Palavras Sublimes

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Capítulo XXXI

A tarefa que nos compete realizar


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Meus irmãos e meus amigos, muita paz vos desejo ao coração.

É aqui, no santuário de Ismael, onde repousam as esperanças evangélicas da Terra do Cruzeiro, que vos venho falar do instante que passa, doloroso em suas características tenebrosas, para relembrar a extensão e a complexidade dos nossos deveres ante a misericórdia e a sabedoria daquele que é a luz dos nossos corações.

Outros poderiam falar-vos melhor, todavia, eu vos falarei com o coração, esteriotipando nas palavras singelas que vos dirijo as nossas alegrias e as nossas sagradas esperanças.

Aqui ainda reside a paz do Evangelho, fugindo ao turbilhão dos ais apocalípticos do mundo. Ainda aqui está a fé erguendo os corações para Deus nas tarefas mais elevadas e mais puras. Lá fora, no velho continente, que presume guardar a direção de todos os progressos do mundo, é o movimento tumultuário das armas homicidas, semeando a morte, a ruína, a miséria e a desolação.

Nas frentes de batalha, como nas retaguardas indefesas, tombam os corações esfacelados, verificando a destruição de todas as realizações dos idealismos que nobilitam o pensamento humano. Ante as aves metálicas da morte, fremem de angústia os espíritos maternos, elevando-se a Jesus em preces de incomparável aflição, clamando desesperadamente pela sua misericórdia. As gerações do ódio e da vingança se embriagam no vinho sinistro da guerra e todas as conquistas científicas dos povos são empregadas no extermínio e na destruição.

Bastou que a força renovasse os seus impulsos tumultuários para que o homem civilizado do planeta apresentasse as suas características de selvageria, ocultas nos escaninhos profundos de sua personalidade irreprimida. Em vão, choram as mulheres e as crianças desprotegidas e indefesas. Os quadros desoladores se desdobram em todas as direções, sem que se possam esconder os seus detalhes dolorosos e sinistros.

Cooperando no clamor de reabilitação das esperanças desfalecidas, numerosos Espíritos devotados ao bem derramam lágrimas de compaixão diante dos espetáculos tenebrosos.

O mundo invisível, mais do que vós outros, se encontra habilitado ao exame minucioso dessas profundas transições, porém, observando as provas coletivas, impostas às massas planetárias, recordamos o dia inesquecível de Jerusalém, no instante justo em que o Mestre divino era conduzido à cruz de nossas misérias e de nossas fraquezas. Notando o pranto copioso das numerosas mulheres que o acompanhavam, Jesus exclamou, prosseguindo no seu caminho doloroso, a passos vacilantes: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque tempo virá em que os homens, espavoridos, exclamarão para os montes: “Cai sobre nós!”. E dirão às colinas: “Cobri-nos!” Porque se é assim que se procede com o lenho verde, que não se fará com lenho seco?” (Lc 23:27) Tais rememorações nos enchem as almas de profunda amargura! É que há já dois mil anos que o Senhor efetuou a sua divina semeadura! Há vinte séculos que o mundo recebeu a sua mensagem, entretanto, a ambição nos entorpeceu as energias, o orgulho nos obscureceu os olhos, a vaidade nos dominou o coração. No transcurso dos anos, fomos os cegos que não desejaram ver, os surdos infelizes que não quiseram ouvir!

As elevadas expressões evolutivas da ciência materialista do mundo somente nos agravou a situação espiritual, contribuindo para que nos despenhássemos no abismo. Todas as conquistas dos gênios científicos na Terra são aplicadas agora para o extermínio dos corações humanos e verificamos, amargamente, que o progresso material edificou o túmulo de nossas miseráveis grandezas terrenas. A civilização organizou todos os aparelhos de comodidade para a sua existência, mas olvidou a verdade para os corações. Ao homem do século XX, saturado de ciência e de razão, faltaram os genuínos valores do Evangelho. As religiões, que se fundaram sobre os abusos da fé e sobre os interesses econômicos do sacerdócio, verificam hoje os seus erros, tocadas de dolorosos assombros.

. Nós, os desencarnados, e vós outros, que permaneceis nas malhas da luta material, estamos, igualmente em guerra, mas numa guerra santificada, porquanto o inimigo a vencer reside dentro de nós mesmos. Sabemos hoje que as teorias políticas, os exércitos apressados de salvação externa não resolvem os problemas complexos da existência terrestre, porque os sicários da nossa ruína nos acompanham em todas as manifestações da luta pela vida. Urge nos cristianizemos por meio do Evangelho do Senhor, considerando que a nossa reforma íntima, com Jesus e por Jesus, é o testemunho do aproveitamento de suas lições inesquecíveis, representando os nossos atos e palavras o melhor fator de iluminação para os outros, na causa profunda que nos irmana, agora, com vistas ao porvir. Das transições dolorosas e rudes que caracterizam o atual período evolutivo da humanidade, o mundo renascerá melhor para Jesus, porquanto o Pastor não quer que se perca uma só de suas ovelhas tresmalhadas. Seu amor luminoso e imenso é o melhor título que possuis na Terra.

Durante milênios, temos vagado no mundo malbaratando os valores da nossa paternidade espiritual. Desenvolvemos em demasia a inteligência, esquecendo o coração nos seus objetivos sagrados, dentro da vida. Costumais homenagear no mundo o advento dos códigos políticos e as realizações de ordem cultural e científica, entretanto, a vossa alma experimenta um frio doloroso, em se tratando da fé. Endeusais a fé raciocinada, mas esqueceis que o raciocínio mais apurado pode perder-se no caminho quando lhe falta a iluminação evangélica.

Irmãos meus, unamo-nos na genuína compreensão do apostolado e do messianismo à luz do ensino do Senhor! Graças à misericórdia do Alto, as nossas aspirações e preces ardentes se conjugam na pátria do Evangelho para onde o Cordeiro transportou a árvore maravilhosa de suas bênçãos sublimes. Dentro da paz de que gozamos, não desmereçamos da responsabilidade que nos foi conferida, buscando apreender com o coração as mais excelsas verdades!

A hora é de dor, mas é também de iluminação para o mundo que se perde à míngua de humildade. Unamos os nossos pensamentos e lancemos a toda parte, com a renovação necessária, as benditas sementes que hão de germinar, florescer e frutificar aqui para o Cordeiro de Deus, correspondendo-lhe à confiança sublime. Daqui, do santuário de Ismael, de onde os guias amorosos do Brasil buscam irradiar espiritualmente todas as atividades doutrinárias da Terra do Cruzeiro, elevo o pensamento humilde ao Senhor, rogando-lhe forças e luz para a nossa missão divina.

Sim, meu Jesus, ampara os companheiros queridos, que oram e esperam, não obstante as nuvens do céu, que preludiam pavores e procelas! Tem misericórdia de todos nós que desejamos servir-te para os triunfos do Evangelho, na região fraterna e generosa do Cruzeiro! Alivia o coração inquieto das mães que te esperam e choram, protege os teus tutelados que, de novo, caminham para as lutas fratricidas! Ilumina a consciência daqueles que dirigem materialmente as seções do teu rebanho rebelde e desgraçado! Bem sabemos, Senhor, que somos grandes pecadores impenitentes, cristalizados no orgulho e na discórdia, mas, com as lágrimas de nossas fraquezas, suplicamos a assistência de tua compaixão sublimada e infinita! Elevando-te a minha súplica, tenho a impressão de ainda ver-te quando a barca de Simão conduzia a tua palavra para as crianças misérrimas que se acotovelavam inquietas nas margens do Tiberíades! Acolhe-nos, Senhor, como se o fizesse às criancinhas ignorantes e dize-nos de novo: “Vinde a mim os pequeninos!” (Mc 10:13) Ante a tua bondade inesgotável, somos vermes que rastejam no mundo, ou junto dos fluidos terrestres, ansiosos de paz e de regeneração para o Espírito envelhecido no crime. Sobretudo, esta noite, Mestre, imploramos a tua assistência para todos os companheiros de labor evangélico no Brasil, a fim de que a pátria do Evangelho, em paz e liberdade, possa cumprir as tuas determinações gloriosas no seu elevado destino!




Reformador — Outubro de 1939.


Segundo consta do original, a mensagem foi recebida em 22 de setembro de 1939, na FEB, durante sessão pública.



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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