Sementeira de Paz

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Capítulo II

Carta à Maria

09/01/1946


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz aos corações.

, nesta noite consagramos nossas preces e lembranças a você, antecipando as felicitações. Voltaremos no seu dia, trazendo à sua alma as flores de nosso afeto, associando-nos ao júbilo doméstico. Entretanto, valendo-me da hora presente, quero significar-lhe nosso carinho e devoção de sempre.

Rogamos a Deus, nosso Pai de Infinita Bondade, multiplique as suas energias, dilatando os seus dias terrestres. Como expressar ao seu espírito o meu abraço de “parabéns”? Há circunstâncias, minha filha, em que nosso campo emotivo se retrai, porque toda a palavra da Terra é descolorida para traduzir nossos sentimentos mais vivos. Sei, porém, que seu coração compreende o meu e viverá no silêncio a emotividade de meus votos.

Assinalo, pois, a minha alegria, rogando a você tão somente a continuação de seu apostolado familiar. Não doa em seu íntimo a incompreensão que, por vezes, como a nuvem, acena de longe sem maior aproximação. Construir um lar forte e equilibrado, forte na defesa contra a maré invasora do oceano de ideais inferiores que se agita na Terra, e equilibrado diante dos choques da existência humana, constitui tarefa grande em demasia para obter o louro fácil do entendimento imediato. Tenho a felicidade, todavia, não de agora, mas sim desde muito, de auscultar seu coração e conhecê-lo de perto. Lutamos juntos, inúmeras vezes vi seu esforço, sondei sua alma e, com alegria, recebi a sua cooperação em diversos períodos da imensa luta espiritual. E, por isso, sei da sensibilidade afetuosa que se recolhe, como pérola formada de muitas lágrimas, na concha de seu íntimo. Vivo também seu mundo interior de preocupações sagradas e sacrifícios desconhecidos, acompanho suas meditações e ouço as suas perguntas, endereçadas à Vida Eterna. Como não havia de ser assim, se o livro de nossas existências guarda tantas páginas escritas em comum? Tem sofrido muito, desde o passado, para reajustar a vida redentora. Suas noções de hoje foram adquiridas por alto preço, em suor constante e renunciações consecutivas. Prossiga, pois, minha filha, em sua missão de amor edificante. Lá fora, em outras embarcações da grande jornada evolutiva, o seu trabalho pode não ser visto, no momento que passa. Entretanto, quando todas as âncoras fundearem no porto a tranquilidade sublime do dever cumprido felicitará o seu coração e a sua luta construtiva será, então, dada a conhecer por “Aquele que tudo pode”. Guarde intacto o seu tesouro de compreensão e esperança, sua bússola de fé viva, suas concepções de serenidade e de reto pensamento. O Senhor permite que você trace os próprios caminhos, como dádiva justa ao sentimento que tem experimentado gigantescos embates. Na atualidade, seu esposo e seus filhos são as suas joias mais belas. Enfeite-se com eles sim, minha filha, e seja feliz! Orgulhar-se-ão sempre de sua dedicação, de sua ternura, de seu carinho. Sua mão trouxe-os a novo campo de vida, guia-os pelas veredas da justiça e se o seu coração mais não faz, é que, por muito que amemos e ajudemos a alguém, não podemos afastá-lo de todo das experiências que necessitam. Há, porém, olhos que enxergam seus serviços diários e raciocínios que pesam a extensão de seu devotamento, observando suas lágrimas e esforços na grande estrada para a frente e para o Alto… Conserve, desse modo, sua confiança no futuro e na 5ida Maior, em me referindo à generalidade dos que nos acompanham nas experiências purificadoras. No mais íntimo de seu coração, busque repetir com as letras sagradas: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Dia virá em que as sombras se converterão em luzes e as dores em júbilos eternos. Enquanto a construção vai a meio, nunca há lugar para muitas emoções agradáveis em quem observa e examina. Por mais que o construtor se esforce em revelar o plano exato, os ouvintes distraídos permanecem ausentes da realidade. É preciso esperar o término, o acabamento, a etapa final. Nesse ponto de luta, rejubile-se sempre, porque sua alma não tem conseguido tempo para fantasias e entretenimentos, entregue como se acha à edificação.

Em seu novo aniversário, portanto, pedimos a Jesus fortaleça cada vez mais o seu espírito sensível, para que a sua obra continue equilibrada e proveitosa até o fim.

Nossas irmãs Engrácia e Helena, presentes, cumprimentam-na também, por antecipação, e rogam ao divino Mestre pela sua felicidade e saúde, alegria e paz.

Não temos hoje recados para os demais. Continuem todos com as medicações.

É nosso propósito reservar esta carta para o seu coração, sem interferência de outros assuntos.

Cumprido, pois, o nosso desejo, deixamos a você um grande abraço, reafirmando os nossos votos de ventura para o seu espírito generoso. Que o seu tesouro continue brilhando sempre mais e que as flores do seu jardim possam frutificar em abundantes colheitas de ventura, são os votos muito sinceros do papai,




Nota da organizadora: dia 11 de janeiro era o dia do aniversário de minha mãe, Maria.


Nota da organizadora: vovô Arthur refere-se a Helena Maia, que foi uma grande amiga de Maria e que desencarnou muito moça. A família Maia era muito ligada à família Amorim.



A. Joviano
Francisco Cândido Xavier

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