Novamente em Casa

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Capítulo XIII

Meire Adriana Agnello

Filha de Domingos Agnello, genitor que perdera aos cinco anos de idade, e de Adair Fabrini Jaconi, Meirinha ganhou um pai adotivo, Douglas Jaconi, a quem considerava pai pelo coração.

Juntamente com a irmã de criação, Maria de Fátima, Meire Adriana desencarnou em acidente de moto, aos 18 anos; Maria de Fátima contava 14.

Era aluna da oitava série do Colégio Orozimbo Maia em Campinas, e, além de Maria de Fátima, irmã adotiva, compartilhavam-lhe o ambiente doméstico, os seguintes irmãos: Marcos Alberto, Márcia Aladir, Mércia Anair, Douglas Júnior e Mariela Adair.




DEPOIMENTO MATERNO


Após a partida de Meirinha só nos restava a esperança de um dia poder chegar até Chico Xavier, pois, ele representava para nós um bálsamo consolador.

Após recados dos Benfeitores a respeito de minha filha, finalmente a l3 de novembro de 1982, tive a felicidade (que felicidade!) de receber a tão esperada comunicação da Meire.

Que alegria, ficamos mais fortes, mais esperançosos, mais certos de que a vida realmente continua, e de que ela, Meirinha, está sempre ao nosso lado.





Querida mãezinha Adair, estou a reuni-la com o meu pai pelo coração, num abraço que a saudade domina.

As dificuldades para sua filha e para a nossa Fátima, a outra filha que Deus lhe deu, já passaram.

Mãe, entendemos tudo. Quando a máquina enorme nos pareceu insegura, ameaçando-nos, fizemos força para ganhar distância, mas era tarde. Fomos atiradas cada uma de nós por sua vez, a grande distância, mas no íntimo estávamos conscientes de que a ocorrência não fora premeditada.

Instintivamente, sabíamos que o motorista fizera o possível para salvaguardar-nos, mas quem pode no mundo prever o inevitável?

Aquilo tudo deveria ser o que foi. Hoje, sabemos que certas leis funcionam sem que lhes conheçamos o mecanismo.

E quando acordei em outro lar, em cuja intimidade Fátima e eu encontramos a bondade de vó Emilia e do nosso querido Alberto, além da proteção de meu pai Domingos, fiquei a pensar nas borboletas que o meu sapato esmagava sem querer, em minhas caminhadas, com o peso do meu corpo.

Quantas vezes isso aconteceu comigo, não sei. As companheiras aladas se curvavam diante de mim, com humildade, como se esperassem a minha compreensão, a fim de poupá-las e quando menos refletia nisso, eis que o meu pé calçado as deixava sem vida.

O ônibus ou a máquina que nos apanhou de assalto, atirando-nos para a morte, não seria um sapato da vida amassando conosco, as duas irmãs, semelhantes a borboletas, aguardando a preservação que não pôde vir?

Agora com mais calma posso formular estes raciocínios e vir até aqui em companhia da vó Emilia pedir-lhe resignação e valor suficientes para aguentar sem reclamações o que aconteceu.

A verdade, mamãe, é que estamos vivendo de outra forma. A aceitação do acontecimento, a passagem pelos tratamentos difíceis não nos vieram espontaneamente; choramos e queríamos gritar por aquilo que acreditávamos fosse nosso direito de viver como queríamos; no entanto, os diálogos da vovó Emilia foram seguros.

Passamos a perceber que estávamos armadas de boas notas. Enquanto tanta gente fere os pés descalços nos espinhos das estradas, reconhecemos que estávamos a procura de conhecimentos superiores de escola, quando há tantas pessoas que morrem suspirando pelo alfabeto e hoje posso dizer-lhes que estamos conformadas no bom sentido, resignadas para entendermos a vida com mais altura de visão e dispostas a esforçar-nos para novos desenvolvimentos aqui.

Por esta razão, rogo-lhe serenidade. Graças a Deus você foi e será sempre valorosa e podemos aguardar de suas atitudes a fé nas leis do Supremo Pai, sem a qual a pessoa na Terra estará sempre insegura e abatida.

Por favor, desejamos rogar a sua proteção para que ninguém se faça acusador de alguém e esperamos que o acidente fique na coleção das experiências que surgem na existência mais para serem esquecidas do que para nos serem úteis.

E não deixe a tristeza corroer os seus pensamentos, lembre-se dos outros filhos que ficaram, Marcos, Márcia, Mércia, Mariela e o nosso querido Douglas estão aí reclamando os seus carinhos e a sua vigilância de mãe.

Recorde-nos em suas preces, porque isto nos faz muito bem, mas não permita que alguém nos considere vítimas, porque não nos alta amparo da Providência Divina.

Chorar a gente sempre encontra esse ou aquele motivo para lágrimas, no entanto, se contarmos as nossas alegrias e os nossos sorrisos na vida, as lágrimas deixam de existir.

Mãezinha, não posso ser mais explícita. Se cartas na Terra devem ser curtas para não furtarem tempo, imagine como devem ser resumidas as notícias que se transmitem de um mundo para outro.

Fiquemos concentradas no amor que é o nosso e entreguemo-nos à Bondade Infinita dos Céus. A nossa Fátima virá igualmente um dia para escrever-lhes o que sente e pensa em nossa nova situação.

E, confiando em seu equilíbrio e em seu entendimento, com lembranças aos irmãos todos e um beijo em nosso Douglas, envolvo o meu pai pelo coração e você mesma com todo o meu carinho e reconhecimento.

E, peço-lhe crer na presença constante e na afeição sem limites da sua filha, sempre mais sua filha do coração.


Meirinha

13/11/1982



Emilia Jacometti Fachinelli, bisavó materna, desencarnada em 1947, Alberto Fabrini, avô materno, falecido em 1981 e Domingos Agnello, pai da Meirinha que faleceu quando ela tinha cinco anos.


Caio Ramacciotti


Meirinha
Francisco Cândido Xavier

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