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Capítulo XIV

O furto não compensa


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Dizem que o sábio Confúcio,

Notável mestre chinês,

Foi, um dia, procurado

Por manhoso camponês.


De começo, disse o homem:

— “Mestre, perdoe!… Sou ladrão!…

Auxilie-me a encontrar

Minha própria salvação…


— O que há? — falou Confúcio.

E o amigo respondeu:

— “Perdão para as faltas minhas!…

Sem intenção, cada noite,

Furto quarenta galinhas…


“Mestre, o que devo fazer

Contra esse enorme delito?

Ando agora acabrunhado,

De espírito amargo e aflito.”


O sábio aclarou sereno,

Em voz amiga e pausada:

— “Meu amigo, você sabe,

Na justiça que nos rege,

Cada galinha roubada

Exige uma chicotada.


Volte a casa e faça preces,

Corrija-se e viva, em suma,

E, de agora para a frente,

Esteja são ou doente,

Não furte galinha alguma!…


Despediu-se o consulente

E falou a sós consigo:

— “Seguirei o mestre amigo,

Mas não sou precipitado.

Atenderei a Confúcio,

Nas linhas do meu desejo,

Não furtarei no atacado,

Mas furtarei no varejo…”


Na noite que se seguiu,

Ele roubou trinta e nove,

Depois rezou: “Deus me valha!…

Que a minha fé se renove!…”


Na outra noite, ele furtou

Até somar trinta e oito

E clamou: “Que o Céu me ampare!

Não devo ser muito afoito!…


Nova noite e ele empalmou

As coitadas trinta e sete.

Logo após, rezou: “Pai Santo

Só busco o que me compete!…”


Outra noite: Trinta e seis.

E mais outra: Trinta e cinco.

Ele orou: “Pai de Bondade

Preciso de mais afinco!…”


Chegando o fim da tarefa,

Que consistia no furto,

Ei-lo nas mãos da polícia,

Que o prendeu no passo curto.


Ante as faltas confessadas,

O pobre morreu gemendo,

Nas quarenta chicotadas.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

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