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Capítulo XLVIII

Oração do Dois de Novembro


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Senhor, deste-nos a verdade. Criamos a mentira.

Acendeste a luz. Disseminamos a treva.

Ensinaste o bem. Praticamos o mal.

Concedeste-nos o dom da vida. Semeamos o vírus da morte.

Proclamaste a liberdade pela obediência aos eternos desígnios. Instituímos o cativeiro através das paixões inferiores.

Aconselhaste que nos amemos fielmente uns aos outros. Fizemos a separação e o sectarismo.

Cultivaste flores de amor. Alimentamos espinhos de ódio.

Exaltaste a fraternidade. Intensificamos a sombra homicida.

Traçaste campos de serviço promissor. Enfileiramos cemitérios e ruínas.

Facilitaste-nos enxadas e charruas. Convertemo-las em projéteis e baionetas.

Mandaste-nos o enxofre que cura, o salitre que aduba e o carvão que aquece. Transformamo-los na pólvora que mata.

Afirmaste que teus discípulos chegariam de todas as partes do Planeta. Amaldiçoamos aqueles que não comungam conosco.

Organizaste caminhos de aproximação entre os homens. Construímos trincheiras.

Criaste a chuva benéfica. Realizamos bombardeios.

Plantaste árvores benfeitoras. Fabricamos espadas mortíferas.

Aceitaste a cruz da redenção. Levantamos a cruz do crime.

Exemplificaste o sacrifício supremo. Disputamos o campeonato do egoísmo.

Escalaste o monte da humildade. Descemos ao abismo do orgulho.

Deste-nos todo o bem, renunciando. Menosprezamos tuas bênçãos e dádivas, exigindo sempre.

Por isso mesmo, Senhor, porque envenenamos as fontes de tua misericórdia, vemos a Civilização amargando angustiosa agonia.

Face ao passado delituoso, encarnados e desencarnados, somos antigos mortos no crime, sepultados no cárcere de nossas próprias fraquezas.

Hoje, pois, que os mortos da carne e os mortos que não vivem muito distantes do sepulcro se reunirão, ao pé dos túmulos, e permutarão saudades e preces, no santuário do espírito, ajuda-nos a compreender as verdades da vida eterna.

Atende, Senhor, à nossa rogativa! Faze que teus verdadeiros emissários esclareçam o nosso entendimento, para que sintamos a extensão de nossos débitos.

Abre-nos os olhos espirituais, para que vejamos o caminho. Enquanto a poeira da carne confunde os nossas irmãos no mundo, grandes multidões, nos planos inferiores, estão perturbadas pela poeira da sepultura.

Confessamos a nossa falência espiritual e reconhecemos as nossas dívidas. Sabemos, porém, Senhor, que somos portadores da Consciência Divina. Somos, contigo, herdeiros do Eterno Pai e não ignoramos que algo esperas de nós, como esperamos de ti.

Atende-nos, pois, Mestre Amado, para que resistamos às trevas e trabalhemos por nossa iluminação, à espera do milênio futuro!

Peregrinos esperançosos, reunimo-nos hoje, na estrada da vida, suplicando a bênção do teu olhar. Comprimem-se turbas aflitas por ver-te. As viúvas de Naim, os Jairos vacilantes, os centuriões atormentados, os discípulos medrosos, os aleijados e os cegos, os coxos e os leprosos, as filhas angustiadas de Jerusalém aguardam, de novo, a tua passagem!… Há também Lázaros sepultados, desde mais de quatro dias, em túmulos caiados, esperando tuas palavras de ressurreição para se levantarem!… Súplicas maternas aliam-se ao choro das criancinhas…

Auxilia-nos, Senhor, a quebrar nossas velhas algemas!

Vidente Divino, ensina-nos a ver! Sol de Esperança, ilumina os que se confundem na sombra!… Dois de Novembro, dia de finados!..

Ó Estrela Gloriosa da Vida, mostra-te no cume da montanha, clareando o caminho dos que vagueiam, sem rumo, nos extensos vales da morte!


(.Humberto de Campos)


Irmão X
Francisco Cândido Xavier

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