Sementeira de Luz

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Capítulo CXLV

A alma do nosso grupo

24|06|1944


Meus caros filhos, Deus os abençoe, conferindo-lhes muita paz aos corações.

Estou com vocês na luta diária. Nem podia ser de outra forma. ainda fala muito fortemente em mim e necessito estabelecer esse sistema de auxílio recíproco, dentro do qual tantas forças me fornecem vocês para a tarefa que o Senhor me confiou.

De coração, meu caro Rômulo, felicito os seus esforços nestes últimos tempos, em que se multiplicam os seus trabalhos e escasseiam as cooperações. É uma das fases mais úteis para a nossa alma, meu filho, essas em que nos sentimos mais sós, na organização das ideias — hábeis arquitetos que palpitam dentro de nós. Sim, reconheço a sua luta. Pode crer que ela é muito grande e a serenidade que você vai adquirindo, ao contato de homens e situações, é um patrimônio forte, invulnerável à própria passagem do tempo. O serviço do semeador de boa vontade é tarefa, por vezes, muito áspera. Sinto isso em seus caminhos, na sua consagração ao benefício coletivo. Devota-se você aos interesses de todos, anela o seu coração uma comunidade feliz, onde todos compreendam a grandeza da Terra — mãe comum e sagrada de todas as criaturas — sob as bênçãos do eterno Pai. Fez você do seu trabalho um sacerdócio. E toda consagração elevada experimenta as dolorosas surpresas do orvalho celeste tocando o pó da Terra. De qualquer modo, porém, continue o seu serviço tão belo! Ainda que sobrem os desentendimentos do mundo, dilatam-se a compreensão e o auxílio dos que seguem, daqui, os seus passos. E as suas atitudes novas, criadas ao preço de grande energia própria, no sentido de lidar com os adversários e os incompreensivos, como orientador cercado de muitas crianças, é um tesouro para o coração. Tesouro, Rômulo, porque eu sei que você não é dos trabalhadores que se dão parcialmente ao serviço. Sua mente entrega-se, de maneira integral, à realidade da tarefa a cumprir. Faz você a consagração de todas as possibilidades emocionais e mentais e para conseguir isto, sem produzir vibrações de descontentamento íntimo, preservando o corpo — instrumento abençoado da atividade terrestre — é um trabalho de grandes proporções. Estou satisfeito, porque semelhante realização é sua, pertence a você, é obra de quase dez anos de estudos mais persistentes do Evangelho de Cristo, flor de seu pensamento e fruto do seu culto particular no Livro Sagrado. Creia, meu filho, que esse é o verdadeiro caminho e a independência real. Servir na Terra sem algemar-se é um ideal alimentado por grandes espíritos daqui, que ainda sonham semelhante conquista. Sei que as suas lutas internas são ainda grandes, mas os passos que você tem dado, nesse sentido, são de molde a me inspirar os conceitos desta hora. Sabe você que para além da morte cessam nos corações qualquer propósito de estimular com a lisonja do mundo, prevalecendo em nós a franqueza terna do amigo. O que permanece no coração que ama é a verdade. E só posso falar a você com esta verdade que vibra em minha alma. Prossiga, pois, meu filho, servindo aos homens e libertando a você mesmo. Procure essa emancipação interior, que ensina o caminho dos “verdes pastos”, do belo salmo de Davi. (Sl 23:1) Sem independência espiritual, não há sol de Jesus no coração. É preciso que caiam as fronteiras que circunscrevem os voos dos raciocínios e sentimentos, dilatar o ser, modificar as zonas mais íntimas e, então, nascem para nós as possibilidades diferentes, que nos fazem sentir o Divino Sol. Continue nesse esforço, repito. Ele é santo, é a grande obra de nosso interesse pessoal em todas as regiões de luta, porque, em geral, nos serviços humanos, nem todos os operários aprendem o caminho da libertação individual. Quase todos, ainda mesmo os muito bem intencionados, gastam muitos anos aqui para esgotarem o cálice gigantesco de certos compromissos mais fortes. Você vem alcançando esse estado interior como uma bênção, porque o seu trabalho tem sido uma fonte de alegrias para o seu espírito, mas também um manancial de sofrimentos para o seu coração. Todas as aquisições espirituais exigem dilacerações sentimentais. Não tenha qualquer dúvida! Seu caso é idêntico ao meu, no professorado. Todo trabalhador com tarefa definida, na administração ou na obediência, na educação ou na difusão da luz sofrerá esses abalos íntimos — fenômenos sísmicos do coração, destruindo e renovando, e esmagando para levantar novamente. É a lei. Não poderíamos fugir. Refiro-me a isto, nesta noite, para acentuar o meu contentamento em ver o seu espírito neste caminho. Que Deus conceda a você forças!

Hoje, meu filho, é dia consagrado ao Precursor! Lembremos-lhe o vulto humano e divino! É uma figura sublime a de João Batista, profundamente sozinho no deserto, ensinando aos que não queriam ouvir, até que lhe recompensaram o espírito de sacrifício com o cárcere e a decapitação. No grande edifício do Evangelho, tem ele uma posição destacada. A senda de pedras, o isolamento cruel foram o seu mundo, entretanto, cumpriu sua tarefa até o fim, mais com os emissários de Deus do que com os homens para cujo benefício operava. Intensifiquemos, pois, os nossos esforços, e prossigamos para a frente.

Maria, você poderá usar o Spongia Mar. - 5 gotas, à noite, durante uma semana. Isto lhe fará grande bem. A par disso, minha filha, convirá sempre mais ervas e menos gorduras. Quando você usar ovos, peça os ovos feitos em leite. Experimente. Fará a você grande bem. Anime o espírito do Roberto nesta hora de ameaças. Não o deixe entristecer. Diga-lhe que estamos trabalhando. Aliás, ele não pode se esquecer de que tem um avô general, cuja ficha de serviços é muito grande e muito respeitável! Com um avô na Terra e outro aqui, deve ser impossível fracassar. Tudo corre bem, mas precisamos vigiar!

Agora, meus filhos, deixo-lhes o meu boa noite!

Guarde a todos nós a paz de Deus. Com um grande abraço, sou o papai muito amigo de sempre,




A. Joviano
Francisco Cândido Xavier

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