Recanto de paz

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Capítulo XXIII

Cantiga da fé


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Indagas, coração,

Como seguir além de alma segura,

Ante a noite de pranto e de amargura,

Como agir e avançar…

Contemplemos a estrada em que marchamos:

Quando a tormenta ruge, implacável e cega,

A vida roga em tudo a que se apega:

Confiar, confiar…


Bramem trovões, ao longe riscam raios,

Grandes árvores tombam retorcidas,

Gemem no vale multidões de vidas,

O furacão é um monstro sem lugar…

As aves espantadas, entretanto,

Relegadas, de chofre, aos assombros da furna,

Pipilam, como em prece, ante a treva noturna:

Confiar, confiar…


Pedras lascadas rolam sob estrondos,

Gritam rochas no impacto violento,

Braços ocultos no fragor do vento

Movem a gleba multissecular…

Águas descendo em fúria jorram lodo

E engolindo-as em paz sem que se afronte,

Conquanto a sufocar-se, reza a fonte:

Confiar, confiar…


Mas o aguaceiro passa… A sombra aos poucos

Foge temendo o dia que a devora

As janelas de luz da nova aurora

Abrem-se, a plenos céus, de par em par.

O sol ressurge a refazer o campo

Depois extingue a lama dos caminhos

E as aves cantam restaurando os ninhos:

Confiar, confiar…


Assim também, alma querida e boa,

Nos momentos de angústia a que te levas

Sofre sem reclamar a convulsão das trevas,

Persistindo no bem, a servir e a esperar…

E embora as aflições e as lágrimas do mundo,

Pela fé, ouvirás, de ânimo atento,

A mensagem de Deus no firmamento:

Confiar, confiar…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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