Relicário de Luz

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Capítulo XXXIV

Trajetória


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I


Venho do núcleo imbele da albumina.

Num milhão de sombrios avatares,

Pólipo de comunas celulares

Que a lei organogênica domina.


Avancei dos recôncavos da mina

Ao charco morno que reveste os mares…

E errei nas selvas multisseculares

Com sede e fome de carnificina.


Venho do zero cósmico profundo,

De pavorosas tenebras do mundo,

Estrangulando os vínculos das eras.


E, nas lutas sem fim que me consomem,

Tenho o orgulho bastardo de ser homem

Sobre o instinto medonho das panteras!


II


Mas, além do pretérito que humilha,

Meu ser antropocêntrico em batalha,

Surge um sol flâmeo e belo que se espalha

Por celeste e ignota maravilha.


É o anjo-homem-Cristo que perfilha

O homem-lôbo que, em mim, veste a mortalha

Da fera que ainda ruge e se estraçalha

Sob a treva em que a lágrima não brilha…


Desce, ó Divina Luz, aos meus escombros,

Põe a cruz de verdade nos meus ombros,

Prende-me os punhos ao calvário adverso!


Esmaga em mim a hiena taciturna,

Arrebata-me aos pântanos da furna

Para a glória divina do Universo.




Augusto dos Anjos
Francisco Cândido Xavier


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