Vida e Caminho

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Capítulo XII

Infeliz


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De todos os infelizes, por abraçar voluntariamente a condição de usurpador dos bens que pertencem à vida, ele surge talvez como sendo o mais desventurado.

Ilhado na sombra em que se lhe circunscreve o entendimento, cristaliza-se na solidão, aprisionado no cárcere que talhou para si próprio.

Enquanto os ricos de renovação e atividade movimentam o ouro, imprimindo-lhe a feição de pedestal da beneficência ou de sangue do trabalho, erige-se em carrasco do dinheiro, segregando-o em áreas empoeiradas, junto das quais se transforma mentalmente em víbora humana, pronta a ferir quem se lhe abeire da moeda que o descanso enferruja.

Enquanto os ricos de simplicidade e de amor se entregam à refeição feliz que o suor do dever retamente cumprido converte em saboroso repasto, senta-se, quase sempre sozinho, à mesa da penúria que arrasta, roendo o pão endurecido que reservou à própria fome, a fim de não desfalcar os vinténs envenenados que ajunta.

Para ele, reduz-se a existência ao culto do azinhavre e do mofo, acreditando-se indene da passagem do tempo que lhe senhoreia os dias e lhe consome os tesouros.

Espiam-no malfeitores impiedosos que lhe namoram a bolsa oculta, tentando furtar-lhe a vida, e seguem-no os milhafres do fisco, nele antevendo a presa fácil, enquanto a inveja e o despeito lhe contemplam, embevecidos, a lamentável loucura de modo a lhe pilharem utilidades e haveres tão-logo caia, desamparado, ao golpe rijo da morte.

Semelhante mendigo a esconder-se na furna da aflição e do desencanto, carregando nos ombros o esquife dourado da miséria a que se acorrenta, é o usurário comum, que, em retendo o dinheiro distante do progresso, flagela a própria alma, a gemer sob a treva que alimenta em si mesmo, dementado e infeliz.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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