Vida em vida

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Capítulo XXV

Divina conquista


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Esta singela narrativa

Ouvi de amado amigo — um gênio dentre os gênios

História que ele arquiva

Em seus registros de milênios.


Um Espírito que, em si, já conquistara

Inteligência primorosa e rara

Manifestou anseio superior:

Desejou trabalhar junto ao Senhor,

Amá-lo, vê-lo e fruir-lhe a presença…

Para isso pediu aos Ministros da Lei

Que se lhe concedesse uma vida de rei.

Recebida a licença,

Fez-se na Terra um nobre soberano,

Foi grande, poderoso, justo e humano,

Mas, adstrito à própria posição,

Viveu atento à representação

Do povo que escolhera governar.

De volta ao Grande Lar,

Assim que o Mais Além se lhe descerra,

Subiu a conviver com benfeitores

Que haviam sido príncipes na Terra…


Mas, logo após, rogou aos Divinos Mentores

A graça de ser santo…

Tornou ao mundo transformado

Em famoso varão

Que só pensava em perfeição.

Viveu de isolamento, entre a prece e o jejum,

Sem se doar a mal nenhum;

No entanto, circunscrito

Às tradições da crença em que vivia,

Abandonado o corpo teve a companhia

De ilustrados teólogos do Além,

Mensageiros da Paz e Expoentes do Bem.


Decorrido algum tempo, ele quis ser um artista.

Voltou à Terra músico e pintor;

Foi um gênio a compor e recompor

Imagens de harmonia e poemas em cor.

Regressando ao Além, depois de longos dias,

A transportar consigo láureas resplendentes

Passou a respirar

No clima cultural de artistas eminentes.


Depois disso, por décadas afora,

De vida em vida, em largo itinerário,

Eis que a sede do Cristo mais se lhe aprimora…

Foi Escritor, Juiz, Cientista e Operário.

Mas um dia chegou em que ele disse:

— Senhor! Senhor! Tenho escolhido tanto,

Ignoro, porém, o que te agrade,

Dá-me agora, Jesus, tua vontade,

Ensina-me o dever,

Para que eu seja o que preciso ser!…


Tempo vasto rolou nas vias do Infinito,

Quando voltou a renascer

Numa casa singela…

A vida lhe corria doce e bela

Quando os pais retornaram para o Além…

Os três irmãos do lar,

Consolidando a própria segurança,

Não se pejaram de o desvincular

Do direito de herança…

Ele não destacou qualquer reclamação,

Aprendera dos pais a ciência do bem.

Aceitou contas que jamais fizera

E compromissos que desconhecia,

Sem ferir a ninguém.

Esqueceu todo o mal, buscando um novo dia,

Estudou, quanto pode, entre serviço e escola,

Fez-se negociante e depois lavrador,

Casou-se e converteu-se em pai guiado pelo amor,

Mas porque socorresse aos pobres e aos doentes,

A família insurgiu-se a golpes deprimentes…


A esposa sem razão

Permutou-lhe o carinho e a companhia

Por um homem tocado de ambição.

Ao vê-lo amargurado, em transes de agonia,

Os filhos declararam-no demente

E um processo instaurou-se de repente,

A julgá-lo incapaz de senso e direção.

Destituído e expulso do seu chão,

Não levantou a voz sequer

Para acusar os filhos e à mulher.

E prosseguiu servindo

Agia, sol a sol, por ínfimo ordenado,

Mas esparzindo sempre a riqueza do amor,

Onde surgisse algum necessitado.

Alcançou noventa anos de amargura

E nunca se queixou, nem se deu à secura…

Era sempre um amigo da alegria,

Criando paz e luz, bondade e simpatia.

Certa noite, sozinho,

O estimado velhinho.

Viu-se fora do corpo, ante a pressão da morte…

Procura na oração apoio que o conforte,

Mas nisso um anjo posto à cabeceira;

Fala-lhe brandamente: — meu irmão,

Partamos para a vida verdadeira…

Ele escutou celeste cavatina

E, aflito, perguntou: que há que não entendo?

O Emissário aclarou: é a música divina,

Saudando um justo que acabou vencendo…

Entre assombro e receio, estranheza e torpor,

O pobre proferiu ansiosa indagação:

— Quem será esse justo, Deus de Amor?


O silêncio se fez qual se fosse de estalo.

Logo após, o velhinho, a chorar de emoção,

Viu que o próprio Jesus vinha buscá-lo…

Prosternado, gritou: Senhor, eu não mereço!…

Mas o Cristo avançou, estendendo-lhe a mão…


Soluçando de amor e de alegria,

O pobre irradiou sublime claridade,

No entanto, nem notou que ele próprio trazia

No próprio coração, a estrela da humildade.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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