Trovas do Outro Mundo

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Capítulo XXIV
Ilustração tribal

Retalhos


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Paixão é cardo na areia

Que o rochedo traz na face,

Qualquer maré que se alteia

Arranca o broto que nasce.


Nas mágoas do amor cativo,

A desdita mais atroz

Vem sempre de um só motivo:

Gostamos demais de nós.


Amar — sofrer por amor.

Ser amado — ser feliz.

Qualquer um pode ser flor,

Difícil é ser raiz.


Ser mais livre na existência!…

Não tentes ser livre em vão…

Às vezes, independência

É o nome da ingratidão.


Caridade se percebe

No câmbio melhor que há:

Quem dá tudo o que recebe

Mais recebe do que dá.


Nada dói mais, onde ando,

Que esta cena rude e cega:

Menino pobre fitando

O pão que o mundo lhe nega.


A morte tem tanta arte

Nas lições a que se aplica,

Que, às vezes, vive quem parte,

Enquanto morre quem fica.


Ninguém se queixe da sorte

Luz ou lama, guerra ou paz

Na vida, quanto na morte,

Cada um tem a que faz.


A vida se classifica

Por esta base singela:

Quanto mais útil, mais rica,

Quanto mais simples, mais bela.


Não sei que glória mais vasta,

Se da estrela na amplidão,

Se da fonte que se arrasta

Servindo a todos no chão.




Marcelo Gama
Francisco Cândido Xavier

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