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Capítulo II

Opúsculo 2


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PARA VOCÊS

Meus filhos, não somos peixes

E a comida não é isca.

Leiamos juntos a história

Do pobre Juca Lambisca.

Casimiro Cunha

Uberaba, 17 de maio de 1961.



Rabugento e malcriado,

Esperto como faísca,

Era um menino guloso

O nosso Juca Lambisca.


Toda hora na despensa,

Pé macio e mão ligeira,

O maroto parecia

Um rato na prateleira.


No instante das refeições,

Afligindo os próprios pais,

Ele comia depressa

Repetindo: — Quero mais!


Gritava: — Quero mais peixe!

Quero mais leite e mais pão!

Quero mais sopa no prato,

Mais arroz e mais feijão!


D. Nicota falava,

Ao vê-lo sobre o pudim:

— Meu filho, escute! Você

Não deve comer assim.


Mas o Juca respondão

Gritava, erguendo a colher:

— A senhora nada sabe;

Eu como quanto eu quiser.


Na escola, Juca furtava

Pastéis, bananas, pepinos,

Tomando à força a merenda

Das mãos dos outros meninos.


A vida do nosso Juca

Era comer e comer…

Mas foi ficando pesado,

E a barriguinha a crescer…


Gabriela, a companheira

Da cozinha e do quintal,

Falava, triste: — Ah! meu Juca,

A sua vida vai mal!


Não valiam bons conselhos

Do papai ou da vovó,

Fugia de todo estudo,

Queria a panela só…


Espíritos benfeitores,

No lar em prece, ao seu lado,

Preveniam, caridosos:

— Meu filho, tenha cuidado.


Mas, depois das orações,

O nosso Juca, sem fé,

Comia restos de prato

Na terrina ou no cuité.


A todo instante aumentava

A grande comedoria,

Sujava a cozinha e a copa,

Procurando papa fria.


Um dia, caiu doente,

E o doutor João do Sobrado

Receitou: — Este garoto

Precisa comer regrado.


Mas alta noite ele foge…

E, mais tarde, a Gabriela

Viu que o Juca estava morto

Debruçado na gamela.


Muito triste o caso dele…

Coitado? Embora gordinho,

O Juca morreu cansado

De tanto comer toucinho.


Casimiro Cunha


Desencarnado, o Lambisca,

Na vida espiritual,

Estava do mesmo jeito

E o barrigão tal e qual.


Acorda num campo lindo …

E agora, que não mais dorme,

Vê muita gente a sorrir

Por vê-lo de pança enorme.


Tem a impressão de trazer

O peso de um grande bumbo.

Quer levantar-se, porém

A pança cai como chumbo.


Juca xinga nomes feios…

Faz birra, choro e escarcéu

E pede com gritaria:

— Eu quero subir ao Céu!


Deu-lhe as mãos e disse: — Filho,

Levante-se, cale e ande…

Ninguém sobe à Luz Divina

Com barriga assim tão grande…


Mas o Juca, revoltado,

Ergue os punhos pesadões

Contra tudo e contra todos,

A murros e pescoções.


Depois berra: — Esta barriga

É grandona, mas é minha!

Eu quero comer no tacho,

Quero morar na cozinha!


Multidões surgem a ver

O menino barulhento.

E o Juca, com pontapés,

Aumentava o movimento.


Um sábio aparece e fala:

— O Lambisca não regula,

Enlouqueceu de repente

De tanto cair na gula.


Foi preciso, então, prendê-lo…

Amarrado e furioso,

O pequeno parecia

Um cachorrinho raivoso.


Os Protetores, após.

Guardá-lo em corda segura,

Oravam, dando-lhe passes,

Com bondade e com doçura…


Viu-se logo o olhar do Juca

Fazer-se brando, mais brando…

O menino foi dormindo

E a barriga foi murchando…


Os amigos decidiram,

Assim como um grande povo,

Que o Juca a fim de curar-se

Devia nascer de novo.


Lambisca a dormir, coitado,

Ele — tão forte e mandão,

Renasceu, muito pequeno,

Um simples bebê chorão.


E para esquecer a gula

Cresceu doente e magrinho…

Só bebia caldo leve,

Sem feijão e sem toucinho.


Casimiro Cunha

Anexo da Editora


Dentro das tarefas que o Espiritismo nos impõe, uma delas avulta pela importância e significação com que se destaca no presente para a garantia do futuro de nosso trabalho regenerativo e santificante.

Referimo-nos à imprescindível assistência espiritual que a criança exige de nós, a fim de que não estejamos descuidados no erguimento das colunas vivas do Reino do Senhor, na Terra.

Não levantaremos um edifício, sem assegurar a firmeza dos alicerces.

Não escreveremos um livro, sem antes penetrar o sentido do alfabeto.

Não chegaremos a produzir uma sinfonia, sem abordar os segredos primários das notas simples.

Não colheremos em seara feliz, sem sacrifícios na sementeira.

Como esperar o aprimoramento da humanidade, sem a melhoria do homem, e como aguardar o homem renovado sem o amparo à criança?

O menino de agora dominará depois.

Na urna do coração infantil, reside a decifração dos inquietantes enigmas da felicidade sobre o mundo.

Façamos de nossos templos de fé espírita-cristã não somente santuários de socorro às aflições e aos problemas da experiência humana, mas também lares de adestramento espiritual, com vistas à plantação do bem, onde nossos filhos encontrem a primeira escola de comunhão com o Senhor e com o próximo.

A recuperação da mente infantil para o equilíbrio da vida planetária é trabalho urgente e inadiável, que devemos executar, se nos propomos alcançar o porvir com a verdadeira regeneração.

Na criança, ergue-se o amanhã.

Talvez, por isso mesmo, à frente da multidão aflita, proclamou o nosso Divino Mestre: — Deixai vir a mim os pequeninos… (Mt 19:14)

Dirijamo-nos para o Cristo, conduzindo conosco os tenros corações das criancinhas e, mais cedo que possamos esperar, a Terra encontrará o caminho glorioso da paz imperecível.


Emmanuel


Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.


Página recebida pelo médium Waldo Vieira.


Texto publicado nas revistas Reformador, outubro 1953, p. 229 e Brasil espírita, janeiro 1953, p. 4, com a diferença na expressão experiência humana do , para madureza humana, que consideramos inadequada no parágrafo citado.



Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier

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Mateus 19:14

Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus.

mt 19:14
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