Registros Imortais

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Capítulo XXIII

Na rota de luz


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23ª reunião | 28 de março de 1957


: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Francisco Teixeira de Carvalho, Geni Pena 10avier, Geraldo Benício Rocha, Edmundo Fontenele, Olga Leal Peduto, Aderbal Nogueira Lima, Edite Malaquias 10avier, Zínia Orsine Pereira, , Waldemar Silva, Luiz Peduto, Áurea Gonçalves e Esmeralda Bittencourt.


Meus amigos, retenhamos em nós a paz do Senhor.

Completando as nossas modestas anotações em torno da Doutrina Espírita e da mediunidade, como lembrança singela nas comemorações do primeiro centenário da codificação kardequiana, lembremo-nos de que o Espírito é também a luz do Céu para as trevas que ainda assenhoreiam o mundo. Trevas que se estendem a toda parte… Trevas na infância e na senectude, na mocidade e na madureza, na fortuna e na carência, na administração e na subalternidade, na alegria e na dor, nos tribunais e nos templos, nas escolas e nos lares… Treva de egoísmo, de ignorância e de crueldade, estabelecendo o trauma do ódio, o esgar da miséria e o golpe do crime.

Por isso mesmo estamos todos investidos de uma tarefa gigantesca para a execução da qual renascemos na carne muitas e muitas vezes. A sombra é estagnação, mas a luz é atividade incessante, queimando combustível ou consumindo energia.

É por esse motivo que a nossa Doutrina não é uma concepção de fácil, porquanto somos todos constrangidos à responsabilidade da edificação do Céu em nós mesmos para que haja na Terra suficiente material para o Reino de Deus.

A nossa Doutrina não é um arsenal de armas psicológicas para as conquistas da magia aviltante, de vez que todos somos compelidos a buscar a inspiração das Esferas Superiores, capaz de assegurar-nos a sublimação do caráter nos padrões de nosso Senhor Jesus Cristo. A nossa Doutrina não é um santuário simplesmente para o êxtase da adoração, porque somos todos convocados a duro trabalho de extinção das nossas próprias dívidas perante o passado, erguendo no imo da própria vida o recinto sagrado para a comunhão com Deus. A nossa Doutrina não é, em suma, um círculo religioso como tantos outros, elegendo, na segregação e na discórdia, a sua capacidade de sobreviver, porquanto o Espiritismo nos acorda para abraçar a humanidade inteira, estendendo os dons do Senhor a todas as criaturas, de maneira a entrosar-nos com a Justiça Divina, que manda conferir a cada um de nós segundo as próprias obras, e a familiarizar-nos com o amor como sistema de vida em nossas relações uns com os outros. Porque só o amor é suficientemente grande para revelar-nos cada criatura no degrau evolutivo que lhe é próprio, ajudando-nos, a fim de que nossa fé não se converta para os outros em exigência asfixiante.

Achamo-nos, pois, de posse da luz espiritual que nos descerra a Criação infinita. E não podemos nos esquecer da nossa função de depositários dessa luz, para que as sombras gradativamente se extingam no campo da luta humana, anulando, por fim, nosso antigo comércio com as linhas inferiores da evolução e soerguendo-nos a alma dos vales da morte para as alturas da vida.

Não podemos olvidar que são, simplesmente, de ontem a escravidão dos homens livres entre os povos mais cultos, a pilhagem legalizada no mar, os processos inquisitoriais em religião e o duelo consagrado entre os homens, e que são de hoje a destruição em massa, o saque, a violência e o menosprezo à honra individual na guerra moderna, os problemas raciais, a pena de morte e o lenocínio…

Basta a lembrança de semelhantes flagelos para entendermos a nossa tarefa de semeadores e seareiros da luz divina, começando pelo exemplo que educa o coração, a fim de que se nos valorize a palavra que instrui a inteligência.

Cremos que por isso o insigne codificador de nossos princípios, Allan Kardec, estabeleceu a nossa Doutrina por inspiração de Jesus sobre os fundamentos da religião, da filosofia e da ciência, tomando por lema a sua abençoada trilogia: trabalho, solidariedade e tolerância. Trabalho que proceda da ciência corretamente interpretada como sistema de respeitáveis realizações do Espírito, solidariedade que provenha da filosofia como estudo racional da verdade, e tolerância como sendo a religião do amor em si mesma, do amor que é substância da própria vida, orientando-nos para a suprema integração com o Pai Supremo, Vida de nossa vida e Ser do nosso ser.

Sejamos, pois, fiéis aos nossos compromissos na causa que nos irmana, e que Deus nos abençoe!




Comunicação recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, do Grupo Meimei, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.



Barros Fournier
Francisco Cândido Xavier

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