O Espírito de Cornélio Pires

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Capítulo V
Ilustração tribal

A enxada


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Com febre alta, o velho Zé da Hora

Limpa a roça no Sítio da Chapada,

Treme, cai… De repente não vê nada,

Tudo escuro no campo, terra a fora.


Tanto tempo serviu . Mas Zé agora

Tem a cabeça branca e fatigada;

Morre o sol, vem a noite, e ao pé da enxada,

De mão no peito aflito, reza e chora.


Zé larga o corpo e, Espírito liberto,

Pede luz e eis que a luz surge de perto;

Tropeçando, levanta-se… Quer vê-la…


Mas cai de novo em pranto de alegria:

A enxada do seu pão de cada dia

Brilhava convertida numa estrela.


Inveja em torno? Desculpa.

Todo o despeito de alguém

É quase sempre louvor

Aquilo que não se tem.


A luta pior da vida

É aquela de se manter

Uma luta com quem luta

Sem ter nada que perder.


Independência real

Tem muito que obedecer.

Quem deseje liberdade

Que se escravize ao dever.


Muito herói parece quadro

Composto de traço incerto

Que só pode ser louvado

Se não é visto de perto.




[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.]



Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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