Palco Iluminado
Versão para cópiaEspanto
Juca Monteiro, no sítio, Estava octogenário, Sempre alegre e acolhedor, Muito embora solitário. Preso à cadeira de rodas Depois de grave acidente, Não lastimava a velhice Nem se dizia doente. Cedo ficara viúvo E as duas filhas casadas Residiam longe dele, Amigas e dedicadas. Mantinha, porém, consigo Os seus próprios defensores: Quatro cães policiais E um casal de servidores. No dia em que fomos vê-lo Em serviço de assistência Mostrava-se qual criança… Chegara um dos netos dele, O jovem Paulinho França. Monteiro muito contente Conversava em voz segura, Admirava no moço A gentileza e a cultura. Em certo instante, Paulinho Comunicou ao doente Que cedo viajaria, A fim de seguir à frente… E acentuou constrangido: — “Rogo ao senhor me releve Vou ver contas de meu pai, Mas voltarei muito em breve. O avô disse concordar E explicou que ele sabia Que o genro necessitava De pôr as contas em dia. O neto voltou à carga, Consultando, apreensivo: — “A pedido da mamãe, Preciso eu de levar As fotos do mano Altivo. “Rogo ao senhor emprestar-me A chave do quarto dela, É aquele muito abafado Pela falta de janela…” O avô atendeu, de pronto. Retirou a dita chave De um molho com laço forte E disse-lhe: “Achar retratos Com tanta pressa, meu filho, Seria ter muita sorte. “Procure entrar no aposento, Entretanto, acenda velas, Pois o quarto é muito escuro… Caminhe lá com cuidado, Aqui, há sempre monturo…” O rapaz, incontinente, Toma a chave e eis que se apruma; Vai ao quarto, a pé ligeiro, Mas sem levar luz alguma. Fechando-se lá por dentro, Tateia caixas em pilha Retira logo a terceira Por saber que ela guardava Os brilhantes da família. Mergulha as mãos entre as pedras, A ambição lhe surge e cresce, Levaria do tesouro Os brilhantes que pudesse… Agitando as pedras todas O moço geme e se estaca, Sem tirar pedra nenhuma, Tocado de dor aguda, Caiu no piso, gritando, Mordido de jararaca. |
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