O Espírito de Cornélio Pires

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Capítulo I

Despedida de Vital


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Lua cheia… Na choça a que se apega,

Morre Vital, velhinho, olhando o morro…

Por prece, escuta a arenga do cachorro,

Ganindo nas touceiras da macega.


Pobre amigo!… Agoniza sem socorro,

Chora lembrando o milho na moega…

Oitenta anos de lágrimas carrega

Na carcaça jogada ao chão sem forro.


Suando, enxerga um moço na soleira .

— “Eu sou leproso…” — avisa em voz rasteira,

Mas diz o moço, envolto em luz dourada:


— “Vital, eu sou Jesus! Venha comigo!…”

E o velho sai das chagas de mendigo

Para um carro de estrelas da alvorada.


Frases do jazigo escuro:

— Jaz aqui Gil de Muquém.

Era tão puro, tão puro,

Que não viveu com ninguém.


Li num sepulcro de pedra:

— Aqui jaz Maria Gaza.

Era mendiga na rua,

Com cinco milhões em casa.


Paixão que vem de outras vidas

Pede cuidado a quem ama.

Brasa guardada na cinza,

Soprada, crepita em chama.


Reencarnação!… Vejo agora

O suplício de João Nava…

Renasceu filho da nora,

Mulher que ele detestava.




[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.

“Despedida de Vital” é a 54ª lição do livro “Antologia Mediúnica do Natal”, editado pela FEB em 1966.]



Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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