Palavras Sublimes

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Capítulo XXXVIII

Da humanidade terrestre


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O sábio instrutor terminara sua exposição de princípios, esclarecendo os Espíritos generosos designados para missões de amor na face da Terra.

Os ouvintes revelavam no olhar profunda gratidão pelos seus conceitos divinos, que traduziam formosas sínteses da verdade. Concluindo as elucidações, na paisagem clara e alegre, falou mais ou menos nestes termos, com bondade e brandura:

— Havendo terminado a tarefa, depois de esclarecer-vos sobre as condições do mundo, onde Deus vos reservou nobre esforço, antes de regressar à minha Esfera de ação desejaria receber as vossas dúvidas pequeninas.

Foi aí que uma das entidades presentes à reunião dirigiu-se ao mentor venerando, com interesse:

— Perdoareis a minha pergunta — disse ela, respeitosa — mas como venho de um planeta extremamente diverso da Terra, dadas as características que descrevestes, desejaria informações mais precisas com respeito aos seus habitantes. Estive com amigos que não me forneceram informes favoráveis. Entretanto, já saíram do orbe há mais de mil anos terrenos. O esforço para o qual me designaram não me atemoriza, porém desejo cercar-me de todos os elementos necessários à vitória justa do bem.

O respeitável instrutor meneou a cabeça, fez um gesto significativo e sentenciou:

— Antes de qualquer consideração, não deves temer coisa alguma, pois trabalharás sob a tutela de Jesus, cujo pulso invencível mantém ali a obra de Deus. No entanto, apreciando com verdade a situação dos habitantes daquele mundo, encontramos muita coisa interessante em sua psicologia. As informações que te foram fornecidas por amigos que partiram dali há mil anos ainda são muito atuais. Os homens mudaram muito pouco na expressão geral, com exceção daqueles que souberam acompanhar os passos do Cristo para a suprema salvação.

— Mas como deverei compreendê-los para lhes prodigalizar o bem possível? — interpelou o Espírito dedicado.

— São criaturas ainda semelhantes a crianças que transformam os assuntos mais sérios em brinquedos de morte.

— Sim, — considerou o missionário — disseram-me que por lá existem povos que se guerreiam uns aos outros, em lutas tremendas e seculares.

— Já não me refiro a essas expressões de selvageria — elucidou o mentor — porque esses movimentos dão uma nota de predominância dos instintos animais no planeta e falam do estado de ignorância daqueles que os provocam. Refiro-me aos próprios homens mais cultos que, em razão dessa circunstância, se encontram em condições de compreender mais amplamente os desígnios de Deus.

— De que morte falais então?

— Da morte dos erros. Na sua generalidade, os habitantes da Terra sempre se julgaram grandes senhores com ampla soberania, sem qualquer ligação com a bondade de Deus. Alunos humildes, arrastando-se entre os bancos da escola que a Providência Divina lhes concedeu, se Jesus lhes faculta o poder político para exercerem a clemência, não raro se transformam em tiranos mesquinhos; se lhes confere a guarda do ouro, são avarentos sórdidos e infelizes; se lhes dá dinheiro, além do necessário, fogem ao trabalho; se lhes concede dons de inteligência, querem a dominação intelectual com pretensas originalidades e extravagâncias balofas; se alcançam uma nota de beleza física, perdem-se pela vaidade; se recebem autoridade, são orgulhosos e cruéis. São fundamente contraditórios. Quando o Senhor lhes abre as portas da oportunidade, a fim de que ministrem seus bens, mandam com despotismo e violência; quando recebem o ensejo sagrado de obedecer, estão revoltados e desditosos. Dentro de tais anomalias, essas almas se conservam mortas na carne por milênios sucessivos.

— Afinal, são grandes infelizes… — murmurou o missionário, com admiração.

— Sim, pela própria incúria — esclareceu o sábio. Mas Deus, que é infinitamente bom, apesar de tudo, não os desampara. E deixando o olhar embeber-se nas luzes resplandecentes da paisagem, encerrou a sua alocução com esta palavra amorosa, tocada de santas experiências:

— Também já fui operário de Deus na Terra e lhe conheço os grandes obstáculos e desvios. É imprescindível toda a serenidade, onde os Espíritos egoístas estão mortos em reencarnações sucessivas e dolorosas, onde os orgulhosos humilham os dons superiores, onde os sensualistas se julgam donos para sempre de um corpo miserável. É preciso entrar aí não com o espírito de disputa, mas com imensa piedade. Somente com a herança do Cristo é possível o triunfo nas missões de estar com todos esses irmãos fracos e infortunados, fazendo o bem no plano de cada um, a favor do despertar da alma, para buscar Esferas mais altas!…

O missionário, que partia em demanda do orbe terrestre, mal perceptível, ao longe, envolvido num vasto lençol de fumo e pó, tomou a destra luminosa do mentor divino e osculou-a com veneração e reconhecimento. Em breves instantes, aqueles generosos amigos dos homens mergulhavam nos pesados fluidos de sua habitação cheia de sombras e amargas inquietudes.

Recebendo a lição no círculo humilde onde estaciona a minha alma, tudo vi, escutei e calei, a fim de transmitir a notícia aos interessados no momento oportuno.


(.Irmão X)


Reformador — Março de 1941.



Humberto de Campos
Francisco Cândido Xavier

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