Deus Aguarda

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Capítulo XVIII

Deus é amor


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Jamais condenes. Deus é, sobretudo, amor. (1Jo 4:8)

Em arena vasta do Plano Espiritual, achava-se um homem desencarnado em julgamento.

O mentor indicado para instruí-lo, quanto ao que lhe cabia fazer, a fim de regenerar-se, passou a encontrar muita dificuldade para desincumbir-se dos próprios encargos.

Acontece que o recinto das advertências fora invadido por enorme turma de acusadores.

Esse apontava o infeliz, na condição de celerado que lhe havia aniquilado a família no mundo; aquele mostrava-lhe os punhos cerrados, prometendo-lhe vingança pelos males de que fora vítima; outro pedia para ele a pior das sentenças; e outras entidades, incluindo mulheres desventuradas, dirigiam-lhe frases cruéis.

O juiz determinou que a ordem se estabelecesse e a assembleia calou-se constrangida.

Então, o orientador indagou do réu se não lembrava, por si mesmo, algum bem que havia feito. Não teria, porventura, auxiliado em favor de alguma criança perdida ou amparado a essa ou aquela viúva sem ninguém ? Nunca se aproximara de um mendigo doente, buscando reduzir-lhe as necessidades? Acaso, não haveria socorrido algum animal apedrejado ou protegido alguma fonte?

O infortunado companheiro revelou ansiedade e amargura nos olhos, a engolirem as próprias lágrimas, e respondeu pela negativa, confessando ainda que impusera a morte à sua própria mãe, com certeira punhalada, de modo a furtar-lhe as últimas joias escondidas num jirau.

Foi aí que a massa de escarnecedores se desmandou em gritaria.

O mentor recomendou mais ordem novamente e já se preparava a solicitar o parecer de orientadores domiciliados em Planos mais altos, quando nobre mulher, de aparência simples mas nimbada de luz, penetrou o salão e explicou-se em alta voz:

— Senhor Juiz, manda a verdade seja dito que este homem proporcionou imensa alegria a uma filha de Deus, assim qual todos somos. Ele foi a esperança e o sonho, a felicidade e a força que lhe acalentaram a vida…

— Ainda assim — ponderou o magistrado — terá ele de amargar longo período de provas, encarcerado num corpo disforme, entre as criaturas da Terra.

Ela, porém, aclarou com humildade:

— Compreendo que a justiça deve exercer-se, em auxílio a nós todos. Essa mulher, no entanto, o abençoará e acompanhará, seja onde for… Lutará por ele e chorará de dor e de alegria, até que a beleza com que Deus o criou lhe brilhe na face por bendita luz…

O juiz, admirado, voltou a perguntar-lhe:

— Senhora, quem sois vós que defendeis assim um celerado?

A dama não declinou a própria condição, mas encaminhou-se para o réu, abraçou-o e beijou-lhe o rosto de que os demais se afastavam com asco… Em seguida, ergueu a fronte e, contemplando a assembleia espantada, proclamou enternecida:

— Declaro, perante Deus, que ele é meu filho.




Meimei
Francisco Cândido Xavier


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