Sementeira de Luz

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Capítulo CLVIII

Que os mortos enterrem os seus mortos

01|11|1944


Meus filhos, que Deus abençoe a vocês e lhes conceda saúde, bom-ânimo e alegria.

Poucas vezes meditei, como acontece hoje, no ensino de Jesus: . (Lc 9:60) No Rio, é a preocupação de ornamento exterior do túmulo que encerra cinzas. Entre nós, na oração de sempre, é o interesse pela iluminação interior para a vida eterna. Como é chocante o contraste! De um lado, flores externas que falem na tabela dos honrosos costumes sociais, é bem verdade! Noutra margem, as flores íntimas da prece, cujo perfume não será absorvido pela terra, mas se elevará perenemente pelas belezas do céu!

Num Plano, saudades destrutivas. No outro, esperanças edificantes. Numa região, dor aparentemente irremediável. Em outra zona, a felicidade do reencontro conscientemente realizado.

Como deixar, portanto, esquecido, o sublime ensinamento evangélico? Respeitaremos, em todas as circunstâncias, as homenagens do carinho, as notas de amor, reminiscências, gratidão, mas ai!… Temos de convir que, na grande maioria, quase todas as manifestações exteriores de amanhã são atividades de mortos que nos são extremamente queridos! Mortos não porque estejam envergando a túnica bendita da carne salvadora, mas porque se mantêm à distância das fontes reais da vida e da consolação, conhecendo-lhes, embora, as indicações certas e os roteiros inestimáveis.

Agradecerei, pois, as flores das ofertas familiares. Recolher-lhes-ei o aroma sublime no cálice do coração muito reconhecido, mas tenho de seguir ao encontro do Senhor, observando-Lhe a lição inesquecível.

Deixemos para trás as questões do sepulcro. Isso pertence agora ao passado, ao dia findo, ao eco morto. Continuemos a jornada espiritual para Deus e nessa caminhada tenho hoje a alegria de abraçar Wanda e Roberto pelo aniversário próximo. E a comemoração alegre de nossos acontecimentos vivos, palpitantes!

Que Deus, Wanda, conceda a você toda a felicidade que o seu Espírito merece. Mais um ano, minha neta, é outro marco de experiências novas. O vovô continua desejando-lhe todos os bens. Se trago as mãos vazias, trago a você o meu coração cheio de amor! Não se sinta nunca sem a nossa assistência.

Este ano é o primeiro em seguida ao curso do colégio, que foi para a sua alma um desdobramento do lar. Muitas vezes, seu coração experimentou as pequenas diferenças de vida, mas com que alegria vejo sua constante disposição para alcançar o melhor êxito nas lutas de cada dia! Não é a mocidade feliz, minha filha, tão somente pelos ideais imediatamente concretizados, mas, muito mais, pela edificação própria no serviço incessante de enriquecimento de si mesma.

O mundo inferior está repleto de quadros estranhos — pais que vivem para os filhos e filhos que se distanciam cada vez mais intensamente dos círculos do lar. Tudo isso, Wanda, é loucura dos tempos de transição que a Terra atravessa agora. Quem não plantou na meninice e na juventude as sementes fortes da compreensão e do amor no ambiente doméstico não pode exigir colheitas substanciosas no futuro. Veja, pois, em Maria sua melhor companheira e, em Rômulo, o seu melhor amigo.

Compreendo seus pensamentos mais íntimos, suas indagações mais profundas. A vida, minha neta, responderá a você, uma por uma, à medida que você demonstre crescimento na ciência evangélica de ouvir.

Aqui nesta fazenda carinhosa e amiga está sua alma levantando alicerces sublimes! O tempo há de mostrar-lhe sempre esta casa como um ninho de felicidade verdadeira, que ninguém pode confundir. Belos são os seus dias de juventude nesta preparação espiritual em que você se encontra. E só tenho motivos para louvar sua conduta de filha dedicada e afetuosa, rogando a Jesus muitas felicidades para o seu coração. Continue estudando, trabalhando e esperando em Cristo. Cada realização virá a seu tempo, desde que não se descuide você dessa trilogia de estudo, trabalho e esperança. Não é fazer teoria, minha neta, é falar a você com uma experiência muito grande e com um conhecimento recíproco ainda maior. Seu espírito, que tanto tem se esforçado no setor da realização, há de seguir vitorioso na batalha, muita vez ignorada de cada dia. Que Jesus conceda ao seu coração todo um jardim de bênçãos preciosas!

Sinto-me satisfeito com a expectativa da visita pessoal ao Roberto. Semelhante surpresa levará ao coração dele uma grande alegria e um apoio muito precioso neste momento de suas lutas evolutivas. A ele o meu grande abraço de velho amigo, desejando-lhe as melhores aquisições!

E para vocês, meus filhos, que tanto se desvelam pela paz deles, dos netos, as minhas felicitações pelo muito que fazem. Ser pai e mãe é partilhar de poderes da Divindade Criadora. E por esta razão que existe um júbilo santo, somente conhecido por vocês dois nas abnegações de cada dia.

O pai é o sacerdote do lar. A mãe é o altar sublime. Quando se consagram a Deus, as bênçãos dos céus enriquecem o mundo familiar. Continuem guardando essa posição no caminho edificante da luta. O Senhor estará conosco em todos os trabalhos da experiência humana. Repetindo as velhas e belas ideias do Sl 23:4: “Ainda que estejamos no vale da sombra e da morte, não temeremos mal algum.”

Que a bênção de Deus felicite a todos vocês. E despedindo-me, satisfeito, pelo nosso incessante cultivo da vida, cada vez mais distantes da morte, abraça-os, com muito afeto,




o Papai
Francisco Cândido Xavier

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III Joao 1:4

Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade.

3jo 1:4
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Lucas 9:60

Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.

lc 9:60
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Salmos 23:4

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.

sl 23:4
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