Vivendo Sempre
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Arnaldo Bedaqui Junior — José Donizetti Bedaqui
MENSAGEM DE ARNALDO JR.
Querida mamãe, querido papai Arnaldo, estou ainda como quem volve de uma tempestade para uma notícia rápida aos entes queridos, mas embora isso, não me esqueço de pedir-lhes para que me abençoem.
Não sei o que escrever. Tenho ainda no cérebro o barulho das máquinas, no entrechoque em que nos atrapalhamos. Estou vendo o João Afonso com o Siderley e tudo me parece um pesadelo.
Vínhamos da praia, onde havíamos atravessado as alegrias do domingo, sem pensar noutro assunto que não fosse o retorno à paz de casa, quando o carro enorme investiu sobre o nosso.
O pânico estabelecido não durou muito, porque a batida nos silenciara. De minha parte quis gritar, fazer força para socorrer a Sirley e verificar o que havia com os outros, mas o golpe me estirara imóvel.
A ânsia de falar não encontrava a boca que me pudesse externar os pensamentos e não consegui senão ouvir gritos, ali na paisagem de Mongaguá, quando nos preparávamos para varar toda a extensão da Praia Grande, a fim de ganhar altura para o caminho de Santa Fé.
Não posso narrar o que nos aconteceu. Creio que nosso caro Siderley poderá dizer com mais segurança o que sucedeu, porquanto, não tenho para emitir, senão impressões propriamente minhas, que vou coordenando pouco a pouco.
Mãezinha, de começo para nós e especialmente para mim, tudo foi um sono pesado de injeção sedativa em dose alta para imobilizar um leão.
Parece-me que Deus manda os anjos da misericórdia cerrar as pálpebras dos que largam o corpo compulsoriamente, em lances dolorosos qual aquele em que nos vimos, porque somente dei conta de mim num hospital que julguei fosse uma instituição de socorro da Terra mesmo.
Não preciso dizer que gritei à feição de criança espavorida chamando a família, mas foi a vovó Isabel com o Monsenhor Gonçalves, que vim a conhecer aqui na vida diferente em que nos encontramos, as pessoas que me esclareceram devidamente.
Não adiantará dizer que choramos tanto quanto choravam em nossa casa. Pouco a pouco recobrei as forças e pude rever o Donizetti, o Émerson, a Sirley, a Walquíria e lastimar em companhia deles o que nos acontecera. De todos nós o Emerson é aquele que mais se traumatizou, em vista da família querida que começara a organizar. Mas estamos todos melhorando.
Papai Arnaldo, rogo-lhe conformação. Conosco veio o tio José que lhe pede muita serenidade. — O João Afonso e o Rodolfo estão aí precisando de proteção e assistência.
Agradeço ao amigo Siderley os pensamentos reconfortantes que nos dirige. Tenho muito a agradecer e pouco para contar, pois que ainda me vejo espantado, por vezes custando a acreditar que nos transferimos à força para um ambiente totalmente diverso daquele em que sempre vivemos.
Mãezinha, continue orando por nós. A prece é um diálogo no silêncio. Ouvimos as petições em nosso favor e passamos a renovar-nos para merecer as bênçãos que são rogadas em nosso favor.
Desejava escrever muito, no entanto, estou ainda reduzido ao assombro. Não culpem a ninguém.
Aqui é que a gente observa que um acidente pode ocorrer num segundo sem qualquer intenção culposa para os que transitam na estrada. Os desastres acontecem e já sabemos que todos vocês na Terra continuarão em carros e aviões pela necessidade de ganhar tempo.
É preciso aceitar estas verdades e seguir para a frente. O tempo vai consertar os erros, se é que erros existem aqui ou ali.
Tenho a cabeça dolorida e a memória não dá para certas particularidades. Posso dizer simplesmente que vamos indo bem, tão bem quanto se permite estar bem aqueles que são retirados de ferros e engrenagens imbatíveis ou atirados no chão à maneira de pedras contra outras.
Estaremos melhor quando nos habituarmos com a nova forma de ser.
Querida mãezinha e meu querido papai, a vovó Isabel e o tio José os abraçam.
Em nome dos que não puderam vir, transmito-lhes muito reconhecimento e carinho, ao mesmo tempo que lhes peço abençoar sempre o filho agradecido,
MENSAGEM DE JOSÉ DONIZETTI
Querida mãezinha e meu querido papai Arnaldo. Estamos presentes, os filhos agradecidos, solicitando a bênção de sempre.
O aniversário é do Arnaldo, entretanto, a mamãe me encontrou em sonho e se preocupou de tal modo que sou eu o autor desta carta, que escrevemos com o desejo de vê-los asserenados, quanto a nós.
Se desejam notícias da ocorrência passada, aí está junto de vós a memória do nosso caro Siderley funcionando com mais exatidão do que a nossa, por isso mesmo, não me deterei no caso de Mongaguá, uma cidade tão distante da nossa querida Santa Fé do Sul. Apenas menciono o imperativo das leis da vida que se cumprem sempre. Imaginem, tantos quilômetros de terra a nos separarem do mar, entretanto, fomos impulsionados para buscar a Praia Grande onde se achavam os recursos necessários ao nosso resgate.
Quando falo nisso, reporto-me à reencarnação.
A pessoa, por vezes, se endivida à distância do lugar em que forma novo corpo, no entanto, de qualquer forma é chamada pela vida ao palco em que assumiu determinados débitos a fim de criteriosamente resgatá-los. Mas deixemos isso para lá. O que passou, passou.
Nossa Walkíria e nossa Sirley vieram conosco. E, também, da nossa caravana afetiva, partilham nossa irmã Natalina e nossa irmã Esther, a quem o nosso Émerson, presente conosco, abraça carinhosamente pedindo-lhe calma, resignação e fé em Deus.
Nosso Siderley está melhor, mas precisa esquecer, mas esquecer mesmo, aqueles quadros que lhe ficaram pesando na cabeça. Não desejamos dizer que não sentimos.
Todos dividimos a dor em parcelas enormes e iguais para cada um. É muito amor para ser podado de vez, diante da morte. Em razão disso, o peso da mágoa balança entre os dois lados.
Mãezinha, o seu carinho compreenderá que não pode ser diferente, mas somos de Deus e necessitamos caminhar.
Rogamos a todos vida renovada e adeus para o sofrimento. O que vale é a esperança e a esperança palpita em nós, à maneira da árvore cortada quando deita novos ramos, por mãos renascentes, acenando para o futuro. Lembrem-nos alegres e felizes.
Não podem olvidar que achamos a própria desencarnação numa festa de confraternização, quase noivado, mas estejam conscientes de que os nossos queridos noivos aqui se reunirão em abençoado lar para mais tarde reconstituir o lar terrestre. Não me perguntem como, a noite é curta para uma conversação de interesse entre a vida e a morte.
Tanto Arnaldo, quanto eu, Sirley, Walkíria e Émerson, estamos tão vivos quanto antes e fazendo projetos para ser úteis, especialmente a vocês mesmos.
Nosso Émerson promete à nossa irmã Esther a assistência constante de todos os momentos e pede-lhe para que não desanime. Não faltarão recursos para a querida esposa e para as filhinhas, ele repete, confiante em Deus.
Agora, com os nossos parabéns para o irmão aniversariante, sem qualquer tristeza por nos encontrarmos em outro plano da vida, pedimos nós para que transformem a nossa festa de casa em bolos e pães que façam a alegria de nossos novos convidados, os companheiros de luta e de necessidade na Terra, que estamos aprendendo a encontrar e a conhecer.
Siderley, fique com o nosso afeto. João Afonso e Rodolfo, nossos queridos irmãos e substitutos, guardem as nossas lembranças e aos queridos pais e nossas irmãs presentes, sempre ligados ao nosso Émerson e a nossa Sirley, o abraço muito afetuoso dos irmãos Bedaqui.
Mãezinha e papai Arnaldo, recebam o coração alegre e reconhecido do filho agradecido que lhes deseja toda a felicidade da paz com Deus.
Sempre o filho e amigo de todos os dias,
COMENTÁRIOS
Nos recursos da vida que nos apoiam a procura da posição adequada no relacionamento humano, deve-se ter em conta que o roteiro é por nossa conta e o subsídio é doação de Deus.
Por vezes, a inteligência do homem não encontra as razões e indícios dos pseudos-males que atribui a si própria.
As causas primárias retornam com os efeitos no momento preciso e, sem saber como, independente das circunstâncias, tristes ou festivas, rumamos ao encontro do nosso resgate perante o passado. O local dos débitos assumidos reclama-nos a volta, faz-se palco para os ajustes da libertação. A presença de Deus é imediatamente reconhecida, os Benfeitores Espirituais estão à volta no socorro esclarecedor, lenitivo abençoado que afasta o desespero e nos encaminha à paz almejada.
Os irmãos Bedaqui transmitem esses apontamentos com clareza e nos servem de valioso ensino para o encontro da verdade na presença das leis de Deus.
PESSOAS E FATOS
Arnaldo Bedaqui Júnior.
Nascimento: 15.3.1953. Desencarnação: 11.9.1978.
José Donizetti Bedaqui.
Nascimento: 12.5.1955. Desencarnação: 11.9.1978.
Pais: Arnaldo Bedaqui e Isabel do Carmo Bedaqui. Rua Sete, 449, Santa Fé do Sul — SP.
Irmãos: Afonso e Rodolfo Cesar.
Vovó Isabel, Bisavó materna.
Monsenhor Gonçalves, padre de São José do Rio Preto, desencarnado.
Tio: José Bedaqui, paterno.
Siderley Mendonça Rocha, amigo de Arnaldo, irmão de Sirley e cunhado de Émerson.
Sirley Mendonça Rocha, Emerson Mendes Pereira e Walquiria Gomes Leite, todos desencarnados juntamente com Arnaldo e José Donizetti, no dia 11.9.1978, na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, próximo a Mongaguá, Praia Grande, São Paulo.
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