Sementeira de Paz

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Capítulo LXXXVII

Dolorosa é a caminhada na direção da tarde, depois do zenith

07/07/1948


Meus filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes a paz e o bom-ânimo para o caminho.

Estamos atentos ao problema que se desdobra tão forte e claro aos nossos olhos. Agradável seria encarar de frente a possibilidade de uma congregação geral dos espíritos em nossa jornada redentora e aqui falamos abrangendo muitas expressões do pretérito, entretanto, não vemos, por agora, outra solução senão essa mesma para a qual vocês se vão inclinando. Agradeço, comovido, à Maria, quanto fez no coração por aproximar-se, ajudando-me, da equação almejada. Sim, mais tarde o nosso reencontro marcará nova etapa de serviço salvador. Noto com alegria e emoção quanto operou minha nora-filha na solução do caso e reconheço que por ela não haveria dificuldade. Observo, porém, do outro lado, um campo por desbravar. Não tenho o direito de permutar espinhos por flores. Não será, pois, mais razoável que os espinhos floresçam para que nos unamos em esfera respeitável na expectativa da colheita? Sinceramente, considero seja melhor assim.

Peço a vocês para minhas filhas o pensamento de simpatia de sempre. Tentam, não com atraso, mas com certa tardança, a sementeira divina. A dor visita-lhes os corações no silêncio e vão observando, com amargura, que no reino do espírito é indispensável semear, a fim de colher. Exceção de Martha e Célia, que organizaram reservas apreciáveis para esta fase de renovação íntima. Vejo Zina em campo neutro e as outras em grandes lutas internas. Creiam que a elas me reporto com profundo interesse. Estão num momento difícil, quase angustioso, embora não se revelem.

, meu caro Rômulo, . Sem acendermos estrelas que nos guiem, mesmo no início do crepúsculo, é muito inquietante a marcha e vocês sabem como tem sido ingente o nosso esforço para que os nossos apelos não prossigam na sombra. Todavia, a resistência aos nossos apelos não foi pequena. Para vocês, é muito complexa a tarefa de auxílio. Tentarei, por isso, algo fazer sozinho, qual me acho em companhia deles há mais de um decênio. Doer-me-ia bastante vê-los expostos a qualquer exigência que denotasse mais funda incompreensão e, em razão disso, acredito que a solução projetada é a mais cabível.

Os anos que correram sobre aqueles corações têm sido rudes e quase sombrios, não obstante os aspectos da convenção que cobrem o mundo as realidades da vida. Não estimo comentários tão íntimos e tão francos com referência a serviços que me dizem respeito, contudo, esse trabalho não é apenas meu. É também de vocês e um momento chegou em que lhes não posso falar de outro modo, solicitando-lhes, embora, a reserva, ainda mesmo sacrificial, quanto a essas minhas observações e palavras paternais.

Em verdade, porém, a atmosfera de nossa organização doméstica tende ao vazio. Não se pode esperar que a situação persevere a mesma em casa por muitos anos mais. A modificação faz-se perceptível e um “frio espiritual” muito grande penetra, vago e persistente, em nosso edifício familiar. Sou obrigado a assistir-lhes as preces-desejos, as aflições imanifestas. Ganhar vantajosamente na esfera do trabalho humano não resolve a felicidade e, por vezes, de cada aposento das filhas saem orações de mistura com interrogativas e lágrimas, que todas ocultam mutuamente. Com franqueza, compadeço-me nas fibras mais íntimas e tudo farei por auxiliá-las e reerguê-las no campo idealístico, mas não tenho ilusões por enquanto e nem posso imaginá-las, porque isso seria olvidar a lei e a lei nos espreita em todos os ângulos do caminho.

A atitude das filhas, no momento, ainda é de pesquisa intelectual. Sinto-me em companhia delas, num jogo em que desejo, de todo o coração, venham a ganhar. Contudo, ainda se cercam de vasta quantidade daquele “lastro da Terra”, que nos impede cruelmente de entrar livres e felizes na “casa da fé viva”. Farei tudo como se vocês estivessem comigo, no entanto, a atitude de vocês agora será esta: abstenção delicada com expectativa de maiores indícios de renovação espiritual. Posso ir aonde vocês ainda não podem alcançar e o serviço nosso, nos dois planos, é diverso. Assim sendo, convém esperar mais tempo. O quadro é o que relatei sem rebuços, todavia, até mesmo a dor tem a sua hora de consolação e extinção. Além do mais, considerado o acontecimento no aspecto humano, a festividade é uma criação do Fausto e essa criação é o núcleo aparente dos interesses gerais. Não há propriamente um apelo, um sinal de compreensão mais elevada, e seria indesejável modificar a paisagem, tornando-a mais sombria. Vocês farão o que lhes aprouver, entretanto, sinto-me feliz anunciando-lhes o que penso e o que sinto acerca da ocorrência em perspectiva.

Resolvendo em definitivo a viagem oportuna, sigam contentes e felizes. Nada de solenizar o assunto com reflexões graves. Bom-ânimo e paz: esse é o programa. Aliás, nesse setor de ausências, peço mesmo ao Rômulo, não digo para agora, mas o descanso de alguns dias, no clima de mar, antes do término deste ano. Sua saúde precisa da atmosfera marinha, pelo menos, por alguns dias. Se lhe for possível seguir em setembro, segundo planeja, será providência das melhores. Seu organismo lucrará quanto é necessário.

Quanto ao mais, vamos ao trabalho. Depois de tantos anos de serviço na fé, anotamos a consulta ansiosa e discreta dos companheiros seculares. Antes agora que mais tarde! É uma oportunidade nova que se abre. E na hipótese de não descerrarem a porta do coração e da mente outros anos (não sabemos quantos) correrão sobre o mesmo quadro. De uma certeza estejamos seguros: a salvação, no sentido de libertação do plano inferior, há de vir com o nosso concurso neste círculo em que nos achamos colocados. Felicito a vocês pelas concessões imanifestas que fizeram. Agora, cultivemo-las com a prece e aguardemos a bênção de Deus. O Senhor não nos faltará se não faltarmos aos nossos deveres para com Ele.

Boa noite, com meus votos de muita paz e alegria. Guardem um forte e afetuoso abraço do papai muito amigo de sempre,




A. Joviano
Francisco Cândido Xavier

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