Sementeira de Paz

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Capítulo LXXXII

Na véspera da partida para Uberaba

28/04/1948


Meus caros filhos, Deus abençoe vocês, conferindo-lhes muita saúde e paz aos corações.

Meu caro Rômulo, temos renovado suas forças orgânicas através de passes, quanto nos é possível, atendendo aos imperativos que o levam a se ausentar do campo doméstico.

Entendo as injunções do trabalho representativo a que você é obrigado e espero em Jesus possa vencer essa nova etapa de seu ministério. Considero. Irei em sua companhia e tanto quanto possível segui-lo-ei de perto por lá.

Não deixe a “farmácia individual” para trás. Sigamos com os recursos do corpo e do espírito. Creia, porém, que estou contente com a sua deliberação de visitar o objetivo a que se dirige. Há particularidades do trabalho que, às vezes, o tornam mais meritório. Sem pretender elogiá-lo, sei que você tem desejado e projetado, realizado e servido quanto é possível a benefício do progresso econômico daquele setor de sua abençoada luta.

Felizmente, você chegou a compreender até mesmo os fundamentos espirituais do transplante dos bovinos hindus para a região de Minas a que nos referimos. Climas idênticos, espíritos análogos no Brasil e na Índia. Agora, bastaria um pouco mais de amor acima da exploração, mais ideal construtor e menos comércio dispersivo para a preservação de um patrimônio imenso. Todavia, você não ignora que o comercialismo vai, como sempre, desregrado. A ambição menos digna fulmina a ambição mais nobre e o seu programa de defesa, no interesse coletivo, é analisado e compreendido por muito poucos no momento.

Eis a razão pela qual peço a você seguir para a zona mencionada com a cabeça bem acima do coração. Ouça as palestras, pareceres e considerações com os ouvidos do corpo e da alma, assinale todos os pormenores do trabalho, receba muito em matéria de opiniões e referências, mas emita o menos possível. Você faz muito bem dirigindo-se até lá, ainda mesmo com sacrifício da saúde orgânica, mas não se entregue às provocações mentais daqueles que lhe não entendem os objetivos. A vida oferece desses momentos em que a “avalanche” deve passar.

Não nos atemoriza a visão dos perigos e constitui-nos até mesmo um dever enfrentá-los, entretanto, não é razoável colocarmo-nos contra a maldade e a incompreensão gratuitas.

Lembrada essa providência, a que não poderia fugir, em favor de nossa paz, faço votos para que você conduza, de vencidas, todas as dificuldades. Não ligue os fios de seu sentimento aos dínamos geradores do interesse mesquinho e passaremos horas felizes e tranquilas. Quando estamos escudados na retaguarda, por forças seguras e edificantes, nada devemos temer, todavia, quando essas energias não se fixam ou se manifestam imprecisas, guardemos o valor que se preserva sem arriscar-se inutilmente.

Essa é a minha resposta às suas naturais considerações em torno dos problemas, em cuja solução devemos persistir. A questão ali é espiritual, e de rasteira manifestação espiritual, e convém sorrir ao invés de argumentar, em face das circunstâncias e incertezas da hora presente.

Convém levar com você, além dos elementos homeopáticos, um vidro de Neo-Gorgesan para gargarejos, onde for possível. Um a dois gargarejos por dia. Esse tratamento é mais preventivo, considerando a excursão longa. Trata-se de um preparado aconselhado pelo nosso clínico amigo por solicitação minha e que se destina à defesa da garganta e órgãos vocais. Quanto à homeopatia, havendo retorno aos sintomas de gripe ou resfriado detenhamo-nos mais fortemente no Eupatorium e no Gelseminum. Espero, entretanto, que você melhore aceleradamente e que a viagem nos seja tranquila e feliz. Hoje à noite procuraremos reforçar o tratamento fluídico.

Tenho estado com o José, cujo pensamento vem buscando o meu nestas horas de meditação e calma. Recomendemos a ele certa cautela com o instrumento físico. Não precisa perder a alegria e nem a destreza. Ele nasceu com a vocação do movimento e da luta forte, no entanto, convém-lhe a internação num período de mais prudência. Não galopar, não acelerar a bicicleta, não usar pratos excessivamente pesados nem excitantes em matéria de “drinks” e nesse cuidado penso que removeremos, dentro de alguns meses, o obstáculo.

Você sabe que não é fácil ajudá-lo nesse terreno. Tem o coração cheio de espontaneidade e defenderá mil doentes sem cogitar de defender-se, todavia, agora é também pai e não pode dispor do “capital da vida” com exclusividade nas deliberações. Tudo vai bem por enquanto. Nada de grave. Todavia, é sempre útil prevenir e programar. Dentro de nossos recursos, tudo faremos por auxiliá-lo.

Lembro ainda a você que uma colher de azeite doce, puro, sempre será importante durante a viagem — uma por dia. Quanto ao mais, meus votos sinceros para que as nossas experiências se enriqueçam cada vez mais de luz e bom-ânimo. Aproveitemos cada dia nessa esperança de quem se entrega ao Poder Maior e trabalha sempre no bem, onde se encontra.

Creiam que grande é a felicidade de meu espírito anotando-lhes a devoção à luta de “bem fazer” cada dia que passa. Deus nos abençoe a todos.

Pedindo ao Senhor para que a bênção divina esteja com vocês todos nas realizações diárias, abraça-os, muito afetuosamente, o papai reconhecido que não os esquece,




A. Joviano
Francisco Cândido Xavier

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