Capítulo X
Ilustração tribal

Edilson Carlos Nogueira


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Querida mãezinha Conceição e meu querido papai Indalécio, peço para que me abençoem.

Estou presente nesta carta com as dificuldades em que me vejo para me retratar fielmente.

Já que escrevo por outra mão, noto que a letra não pode assemelhar-se, de todo, à minha própria letra, mas escrevo com a alegria de quem achou um canal para afirmar-lhes que a morte não é senão certa mudança de lugar sem transformação para nós mesmos.

Agradeço à tia Cleide e a todos que os encorajaram a vir.

A vovó Salvina e o meu avô José Ruiz me conduziram até aqui de modo a lhes pedir coragem e fé em Deus.

Rogo especialmente ao irmão, ao nosso querido Indalécio, o Júnior, para que não se mortifique em razão do sucedido. Não foi porque houvesse conduzido o irmão para os estudos que o desastre se verificou. O meu tempo estava marcado.

Os meus avós, que me abrigaram com amorosa solicitude, me reconfortaram na hora justa, e venho pedir à mamãe para chorarmos somente de gratidão e de alegria.

De começo, a minha surpresa foi muito grande, mas acordando da inconsciência a que fui arrojado, pelo choque, pude revisar com a calma possível a ocorrência e aceitar a realidade de que a Divina Providência faz sempre o melhor, em nosso benefício.

Não ficarei inerte. Estou promovendo recursos de habilitar-me em conhecimentos novos, a fim de auxiliar aos pais queridos, e confio em que os Poderes Maiores da Vida me protegerão.

Mãezinha, peço-lhe concordar com as Leis Divinas que nos comandam as experiências. A sua fortaleza será um centro de energias para nós todos, porque o papai, o irmão e eu dependemos de suas emoções para equilibrar as nossas.

A vovó Salvina tem-me auxiliado com infatigável dedicação, e de meu pensamento os quadros de doze de abril já se foram definitivamente retirados. Agora, penso em renovação e futuro melhor.

Pai querido, não suponha haver perdido o seu filho. Estaremos sempre mais ligados um ao outro para trabalhar com fé em nosso próprio esforço perante a Infinita Bondade que nos sustenta.

Agradeço as preces e as flores que me ofertam, e agradecerei também a coragem e a tranquilidade que me possam endereçar através das orações. Estou melhorando sempre.

Um abraço a todos os nossos, na pessoa da tia Cleide.

E colocando a mãezinha, o papai e o irmão nos meus próprios braços, agradece-lhes por todas as bênçãos de proteção e amor com que me enfeitaram a existência na Terra, o filho e irmão sempre muito grato, que pede a Deus por nossa paz e felicidade, para hoje, amanhã e sempre,


Edilson


Graças à gentileza do confrade Sr. Antônio Borges da Silva, foi-nos possível incluir neste livro a mensagem de Edilson Carlos Nogueira, recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, a 12 de julho de 1980, às 3:30 horas, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, que constitui o capítulo anterior — “Coragem e Fé em Deus”.

Sem nenhum comentário de nossa parte, procuremos transcrever parte da primeira carta que a Sra. Conceição Carini Nogueira escreveu ao Sr. Antônio, e o relatório que nos enviou, por seu intermédio:

“São Paulo, 4 de setembro de 1980.

Sr. Antônio,

Espero que ao receber esta, esteja o senhor gozando de perfeita saúde, junto de seus familiares.

Por motivo de doença, não pude me comunicar com o senhor, mas não me esqueci de tudo o que o Amigo fez para que eu conversasse com o Chico Xavier.

Junto desta, estou-lhe enviando uma cópia da mensagem que eu recebi do meu filho.

O senhor me disse que tinha um amigo que publicava em livro as mensagens recebidas pelo Chico Xavier; peço-lhe para que fale com esse seu amigo para publicar a mensagem do meu filho, e se ele precisar de mais dados sobre meu filho, eu darei, bastando o senhor me escrever.

(….) O que o senhor precisar aqui em São Paulo, e eu puder fazer, estarei pronta para ajudá-lo, como fui ajudada pelo senhor.

Quero lhe pedir, por favor: se o senhor arranjar um jeito de seu amigo publicar a mensagem de meu filho, queira me dizer qual é o livro para que eu possa comprá-lo, e se precisar de mais detalhes, por gentileza, escreva-me.

Termino esta, desejando-lhe muitas felicidades e a todos os seus, e que Deus os proteja, sempre e sempre.


Conceição.”

“Relatório

nasceu em São Paulo, Capital, a 19 de janeiro de 1966, tinha 14 anos de idade quando desencarnou em acidente de moto, na mesma cidade, a 12 de abril de 1980.

Estava ele na 8ª série ginasial, iria se formar este ano; sua profissão: estudante; religião: católica; tinha muitos amigos e era bem relacionado com os colegas; o que podia fazer para os amigos, ele não media sacrifícios e fazia sempre.

Tinha muita saúde, quase nunca ficava doente, gostava muito da vida, adorava motos, carros esportes, gostava de se vestir bem, era muito vaidoso, fazia planos para seu futuro, e queria se formar em Engenharia Mecânica.

Sempre foi um jovem muito educado, adorava fazer negócios com o pai, seu companheiro inseparável; quando o pai ia comprar um carro, ele estava sempre junto dele dando palpites, tratava a todos com muito carinho, adorava seu gato — Chininho —, quase sempre brincando com ele, quando estava em casa.

Até a casa onde estamos morando, ele participou do negócio com o pai.

Sempre teve tudo que queria, seu pai não medindo sacrifícios para comprar o que ele desejava, inclusive ele pedia assim: “Compra, vai, Papi.” — e seu pai não podia negar aquele pedido tão carinhoso.

Uma semana, porém, antes do acidente, ele andava muito triste, e ninguém sabia o que era, nem ele mesmo sabia explicar o porquê de sua tristeza.

Três dias antes do acidente, meu marido teve um sonho. Ele sonhou que havia acontecido um desastre com um carro, e via três corpos no chão; ele correu, e o último corpo reconheceu como sendo do seu filho mais velho — Indalécio —; ele se abaixou e, abraçando o corpo e virando-o, viu que não era o Indalécio e sim o Edilson, que dizia:

— Pai, estou todo machucado na cabeça.

Acordando assustado, ele me contou o sonho, e eu disse: não se impressione, quando a gente sonha com a morte, é vida.

Depois de três dias, sábado, ele se levantou cedo, foi dar um passeio até a casa de sua avó, e voltou logo, dizendo para seu irmão: — Vou lavar e dar um brilho na sua moto (esta era de seu mano Indalécio; ele tinha uma Mobilette).

Assim fez, a moto ficou bonita, e ele pediu para o irmão (ele só chamava o Indalécio por Irmão, nunca pelo nome): — Bem que você podia me deixar a chave da moto para eu dar algumas voltas.

O irmão, vendo que ele passou a manhã toda limpando a moto, resolveu ir para o Colégio e deixar a chave com ele — Edilson —, coisa que ele nunca fazia, pois tinha ciúmes de deixar qualquer pessoa andar em sua moto.

O Indalécio estava no ponto de ônibus para ir para o Colégio, quando Edilson passou e disse: — Suba, que eu lhe dou uma carona até lá. O Indalécio disse: — Só se eu for dirigindo. Ele concordou, é foram os dois para o Colégio.

Na volta, ele vinha vindo em sua mão, quando um carro, em uma travessa, não parou e avançou uns dois metros da faixa de pedestres, e foi pegar o meu filho que vinha vindo com a moto, o choque foi fatal, com traumatismo craniano, meu filho veio a falecer, quase sem receber os primeiros socorros.

Eu e meu marido ficamos muito doentes com o choque da notícia.

E eu não me conformava de ele ter falecido sem eu conversar pela última vez com ele.

Comecei a percorrer vários centros espíritas, aqui em São Paulo, mas nada dava certo, o pessoal dos centros alegava que era muito cedo e que meu filho estava em tratamento espiritual, e não teria condições de se comunicar comigo.

Eu precisava muito saber como estava ele, para ver se eu tinha um pouco de paz, senão eu e meu marido iríamos parar num hospício, de tanta dor e saudades que ele deixou aqui para nós.

Minha irmã Cleide, vendo nosso sofrimento, disse:

— Por que todos nós não vamos falar com o Chico Xavier?

Conversando com uma conhecida — D. Maria — que eu queria ir a Uberaba, disse ela que tinha uns parentes que moravam lá, e que seria mais fácil falar com o abençoado médium.

Por intermédio de sua parente, em Uberaba, vim a conhecer o Sr. Antônio Borges da Silva, que disse que conseguiria que eu falasse com o Chico Xavier, mas ele — Sr. Antônio — não sabia o meu problema, só sabia que eu precisava falar urgentemente com o Chico.

Ao chegar à porta da casa de Chico Xavier, Sr. Antônio falou para um senhor que lá se encontrava, que o casal de São Paulo, já havia chegado para falar com o Chico.

Minutos depois, o mesmo senhor chegou no portão, e disse: — O Casal que perdeu o filho em acidente de moto, pode entrar.

O Sr. Antônio ficou quieto, pensando que fosse outra pessoa que estava sendo chamada; minha Cleide, porém, disse: — Esse casal é minha irmã e meu cunhado, e o Sr. Antônio disse: — Então, vamos entrar; eu não sabia o assunto.

Eu não havia contado para ninguém o motivo pelo qual eu queria falar com o Chico Xavier, mas quando cheguei perto dele, ele já estava sabendo do sucedido.

Havia várias pessoas falando com o Chico. Logo que ele me viu, disse:

— Filha, por que vocês choram e dizem que ficaram sozinhos, vocês que têm o Júnior (ele se referia ao meu filho mais velho — o Indalécio) e também têm o José Ruiz, que está ajudando vocês? Quem é o José Ruiz?

Meu marido respondeu: — É meu avô, Chico.

— Pois é ele quem está ajudando vocês, e vovó Salvina também (minha avó materna).

Pediu ele o nome do menino, o dia que ele desencarnou, o dia que ele nasceu e perguntou se ele era estudante, perguntando:

— Vocês vão para o Centro comigo? pois eu já estou atrasado.

Chegando ao Grupo Espírita da Prece, havia uma fila enorme, mas nós entramos junto com o Chico Xavier.

Dentro do Centro, ele começou a atender um por um, e, de vez em quando, olhava para nós, que estávamos sentados num banco.

Eu não estava passando bem, e por isso minha irmã Cleide pediu para que eu e meu marido fôssemos descansar, que ela ficaria guardando o lugar, e esperaria até o começo da reunião, que se daria lá pelas 22:00 horas, e ainda eram 15:00 horas.

Eu e meu marido saímos um pouco, e minha irmã ficou observando o Chico Xavier atender todo aquele pessoal. De repente, ele parou, e olhando para minha irmã, falou:

— Você tem alguma fotografia do rapaz?

Minha irmã falou que tinha, e mostrou-lhe a foto. Ele voltou a dizer:

— É um belo rapaz, e está sendo protegido pela vovó Salvina (como poderia ele — Chico Xavier — saber da existência de minha avó, falecida há quase 15 anos?).

E pediu para que ficássemos até o fim da reunião, porque talvez o menino se comunicasse com a gente.

Voltando para o Grupo Espírita da Prece, às 19:30 horas, o Chico Xavier estava quase terminando a primeira parte de seu trabalho.

Nunca vi tantas mães desesperadas como eu, à espera de uma comunicação de seus filhos!

Eu não estava me sentindo bem, e meus pés estavam inchados. No centro da mesa, Chico Xavier continuava escrevendo psicografando as mensagens — sem parar. Foi a coisa mais maravilhosa que já pude ver.

Falei para minha irmã e minha mãe que iria com o meu marido lá fora, um pouco. De lá, ficamos espiando de vez em quando, e Chico Xavier continuava escrevendo sem parar.

Eu já estava desesperada e perguntava: será que conseguirei uma mensagem do meu filho? Conversando com várias mães presentes, e lhes contando o meu caso, elas falavam que era muito cedo, pois justamente naquele dia — 12 de julho — fazia três meses que ele havia desencarnado.

Minha irmã, lá dentro, se aproximou do Chico Xavier, e viu que ele estava recebendo a mensagem do meu filho. Ela correu para fora, e me disse: — O Edilson está se comunicando com o Chico Xavier!

Eu quase não acreditava; talvez minha irmã quisesse me conformar, dizendo aquilo.

Terminando o trabalho, Chico Xavier começou a ler as mensagens recebidas, e chamava os pais para irem receber de suas mãos as laudas de papel.

Ele já havia lido 6 mensagens, e eu, no desespero, aguardando e pedindo a Deus que me ajudasse a receber a minha.

Às 3:30 horas da madrugada, a última mensagem nas mãos abençoadas de Chico Xavier, e ele nos chamando para perto dele. Ao ler a mensagem recebida — a mensagem do meu filho —, Deus meu, que felicidade eu senti naquela hora!


Voltei de Uberaba, e durante as 8 horas de viagem, continuei abraçada com aquela mensagem em meu coração.

Chegando em São Paulo, dei a mensagem para meu filho ler, e ele me disse:

— Eu só vou acreditar no que está escrito aí, se ele me chamar de Irmão, como costumava me chamar.

E ele começou a chorar, ao ler a mensagem, pois nela meu filho Edilson o chamava, não pelo nome, mas sim por Irmão.

Na mensagem, ele agradece as flores que eu lhe ofertei. Depois que aconteceu o acidente, eu não conseguia ir ao cemitério, pois eu me sentia muito mal. Um dia, eu falei ao meu marido: — Eu vou ao cemitério, mesmo me sentindo mal, e fui, levando muitas flores para pôr em seu túmulo, e na mensagem, ele agradece as flores.

Voltando de Uberaba, com a mensagem, continuava, em São Paulo, a me sentir mal de saúde, até que foi preciso eu consultar um médico.

O médico mandou que eu fizesse vários exames, e o resultado foi gravidez.

Depois de 14 anos sem ter filhos, Deus me tirou um e ao mesmo tempo está me dando outro, pois estou grávida de 4 meses, e é isso que está me dando uma luz para eu continuar vivendo, com todo sofrimento que estou passando, pois não me esqueço do meu Filhote (era como eu o chamava), nem um minuto da minha existência, rezo por ele, e que Deus o ilumine e o ampare.


Pai — Indalécio Nogueira Ruiz; profissão: comerciante; religião: católico; nascido em São Paulo, Capital, a 11 de novembro de 1940.

Mãe — Conceição Carini Nogueira; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 17 de fevereiro de 1944; endereço: Rua Bacairis, 70 — Vila Formosa Cep 03357 — Fone 216:3596.

Tia: Cleide Carini; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 7 de julho de 1950; solteira; endereço: Rua Pedro Pires, 70 — Vila Carrão — São Paulo -SP.

Bisavó — Salvina Bete Lameira; nasceu em Bragança, Portugal, a 2 de outubro de 1892, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 8 de agosto de 1965; avó materna;religião: espírita.

Bisavô — José Ruiz Saes; nascido em Almeria, Espanha, a 16 de maio de 1895, e desencarnado em São Paulo, Capital, a 18 de setembro de 1977; avô paterno; religião:católico; profissão: comerciante.

Irmão — Indalécio Nogueira; nascido em São Paulo, Capital, a 26 de setembro de 1964, mais velho um ano e três meses que o Edilson, está atualmente no 2º ano de Engenharia Eletrônica; estuda no Colégio São Judas Tadeu, em São Paulo; não estava com Edilson, quando ocorreu o acidente; ele estava só; profissão: estudante.

Quero agradecer ao Dr. Elias Barbosa pela oportunidade oferecida para publicar a mensagem do meu filho.

Com muita dor no coração, eu lhe escrevi o que aconteceu com o meu filho, talvez não usando as palavras certas, mas o fato em si é todo verdadeiro.

Acredito que este livro com a mensagem do meu filho traga a paz a muitas mães desesperadas como eu, antes da mensagem.

O de que o senhor precisar, e se estiver faltando alguma coisa e eu puder ajudar, me telefone 216:3596 — ligação a pagar. Tudo que puder fazer para reverenciar a memória do meu filho, eu farei, pois ele, em vida, tudo o que ele quis, eu dei, e continuarei dando, aqui sempre ficando às suas ordens.

Estou-lhe enviando uma cópia xerox dos originais da mensagem, e 3 fotos do meu filho.

Obs.: As duas fotos 3/4 foram refeitas da foto 2/2, que era a mais recente que eu tinha (a original é a 2/2).

Sem mais, um abraço desta mãe ex-desesperada,

Conceição Carini Nogueira.”

Elias Barbosa


Sobre o assunto, remetemos o leitor ao item 6 do Cap. 18 da obra (Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos 1DE, Araras (SP), 2ª edição, outubro/1980, p. 100). (Elias B.)



Edilson n
Francisco Cândido Xavier

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