de acordo com o mapa de seus serviços e provações na Terra, e delineado pela individualidade, em harmonia com as opiniões dos seus guias espirituais, antes da reencarnação.

As condições sociais, as moléstias, os ambientes viciosos, o cerco das tentações, os dissabores, são circunstâncias da existência do homem. Entre elas, porém, está a sua vontade soberana.

Pode nascer num ambiente de humildade e modéstia, procurando vencer pela perseverança no trabalho e triunfando das deficiências encontradas; pode suportar as enfermidades com serenidade de ânimo e resignação; pode ser tentado de todas as maneiras, mas só se tomará um criminoso se quiser.


O elemento dominante


Na esfera individual o livre-arbítrio é, pois, o único elemento dominante. A existência de cada homem é resultante de seus atos e pensamentos.

O que se faz necessário é intensificar cada um sua educação pessoal. Um dos grandes erros do homem é não se conformar com sua situação de simples hóspede de um mundo que não lhe pertence.

Se reconhecesse o quanto é passageira sua permanência na Terra, evitaria a influência nefasta do egoísmo e não agrilhoaria o seu coração ao cárcere de desejos inconcebíveis, causas naturais de muitos de seus maiores sofrimentos.

Emmanuel

Clementino de Alencar


Essa reportagem foi publicada primeiramente em 1935 pela LAKE e é a 5ª da 3ª Parte do livro “”



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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