Presença de Chico Xavier
Versão para cópiaDepoimento de Argemiro Acayaba de Toledo
Um dos benefícios que o Espiritismo vem trazendo à Humanidade é ensiná-la a saber morrer; e saber comportar-se, na Terra, em face da perda de um ente querido. A carta que transcrevemos mostra essas duas situações. O seu subscritor, um dos vitimados no desastre do Rio Turvo, em 24 de agosto último, pela compreensão dos postulados espíritas, soube como proceder no instante em que percebeu o seu naufrágio: ergueu o pensamento a Deus e entregou-se aos seus guias, que o transportaram a um hospital, onde permanece, tal como se estivesse ainda encarnado e se salvasse de um desastre. Aliás, o Espiritismo é a única doutrina que encara o Além dessa maneira, diferentemente de qualquer outra crença reencarnacionista, e, nessa desbravação da vida futura, não trabalha com hipóteses abstratas, sem esteio na realidade, mas formula-as depois de longa observação dos fatos. E é a sequência e uniformidade das comunicações mediúnicas que têm servido de campo experimental. Por outro lado, a missiva mostra que a desesperação dos familiares, na Terra, em lugar de beneficiar, prejudica o desencarnado, porque fá-lo, numa interpretação psíquica, sentir as agruras que o afligiram no instante mesmo da libertação do veículo físico. É preciso que os pais, se quiserem ajudar ao filho, façam caridade, trabalhem, esforcem-se, deem de si aos outros; só assim ficam ligados ao ente desencarnado. O suicídio, por exemplo, em vez de unir, separa-os; e suicidar-se não é apenas desligar-se abruptamente da vida, mas comportar-se de modo que vá abreviado, de qualquer maneira, o dia próprio da morte física.
Por isso, a carta abaixo é publicada; os que nela não crerem; lê-la-ão tão só como obra literária; os espíritas, porém, terão o seu bálsamo, porque todos nós somos sacudidos, diariamente, pelas nossas dores, que não herdamos de nossas antepassados, mas de nós mesmos, em outras encarnações. “Cada um é filho de si mesmo”, já se disse.
A progenitora de William quis ir a Uberaba, onde reside o médium Francisco Cândido Xavier. Na sua simplicidade, Chico Xavier, vendo na fila dos que, semanalmente, o procuram, chamou-a e, mesmo sem troca de qualquer impressão, disse-lhe que sabia a que vinha e escreveu a carta, pela via mediúnica. Cuida ela de pormenores que só mesmo quem conhecesse a família saberia. Daí a sua autenticidade. É verdade que os incrédulos sorrirão na sua alta sabedoria e dirão que Chico já fora avisado; mas o certo é que Chico Xavier está lá em Uberaba e são tantas as situações idênticas que teria ele que ser um super-homem para conhecer tantas particularidades de todas as partes do Brasil. E isso sem ter uma única pessoa a assessorá-lo. Portanto, quem descrê da mediunidade de Chico Xavier fá-lo um ente superior pela presciência; mas o Espiritismo não endeusa ninguém. Chico não é um presciente; é um médium apenas e o que escreve vem do alto e tem a segurança das coisas inatacáveis, como está sucedendo ao seu labor espírita, até hoje não desmascarado por ninguém porque produto da sua consciência íntegra e da honestidade de seu propósito.
Eis a carta:
Querida mamãe, pelo seu carinho me abençoe.
Estou presente, rogando à senhora me ajude com a sua paciência.
Tenho sofrido mais com as lágrimas da senhora do que mesmo com a libertação do corpo… Isso, mamãe, porque a sua dor me prende à recordação de tudo o que sucedeu e quando a senhora começa a perguntar como teria sido o desastre, no silêncio do seu desespero, sinto-me de novo na asfixia.
Tenhamos calma e resignação. O que passou foi a lei a cumprir-se. Pode crer que nossas reuniões e preces funcionaram.
Quando vi que nós todos afundávamos no rio sem esperança na terra, apareceu em mim a esperança da grande vida e entreguei-me à vontade de Deus, conformado.
Notei que companheiros me agarravam como a me pedirem socorro para voltar à tona, no entanto, mamãe, embora não pudesse falar, eu pensava… Pensava que Deus não dá pedras aos filhos que pedem pão, (Mt
Não tenho noção do acidente como desejaria, mas estou informado de que saberei tudo quando estiver mais sereno. Asseguro, porém, que ninguém teve culpa. Nem nosso motorista amigo, nem nosso Genésio. Mamãe, nada fizeram que pudesse provocar a situação.
Foi a dívida do passado que surgiu na máquina em movimento. Mais tarde conversaremos nisso. Ainda tenho a cabeça dolorida e só venho até aqui, trazido pelo senhor Schutel, que me acolheu, para rogar à senhora calma e oração.
Pelo amor de Deus, mãezinha, não chore mais, nem pense que será melhor morrer para encontrar-nos. Estaremos juntos no serviço da nossa fé. É preciso reconhecer isso. Osmir, Beni e Marlene ao lado de papai precisam muito de seu carinho na Terra. E eu não estarei longe.
Tudo que a senhora puder fazer para auxiliar os meninos necessitados, faça com amor e devotamento. Ajude, mamãe, a compreensão de todos os nossos amigos em Rio Preto. Se eu puder pedir alguma coisa, rogo para que o nosso motorista seja desculpado. Tenho visto alguns dos meus companheiros e todos os que tenho visto rogam a mesma coisa. Vamos todos orar pedindo a Deus compreensão e coragem. Senhor Schutel, vovó Mariquinha e D. Mariquinha Perche estão me ajudando, pois ainda estou assim como um doente precisando recuperar-se. Estou bem, somente aflito com sua aflição. Peço à senhora agradecer às nossas bondosas amigas D. Clementina, Carlito e Tia Dulce Zacarias as orações com que tanto me confortaram.
Hoje não posso escrever mais. Senhor Schutel pede para eu encerrar esta carta que ele me auxiliou a escrever.
Para a senhora, mamãe, para o querido papai e todos os nossos o coração carinhoso e reconhecido do seu filho que lhe pede paz e confiança em Deus.
Nelson Castro, “Eram 59 — Coletânea de Artigos escritos sobre a tragédia do Rio Turvo”, São José do Rio Preto, Irmãos Boso — Editores e Livreiros Catanduva, Estado de São Paulo, 1960, págs. 80-82. ARGEMIRO ACAYABA DE TOLEDO — respeitado jornalista e escritor de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo.
William José Guagliardi. A mensagem foi psicografada na noite de 14-11-1960, em Uberaba, dirigida à D. Walkyria Zaccarias Guagliardi, a progenitora de William.
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Mateus 7:9
E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?
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