Vivendo Sempre

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Capítulo X
Ilustração tribal

João Alves de Sousa


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MENSAGEM


Querida mamãe Rodolfina. Abençoe seu filho que ainda sofre.

Venho com a vovó Ana até aqui, na posição de um enfermo que se retira momentaneamente da casa de tratamento e socorro na qual foi asilado, a fim de pedir o seu perdão.

Mamãe, eu vivi cego nos tempos últimos! Enxergava nos outros o que estava dentro de mim. Fitava na vida a minha própria imagem e, por isso mesmo, enlouqueci.

Seu filho não conseguiu enxergar os seus sacrifícios para que ele fosse gente. É por isso que sem a treva que me inibia a visão, sou trazido até aqui para reafirmar-lhe que eu nunca poderia encontrar mãe mais dedicada e mais amorosa do que a que Deus me deu em seu coração de paz e carinho.

Mamãe, as chamadas injustiças sociais que alegava em minhas convicções erradas não eram outra bênção senão aquela de que eu mais necessitava a fim de melhorar os sentimentos que eu trazia…

Penso que o seu carinho me perdoará como sempre. Sofro as consequências de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia, está o remorso de haver menosprezado a melhor mãezinha que o Céu me poderia confiar.

Agora, tudo passa de novo em minha lembrança, como se eu assistisse a um filme incessante por dentro de mim mesmo. Seu esforço e sua luta…

Você com Deus a trabalhar por nós, você calando aflições para não incomodar-nos, você a se privar na mesa do que fosse melhor para que seu filho se alimentasse como um príncipe, você a derramar suor e lágrimas para que eu estudasse e, na cegueira que me tomou o coração, a revolta injustificável contra a vida não me permitiu oferecer-lhe migalha de qualquer agradecimento…

Pudesse eu tornar atrás, ainda que fosse para arrastar-me pelo resto da vida em seus passos e me sentiria a mais feliz das criaturas de Deus, porque estaria acompanhando o anjo que o Céu nos deu e à família em forma de mulher para ser minha mãe!

Nem pude ver os seus exemplos de amor para com a vovó Benedita a quem a sua dedicação tudo oferta em assistência e ternura…

Mãezinha, considere-me por um rapaz que se perturbou, acreditando raciocinar sobre sociedade e justiça. O meu gesto foi um punhal em seus sentimentos, mas, pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim mesmo…

Pedi à vovó Ana me trouxesse até você, quando escutei as suas palavras decidindo-se a tentar algum intercâmbio com o seu rapaz ingrato e infeliz. Eu não descansaria enquanto não lhe mostrasse a minha dor, pedindo-lhe esquecimento de minha falta.

Enquanto escrevo e choro começo a sentir-me aliviado e espero que, com a bênção de Deus e com o tempo, consiga ser o filho que os seus braços sempre aguardaram inutilmente. Mamãe, por que me vi ferido por mim mesmo, de modo tão cruel ao feri-la? E pode guardar a certeza que nunca a vi tão bela e tão alta quanto agora em que a fé brilha em seu sofrimento de que fui o causador…

Perdoe-me mãezinha querida, e saiba que a amo cada vez mais.

Conte à Vera Lúcia o que me acontece em matéria de arrependimento para que a irmãzinha no lar nunca se lembre de imitar o que fiz.

A vida e a justiça procedem de Deus e somente agora consigo ver a realidade. Foi preciso que a morte me abrisse no peito uma torrente de lágrimas para que o pranto me lavasse os olhos que a rebeldia obscurecera. Oh! Deus, cujo infinito amor nunca falha.

Deus, mamãe, abençoará nossa dor e fará com que seu filho se recupere da enfermidade espiritual que me atacou em forma de rebelião contra tudo o que o mundo nos oferece de melhor.

Confio em Deus e trago ao seu colo esse pequeno raio de fé para dizer-lhe que estou melhorando…

A provação que eu mesmo procurei tentando aniquilar a própria vida, é a força que me retira das sombras para o regresso à claridade.

Mãe querida, abençoe-me. Não sofra se choro e nem se aflija se ainda lhe revelo o lado amargo do gesto que cometi… Isso é também recurso em meu benefício.

Abençoe-me e auxilie-me com as suas lembranças em prece e, desejando que o seu coração permaneça forte e tranquilo na caminhada do bem para o Alto em que sempre a vi e continuo a vê-la.

Tome entre as suas mãos a cabeça ainda amargurada de seu filho que lhe pede perdão de joelhos e diga-me querida mãezinha, que o seu coração me acolhe de novo e me perdoará como sempre.

Um beijo molhado de lágrimas do seu filho, sempre seu filho do coração.


João Alves.

COMENTÁRIOS


“O meu gesto foi um punhal em seus sentimentos mas pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim mesmo”…

Reconhecer-se no compromisso dos atos praticados, traz para a consciência de todo ser humano, a certeza de que somos juízes de nós mesmos. Que o benefício do amor e o seu valor, como sustentáculo nos problemas que nos cercam, ficaram muitas vezes esquecidos.

Amor é a palavra sublime que nos eleva às paragens de Deus, é ainda, o passaporte para o intercâmbio com Jesus nos caminhos que nos obrigamos a percorrer no serviço da caridade.


PESSOAS E FATOS


João Alves de Sousa Reis Filho.

Nascimento: 4.2.1955. Desencarnação: 14.5.1979.

Pais: João Alves de Sousa Reis e Rodolfina Alves de Lima. Rua Guilherme Vaz Pinto, 68. São Paulo — SP.

Irmã: Vera Lúcia de Sousa.

Avós: Ana Moreira de Sousa, paterna, desencarnada há 47 anos. Benedita, materna, encarnada, conta atualmente com 100 anos.


Rubens S. Germinhasi


João Alves. n
Francisco Cândido Xavier

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