Ponto de Encontro [Geem]

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Capítulo VII

História de João Gandola


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Era um problema difícil

O caso de João Gandola,

Não desejava trabalho,

Vivia pedindo esmola.


Diziam os moradores

No Roçado da Carriça,

Que João era, quando moço,

O retrato da preguiça.


Perdera os pais muito cedo,

E dizendo-se doente,

Rogava de porta em porta,

Pão guardado ou caldo quente.


Pediam-lhe bons amigos:

— João, procura trabalhar

Ele apenas respondia:

— Quando eu puder, vou pensar.


Dona Maria das Dores,

Amiga sincera e justa,

Dizia-lhe: — João, devemos

Caminhar à nossa custa.


Após ouvi-la, Gandola

Entrava na choradeira:

— Sou pobre e ando doente,

Sofrendo de batedeira.


De quando em quando, ia à porta

Do médico Lino França

E o diálogo entre os dois

Nunca sofria mudança.


— João, você quer um prato?

— Eu aceito, sim senhor…

— E um copo de vinho fraco?

— Bebo, sim, quero doutor.


— Você quer a sobremesa?

— Um pouquinho para mim…

— João, você toma café?

— Bebo sempre, tomo sim…


Depois de ligeira pausa,

Eis o amigo a perguntar:

— Gandola, você precisa,

Da bênção de trabalhar.


Eu já pude examinar,

Você tem o corpo são…

Por que fugir do serviço

Esmolando sem razão?


João chorava e esclarecia:

— Muito triste é a minha sorte…

Sou fraco, vivo doente,

Trabalho? Prefiro a morte.


Passa o tempo e João agora

A ninguém pede, nem chama,

Todo esticado em lençóis,

Nunca mais saiu da cama.


O povo na caridade

Levava-lhe leite e pão,

Chá, café, comida pronta

Que às vezes queria ou não…


Um dia, corre a notícia,

Do catre quebrado e torto,

João descambara no chão

E todos acreditaram

Que Gandola estava morto.


Vendo a penúria de João,

O amigo Antônio Gualberto

Deu-lhe um caixão de presente,

Mas um caixão descoberto.


O médico estava ausente.

Quinze horas de velório.

A ordem para a saída

Partiu de Neca Gregório.


O cortejo ia seguindo,

Quando um amigo da roça,

Falou a Neca em voz baixa,

Mesmo encostado à carroça:


— Neca, peça a parada

Do povo, no funeral.

Mas explicou-se, solene,

Não faço isso por mal.


Aproximou-se do corpo,

E falou, mais para ver:

— Gandola, se você vive,

Escute o que vou dizer:


O sitiante Leonardo

Da Fazenda Fonte Limpa,

Mandou-lhe uma doação,

Um saco de arroz supimpa.


Ante a surpresa do povo,

Falou João, com certo enfado:

— Primeiro, eu quero saber,

Se esse arroz está pilado…


— Esse arroz está com casca…

Disse Neca descontente.

E João ainda exclamou:

— Não quero! Vivo doente.


O povo estava aterrado

Ante aquele quadro sério

E Gandola acentuou:

— A ter de socar arroz

Quero estar no cemitério…


Muitos amigos fugiram,

Com grande medo de João…

Poucos ficaram nas alças,

No transporte do caixão.


Esses poucos colocaram

Gandola na terra fria

E eu que me punha de lado,

Pensando em tudo o que via,


Fui olhar o amigo João

Muito cedo no outro dia.

O pobre, fora do corpo,

Chorava e se maldizia,


E eu mesmo muito espantado

Achei João desencarnado,

Sofrendo paralisia.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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