Revelação

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Capítulo IX

Em defesa dos animais


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No termo do ano passado,

Tive um chamado ideal:

Devia dar assistência

Aos serviços do Natal.


Fiz preces, rogando a Deus

Paz na mente, amor e luz,

Sabendo que aquela data

Era a Festa de Jesus.


Comecei a trabalhar

Testando-me a confiança…

Que Deus me desse mais força,

Mais apoio na esperança.


Fiquei, porém, desgostoso,

Pois no Grande Feriado

Só se falava da festa,

Jesus não era lembrado.


Primeiro fui à Mansão

Do meu amigo João Dias.

Ele estava entusiasmado

Comendo duas cotias.


Então fui ver Dona Eulália,

Conhecida por Luloca.

Ela e o marido traçavam

Língua de boi com paçoca.


Fui ao encalço do pastor,

Pregador “cara e coroa”.

Ele estava em grande pressa,

Temperando uma leitoa.


Encontrei, no galinheiro,

Vasta frota de perus.

Coitados, nenhum deles

Quis falar sobre Jesus.


Recordei Dona Germana,

Famosa em fazer angu.

Germana e o filho trinchavam

Lombo de porco e tutu.


Muito triste, procurei

A casa de João Chichorro.

No entanto, revi o amigo

Comendo o próprio cachorro.


Fui no pouso da Donana,

A caridade segura.

Ela estava degustando

Farofa com tanajura.


Parei na casa de Lauro

Que vivia no descanso.

Vi Cocota, a esposa dele,

Cortando a goela de um ganso.


Vacilando, entrei no lar

Do companheiro João Tato.

O amigo se achava à mesa,

Comendo carne de gato.


Procurei seguir em frente,

Parei no Bar de Ciloca.

Ela se achava “arrumando”

Cinco quilos de minhoca.


Em seguida, busquei

O sítio de Adão do Embalo.

Dizendo ter muita fome,

Comia o próprio cavalo.


Passei na casa de Antônio,

O antigo dono dos tangos.

João não dançava, comia,

Só de uma vez, cinco frangos.


Em total abatimento,

Lembrei-me do Hevi da Cruz…

Se visse tanta matança

O que diria Jesus!


Em qualquer parte onde eu ia,

Estavam potes de borco.

Carnes de gado no abate,

Carne de cabra e de porco.


Por que, meu Deus, perguntei,

Neste dia sem igual,

Há tanta morte

Sobre as horas do Natal?


O homem do dia a dia

Matava só por prazer…

O homem não acharia

Outra coisa pra comer?


As espécies de animais

Recebem nos dias seus,

A bondade e a proteção

Que chegam do amor de Deus.


Ante o Natal de Jesus,

Guardando os princípios sãos,

Comer carne, não tanto,

Deus bendirá vossas mãos.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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