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Capítulo X

Espanto


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Juca Monteiro, no sítio,

Estava octogenário,

Sempre alegre e acolhedor,

Muito embora solitário.


Preso à cadeira de rodas

Depois de grave acidente,

Não lastimava a velhice

Nem se dizia doente.


Cedo ficara viúvo

E as duas filhas casadas

Residiam longe dele,

Amigas e dedicadas.


Mantinha, porém, consigo

Os seus próprios defensores:

Quatro cães policiais

E um casal de servidores.


No dia em que fomos vê-lo

Em serviço de assistência

Mostrava-se qual criança…

Chegara um dos netos dele,

O jovem Paulinho França.


Monteiro muito contente

Conversava em voz segura,

Admirava no moço

A gentileza e a cultura.


Em certo instante, Paulinho

Comunicou ao doente

Que cedo viajaria,

A fim de seguir à frente…


E acentuou constrangido:

— “Rogo ao senhor me releve

Vou ver contas de meu pai,

Mas voltarei muito em breve.


O avô disse concordar

E explicou que ele sabia

Que o genro necessitava

De pôr as contas em dia.


O neto voltou à carga,

Consultando, apreensivo:

— “A pedido da mamãe,

Preciso eu de levar

As fotos do mano Altivo.


“Rogo ao senhor emprestar-me

A chave do quarto dela,

É aquele muito abafado

Pela falta de janela…”


O avô atendeu, de pronto.

Retirou a dita chave

De um molho com laço forte

E disse-lhe: “Achar retratos

Com tanta pressa, meu filho,

Seria ter muita sorte.


“Procure entrar no aposento,

Entretanto, acenda velas,

Pois o quarto é muito escuro…

Caminhe lá com cuidado,

Aqui, há sempre monturo…”


O rapaz, incontinente,

Toma a chave e eis que se apruma;

Vai ao quarto, a pé ligeiro,

Mas sem levar luz alguma.


Fechando-se lá por dentro,

Tateia caixas em pilha

Retira logo a terceira

Por saber que ela guardava

Os brilhantes da família.


Mergulha as mãos entre as pedras,

A ambição lhe surge e cresce,

Levaria do tesouro

Os brilhantes que pudesse…


Agitando as pedras todas

O moço geme e se estaca,

Sem tirar pedra nenhuma,

Tocado de dor aguda,

Caiu no piso, gritando,

Mordido de jararaca.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

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