Caridade, em cada dia,

Com pouco sabe se expor:

O pão, a prece, a alegria,

Uma palavra de amor.

Dez filhos tinha Memélia

E, a esmolar pela cidade,

Dizia querer mais filhos

Para fazer caridade.

Não se sabe o que diria

A vaca, na corda curta,

Como entrega, dia a dia,

O leite que se lhe furta.

Caridade que conheço

Oculta mágoas e crises

Para que os entes amados

Sejam sempre mais felizes.

Caridade bela e estranha

E de mais alto sentido

É a da esposa quando apanha

Sem se queixar do marido.

A caridade será

O amor em plena expansão

Que não lastima o que dá

Nem fala de ingratidão.

Nota da estrada em que sigo:

A dor que mais nos alcança,

Vem da crítica do amigo,

Que nos martela a esperança.

Caridade se coloca

Deste modo, em muita gente:

Escutar qualquer fofoca

Sem passá-la para a frente.

Caridade é conhecer

Nossos erros, em caminho,

Procurando melhorar-nos

Sem olhar os do vizinho.

Caridade, inda que seja

Migalha de amparo e luz

É notícia benfazeja

Da proteção de Jesus.