Ponto de Encontro [Geem]

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Capítulo II
Ilustração tribal

História de João Coco


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O sitiante João Coco,

Na Roça do Sapecado,

Certo dia, amanheceu

Francamente obsedado.


Ele era solteirão,

Tão sóbrio quanto esquisito,

Pois João acordou aos pulos

Dando berros de cabrito.


Aquela perturbação,

Dolorosa e repentina,

Não aceitou tratamentos,

Zombou da própria morfina.


Levado a um grupo de preces,

Pelo médium, veio um Guia…

João explicou-lhe, chorando,

Tudo aquilo que sentia.


O protetor ouviu, calmo,

E depois falou-lhe : — “João,

Você ficará curado,

Porém, sob condição!…”


— “Qual é?” — perguntou, aflito,

O pobre amigo João Coco —

“Ouço vozes que me acusam

Vejo monstros, vivo louco!…”


O Guia expressou-se amigo

Com palavras meditadas:

— “Todos temos inimigos

Das existências passadas…


“Já plantamos sobre a Terra

Muita luta e sofrimento…

Colhemos os resultados

Nas provações do momento.


“Se você quer se curar,

Busque novas esperanças…

Dê tudo quanto tiver

Em socorro das crianças…”


Totalmente renovado,

João fala, exalta, elucida;

Às crianças sem amparo

Cederia a própria vida.


No grupo dos companheiros

Começou logo a sonhar:

Faria uma casa grande

Para os meninos sem lar.


Cinco anos se passaram,

Mas João Coco nada fez,

Se questionado a respeito,

Dizia apenas “talvez…”


A irmã, senhora Cecina,

Veio a ele interrogar:

— “João, e a casa das crianças,

Quando é que vai começar?”


Replicou-lhe o sitiante:

— “Espero o auxílio do Além,

A obra é de capital

E as cousas não andam bem.”


Em resposta ao questionário

Do jornalista Aristeu,

Disse João: “a seca é grande,

Todo o meu gado morreu.”


Logo após, veio a pergunta

De Dona Clara Maria;

Apertado, falou João

Que a casa demoraria.


Relacionando o problema,

Confessou ao Nicolau:

— “Estou pobre e sem recursos,

Vivo a laranja e mingau…”


Trinta janeiros se foram…

João Coco, em vida folgada,

Não atendeu a ninguém,

Nem procurou fazer nada.


Mas, um dia, a obsessão

Voltou a João e ele, aflito,

Pulava sem direção,

Berrando que nem cabrito.


O caso se complicou,

O enfermo sempre tremendo

Viu chegar outra doença

E João acabou morrendo…


Depois de muitos estudos,

Vieram as conclusões:

João Coco deixou ao léu

Setenta e cinco bilhões.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

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