Pinga-Fogo

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Capítulo III

Pergunta de um pastor


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— Pergunta de um pastor evangélico que você deve conhecer, porque ele é conhecido em todo o Brasil, comanda um rebanho de fiéis à sua religião de um milhão e quinhentas mil pessoas aproximadamente. Trata-se do pastor Manoel de Melo. Ele próprio irá fazer a pergunta a você, que foi gravada pelo nosso TJT.


— Meu caro Xavier, meus cumprimentos. Convidado por este programa, pela sua direção para lhe formular uma pergunta, quero fazê-lo com muito agrado, com muita satisfação por conhecer você através da leitura, da sua fama, e que ninguém de consciência tranquila pode negar as suas qualidades mediúnicas. Você como uma das maiores autoridades espíritas ou espiritualistas deste país, para não dizer deste continente, por gentileza me responda esta pergunta que está sendo formulada em meu nome pessoal e em nome de toda a minha organização, isto é, de 1 milhão e meio de fiéis que represento neste país, de 4 mil pregadores que tenho a honra de liderar. — O Espiritismo, Xavier, tem um ponto que se choca profundamente, logicamente falando, com os princípios bíblicos que defendemos, nós, os evangélicos. É exatamente aquele ponto da reencarnação, isto é, cada pessoa que nasce é sempre reencarnação de uma pessoa que faleceu, de uma pessoa que morreu. Assim é apregoado e ensinado pelos espíritas no mundo inteiro.

Esclareça o seguinte: Gn 1:26, todos nós concordamos, creio que você também, a maneira como foi criado e o mundo cristão inteiro. Muito bem. Mas logo após a criação de Adão e Eva, as duas primeiras criaturas humanas, surgiram as duas outras criaturas humanas; são os filhos de Adão e Eva: Abel e Caim. Você poderia, dentro da sistemática espiritualista, dentro da doutrina da reencarnação, dar uma explicação aceitável de onde vieram, qual a procedência de Caim e Abel, os dois primeiros filhos de Adão, isto é, pela ordem, a terceira e quarta pessoas humanas existentes aqui na Terra?

— A pergunta do nosso caro amigo, que nos interpela a respeito do texto bíblico, está emoldurada de tamanho carinho que inicialmente nós agradecemos esse tom de fraternidade e ternura humanas com que ele emoldura a questão para se dirigir a nós. Muito obrigado ao nosso caro pastor evangélico senhor Manoel de Melo, que nós todos admiramos como sendo o orientador desse grande e brilhante movimento que é “O Brasil para Cristo”. Mas sem desejar fazer contra-perguntas, porque, às vezes, a contra-pergunta não é uma prova de consideração por quem perguntou, mas a Bíblia é o nosso livro santo, livro de todos os cristãos. Nós, os espíritas evangélicos, nos detemos no Novo Testamento para compreender a essência dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e daqueles que o sucederam, os apóstolos da causa evangélica. Nós temos maior intimidade com o Novo Testamento. Entretanto, pedimos permissão ao nosso caro pastor evangélico senhor Manoel de Melo, para considerar que no Gn 4:16, vamos encontrar uma questão muito interessante para nossos estudos em conjunto, porque nós todos somos estudantes das letras sagradas. O capítulo IV trata, por exemplo, da união de Adão e Eva para o nascimento dos seus três filhos: Caim, Abel e Seth. Sabemos por esse texto, o Gn 4:1 do Livro de Gênese de Moisés, que Caim exterminou Abel. Entretanto, nos Gn 4:16, nós encontramos uma informação muito curiosa: a informação de que Caim, em se retirando da face de Deus, se dirigiu para uma cidade ou uma terra chamada Nod, onde ele desposou aquela que foi sua esposa e teve com ela uma grande descendência. Então estamos perguntando se determinados textos do Antigo Testamento não seriam códigos que nós precisamos estudar com mais segurança para não cairmos, por exemplo, em contradição do ponto de vista literal. Nós precisamos estudar com técnicos e pesquisadores de História que nós os temos hoje em todas as direções — digo isso com o máximo respeito — porque, se Caim matou Abel antes do nascimento de Seth, mas casou-se numa cidade chamada Nod, onde encontrou a sua mulher, aquela que foi sua esposa e com ela teve uma grande descendência, o assunto exige estudos especiais de nós todos, porque segundo a criação no Jardim Edêmico a família inicial teria sido constituída pelas quatro pessoas, às quais se refere o nosso caro pastor evangélico senhor Manoel de Melo: Adão, Eva e os dois filhos primeiros do casal. Vamos então estudar a questão. Com respeito à reencarnação, nós os espíritas estamos diante de uma realidade inconteste para nós. Mormente na vida mediúnica, temos assistido nesses quase 45 anos de Espiritismo evangélico, à luz dos princípios kardequianos, a desencarnações e reencarnações. Mas permitindo-nos também perguntar ao senhor Manoel de Melo, o nosso pastor evangélico, e também aqueles que fazem objeções contra os princípios da reencarnação, permitindo-nos perguntar sobre o sofrimento das crianças, por exemplo. Não vamos nos referir aos adultos, porque seria alongar muito a resposta. Mas vamos pensar nas crianças. Por exemplo, nós, os espíritas, muitas vezes encontramos determinados casos de suicídio, e, às vezes, suicídio acompanhado de homicídio. Mas vamos encontrar nesses problemas, complexo de culpa levado para além desta vida e depois esse complexo de culpa renascido com aquele que é responsável por ele, através da reencarnação. Por exemplo: Muitas vezes temos encontrado irmãos nossos suicidas que dispararam um tiro contra o coração e que voltam com a cardiopatia congênita ou com determinados fenômenos que a medicina classifica dentro da chamada Tetralogia de Fallow; nós vemos companheiros que quiseram morrer voluntariamente pelo enforcamento e que voltam com a Paraplegia Infantil; nós vemos muitos daqueles que preferiram o veneno e que voltam com más formações congênitas; outros que, às vezes, violentam o próprio ventre e que voltam também sofrendo as tendências e que, às vezes, acabam se desencarnando com o chamado enfarto mesentérico. Nós vemos, por exemplo, aqueles que preferiram morrer pelo afogamento para se retirar da vida, num ato de rebeldia contra as leis de Deus e que voltam com o chamado enfizema pulmonar. Aqueles que dispararam tiros no próprio crânio e voltam com tantos fenômenos dolorosos, como, por exemplo, a idiotia, quando o projétil alcança a hipófise, porque nós estamos em nosso corpo físico e subordinado ao nosso corpo espiritual. Então, principalmente os fenômenos decorrentes do suicídio por tiro no crânio são muito dolorosos, porque vemos a surdez, a cegueira, a mudez e vemos esse sofrimento em crianças, incompatíveis com a misericórdia de Deus, porque nós sabemos que Deus não quer a dor. Diz Emmanuel: “Se Deus quisesse a dor Ele não teria nos dado a anestesia através da medicina.” A dor é uma criação nossa, chegamos ao além com determinado complexo de culpa, e pedimos para voltar ao corpo trazendo as consequências de nossos próprios atos menos felizes. Então pedimos ao Sr. Manoel de Melo, nosso caro pastor evangélico que tem trabalhado tanto e cujo mérito nós todos reconhecemos e reverenciamos, para pensar conosco nesses problemas.


— É, Chico, precisamos estudar, mas o pastor também precisa estudar conosco, não é?


Francisco C. Xavier
Emmanuel


Francisco Cândido Xavier


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