Relicário de Luz

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Capítulo LV

Não te sintas só


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Minha abençoada amiga: Deus nos ampare!

… E este é o caminho da ressurreição — o caminho que vences, palmo a palmo, centímetro a centímetro, sob a cruz redentora da provação.

Sentimos, sobre as pedras que forram o chão, a glória solar dos cimos…

Jesus, de braços abertos, à espera de nosso triunfo espiritual…

A contemplação da eternidade, por prêmio sublime aos pés sangrentos…

A paz da comunhão com a luz divina, por céu fulgurante na própria consciência…

A alegria silenciosa do coração que se uniu para, sempre ao amor e à verdade…

E nossa alma inquieta suspira por transportar, ao preço da própria renunciação; no ramo desse paraíso de vitória íntima, todos aqueles a quem nós devotamos no campo agreste do mundo…

Mas o Mestre Divino, o condutor infalível de nossos passos, do alto do próprio madeiro que lhe serviu de trono à imorredoura exaltação, nos reafirma, sem palavras, que a passagem estreita do calvário não admite mais de um coração.

Cada companheiro terá o seu dia e a sua marcha, para o grande entendimento…

Os tesouros adquiridos com a experiência e com a dor são intransferíveis.

Seria necessário que a fonte viva da compreensão deslizasse por todas as criaturas, ao mesmo tempo. E isso, realmente, é impossível. Por essa razão, peço-te, ainda e sempre, coragem e calma.

É nessa solidão interior, que por vezes experimentas com tanta intensidade, que chegamos a ouvir a voz do Excelso Pastor.

A felicidade terrestre é como que anestesiante ruído para a consciência. Distrai-nos. Desintegra-nos os impulsos da fé. Impõe o adiamento indefinido da nossa viagem para o melhor. Obriga-nos a esquecer a bênção das horas e, quase sempre, hipnotiza-nos nas sombras da inutilidade. Contudo, o sofrimento guarda a virtude da visão, despertando-nos para as realidades edificantes da vida.

Sem dúvida, muitos lhe temem o contato, procurando a fuga de suas renovadoras lições; mas o tempo é o químico milagroso da Eterna Sabedoria, que nos governa os destinos, e, na estrada infinita, que nos cabe percorrer, surge invariavelmente o dia de nossa transformação..

Louvemos, desse modo, a luta que nos convocou à subida, e confiemos nossos amados ao Senhor.

Nesse ato de rendição de nossa alma, não reside a desistência de nossos deveres.

Continuaremos ajudando-os com todos os recursos ao nosso alcance, mas centralizando nossas esperanças no Amor Maior. Permaneceremos ao lado de quantos foram situados pela Bondade celestial, junto de nosso carinho, mobilizando possibilidades e energias em favor deles, mas prosseguindo, intimamente, em nossa sublime romagem para o Alto, superando temporais de lágrimas e espinheiros de sacrifício, porque, além de tudo o que representa o mundo de nosso “eu”, resplende o devotamento de Jesus — o único sol capaz de reaquecer-nos o Espírito fatigado, revigorando-nos para a definitiva ascensão aos Planos superiores.

Auxiliemos sem apego. Ensinemos no silêncio.

Amparemos, na medida de nossas forças, a quantos se acercam de nós; mas aguardemos o socorro do Alto, em se tratando de nossas necessidades.

Não te prendas na teia da angústia. A única finalidade da aflição é a de deslocar-nos da Terra para o Céu, do débito para o resgate, da sombra para a luz.

Não temas. Diante de nós, segue aquele Amigo Imortal que, em se entregando ao martírio e à morte, traçou, para nós mesmos, o trilho estreito que nos conduzirá à salvação.

Aceitemos os instrumentos com que o Escultor da Eternidade se propõe reajustar-nos.

Pranto, soledade, amargura, incompreensão nos que amamos, sede espiritual, feridas, pesadelos, vigílias dolorosas, tempestades morais e golpes de senda representam o serviço do Divino Buril sobre nós. À maneira da pedra que obedece, com segurança, das profundezas de nossas imperfeições Jesus retirará, mais tarde, a obra prima do Universo — nossa alma — acrisolada para o esplendor da perfeição.

Não te sintas sozinha. Somos uma grande família no espaço e no tempo; em busca de nosso lar imperecível — o lar que nos espera, mais além, para a integração com todos os nossos afetos.

Confiemos em Jesus. Ainda que tudo conspire contra nós, busquemo-lo. Através do próprio sacrifício, aprenderemos, com ele, a estrada real para a verdadeira vitória.

Continuemos juntas, no santuário do trabalho e da oração e, contando com a tua firmeza de ânimo em todos os lances de nossa jornada para a frente, abraça-te a velha amiga e irmã reconhecida.




Isabel Cintra
Francisco Cândido Xavier


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