Sementeira de Paz
Versão para cópiaDeus nos abençoe os propósitos de servir
20/08/1946
Meus filhos, Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita paz e bom-ânimo.
Folgo vendo-os reintegrados no aconchego do lar. A doce impressão do santuário doméstico, depois de vários dias de ausência, é amostra da felicidade tranquila que nos espera, um dia, quando tornarmos ao domicílio da perfeita união. Chegados a esse tempo – afirmam-me companheiros daqui – reconhecemos que as experiências da Terra foram semanas difíceis de trabalho à distância de casa. em Seu nome onde nos encontramos.
De todas as reuniões havidas, destaco a de quarta-feira como mais proveitosa. Os nossos amigos guardaram efetivamente o valor da bênção, porquanto não nos congregávamos tão somente na feição exterior para a prece, e nem iniciávamos um experimento de ordem espiritual. Companheiros antigos de caminho precisavam sentar conosco, por alguns minutos, na comunhão de ideias, na confiança em Jesus. Creiam que semelhante encontro marcou uma hora de grande harmonia para o destino e para o serviço de vocês aí na Terra. As preces de 1944, não obstante interessantes e valiosas, não foram completas no campo da harmonia perfeita. Faltava uma realização de justiça à manifestação dos deveres da amizade para que os corações estivessem realmente reunidos em nome do Senhor. O amigo que nos visitava trazia o espírito curioso e inquieto. Agora, porém, houve, de fato, uma colheita de rosas sem espinhos. Consumou-se, sob as bênçãos divinas, um processo de paz consciencial, pelo que rendemos graças à Providência Divina.
Quanto às demais reuniões a que compareceram, pedimos ao Mestre divino ampare a sementeira com os raios do seu infinito amor. Depois que as sementes de trigo arrebatadas ao túmulo do faraó germinaram no solo da Terra, após longo sono de alguns milênios, não podemos duvidar do desenvolvimento de gérmen algum. Aliás, a defesa cristã é cheia de resistência por apoiar-se na esperança que aguarda o bem sem retribuição, sem recompensa. Semeemos a luz sempre que possível. Não longe de nós vêm os operários do Alto, incumbidos do trato, da irrigação, do auxílio. O que importa é que o Senhor, na colheita, nos sinta como servos que não menosprezaram o tempo, o recurso e a ferramenta. São dias difíceis esses em que as circunstâncias os constrangem a tais testemunhos, entretanto, ainda mesmo que as preces sejam sem resposta, que os serviços espirituais constituam aparentes insucessos, permaneçam convictos de que a vontade do Senhor foi atendida e que apenas nos resta a obrigação de render graças. Sejam felizes na luta abençoada de sempre.
Deixo de comentar a passagem das autoridades ministeriais por aqui para dizer-lhes somente que Jesus está com o trabalhador do dever em todos os ângulos da obrigação e em todos os setores da atividade. Que os nossos amigos detentores de responsabilidades tão altas se revelem perante os homens, nossos irmãos, à altura do mandato que lhes foi confiado. Se conseguirem essa realização, viverão com Deus desde agora.
Estamos estudando, meu caro Rômulo, o seu receituário para os órgãos visuais. Em breves dias, transmitiremos. O Fausto vai melhor, necessitando, porém, ganhar a si mesmo para melhor refazer-se. A enfermidade pode destruir muito quando não a aproveitamos como instrutora, mas o nosso doente não está preparado a fim de receber tal visita nessa condição. Fausto é uma fonte cujas águas se escoam por muitos lados não chega a ser um poço para o serviço de benemerência a si próprio e nem consegue sustentar uma corrente cujo curso beneficie a si mesmo e aos outros. E você sabe que toda água, quando estagnada, é um perigo.
Guarde, contudo, minhas observações paternais consigo. Não desejo despertar vibrações de ciúme ou discórdia que muito nos perturbam na vida espiritual. Enquanto na Terra, no corpo, essas forças batem sobre nós, mas a carne funciona à maneira de um cais, isolando as construções do porto do choque das ondas fortes. O veículo pesado é um perfeito abafador para que o espírito encarnado possa trabalhar com eficiência. Aqui, porém, não dispomos de semelhante cápsula isolante. Os pensamentos que provocarmos virão sobre nós com violência -seja pelo prisma da alegria, seja pelo prisma da dor. Explico-me mais particularizadamente para justificar o pedido que, às vezes, muitos amigos têm dificuldade de compreender. A luta é enorme e se podemos entregar o coração aos que comungam conosco não podemos expô-lo a todos, ainda mesmo quando entre esses “todos” estejam almas que nos são extremamente queridas. É o nosso caso. Tenho muitos problemas de solução extraterrestre. Muito me confortei com as orações em casa de Branca. Em outra oportunidade comentá-la-emos. Rogo a Jesus conceda a vocês todos muita tranquilidade e bem-estar. Há imposições da vida social que simbolizam sacrifícios, mas vocês, com a graça do Altíssimo, vão vencendo galhardamente. No mundo, é indispensável lutar em todos os setores para alcançarmos a vitória espiritual no maior número deles.
Boa noite, e que o Senhor nos guarde os corações. Guardem afetuoso abraço cheio de saudades do papai,
Nota da organizadora: em referindo-se a Fausto Joviano, irmão de Rômulo. Para maiores dados da família Joviano, sugerimos a leitura de Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2008), Deus conosco (VINHA DE LUZ, 2. ed., 2
008) e Militares no Além (VINHA DE LUZ, 2008).
Nota da organizadora: Branca Renault Moraes era prima de Rômulo, filha de D. Nhanhá, sobrinha de Arthur Joviano.
Este texto está incorreto?