Dois Maiores Amores, Os

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Capítulo IV

Página de amor


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Mãezinha querida. Volto hoje a buscar-te.

Quisera trazer-te flores que te mostrassem toda a extensão do meu afeto, mas, acima de tudo, venho agradecer-te o dilúvio das pétalas de amor com que me alentaste a vida.

Desejara oferecer-te as pérolas mais lindas do mundo significando gratidão, entretanto, penso no tesouro de lágrimas que a minha experiência te custou e devo rejubilar-me com o privilégio de fitar-te simplesmente.

Sei agora quanto te doeram os meus anseios de liberdade.

Ouvi conceitos diversos, induzindo-me à independência e acreditei, um dia, que a desvinculação se baseasse na necessidade de romper com todas as forças que me estruturaram a existência. E porque ninguém me quis tanto quanto me queres, concentrei sobre ti os meus impulsos de agressividade inconsciente.

Sonhei com a emancipação, ignorando como escolher os meios de conquistá-la e acusei-te.

Disse-te que aspirava a caminhar com a minha própria autenticidade, aleguei que me prendias, que o teu apego me torturava e que o mundo me fizera livre.

Ouviste-me em silêncio e, enquanto as minhas frases contundentes te afligiam, rogavas a Deus me abençoasse, ante os novos caminhos.

Esqueci-me de que precisavas amar-me quase até a loucura para suportar-me, por tanto tempo, nos próprios braços, dia por dia, com abnegação e renúncia, até que eu pudesse adquirir a liberdade que hoje desfruto, até mesmo para ferir-te!… Tudo esqueci, no entanto, o mundo, por onde andei, me ensinou a perceber quanto me amas.

Nada vi na Terra que se parecesse contigo, que te alquebraste alegremente, a fim de que eu vivesse e que te apagaste de modo a cercar-me constantemente de luz.

Hoje volto a ver-te para sentir Deus mais perto. Transformei-me, mãezinha!…

O tempo me renovou, entretanto, sinto imensas saudades de teu carinho.

Cura-me o cansaço com as tuas palavras de compreensão, ameniza o rigor das lutas que carrego com o teu bálsamo de bondade e perdoa-me o pranto de alegria em que se me afoga o pensamento, ao pedir-te, de novo, esperança e consolo.

Agasalha-me o coração em teu coração e, guardando-me no colo, deixa que eu te beije com a ternura da infância, enquanto me abraças para repetir-me, outra vez:

— Deus te abençoe!… Deus te faça feliz!




Meimei
Francisco Cândido Xavier

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