Poetas Redivivos

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Capítulo CI

Caso de morte


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I


A morte que vem à vida

Na força do Eterno Bem

É visita inesperada

Que não faz mal a ninguém.


Na criatura cansada

De doença ou provação,

Ela aparece na estrada

Por doce libertação.


Mas a morte provocada,

Por mais que a luta nos doa,

É fruto amargo no tempo

Que estraga qualquer pessoa.


Quem pede para morrer

Sem calma e fé, a contento,

Na hora solicitada

Encontra arrependimento.


Nesse passo, meus amigos,

Vou contar-vos, tal e qual,

Um caso que aconteceu,

Na Fazenda do Brejal.


II


Nhá Quirina casada com Nhô João

Pedia, ao Céu, em prece repetida:

— “Quero a morte, meu Deus!… quero outra vida…

Este mundo é só fel e confusão.”


Tanto rogou, clamando na oração,

Que tombou de uma febre, em recaída,

E, certa noite, a morte, de corrida,

Veio ao quarto buscá-la, de arrastão…


Ela acordou aflita em tosse brava,

O esposo, junto dela, ressonava,

Enquanto viu a morte, olhando os dois…


Nhá Quirina encolheu-se num gemido

E resmungou, no canto do marido:

— “Leva agora Nhô João, que eu vou depois!…”




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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