Quando se Pretende falar da Vida

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CAPÍTULO 18
Ilustração tribal

XVIII - Mensagens de Roberto Muszkat


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Querida Mãezinha Sonia e querido Papai David, recebam com os meus irmãos e nossos amigos os meus votos de paz.

Estou emocionado e reconhecido.

Não sei de que modo configurar com palavras o meu reconhecimento.

Um natalício comemorado no amor que nasce do Amor Supremo. Nada fiz por merecer a festa que me doaram na pessoa de nossos irmãos em problemas e provas maiores do que os nossos.

Para ver um sorriso no Papai David e na Mãezinha Sonia, repetirei uma anedota que colhi no humorismo ldish. (1)

(1) Idish - idioma judaico-alemão que surgiu provavelmente no século XI. Tem sua raiz na palavra alemã "judich" (judaico).


—Certo Snorrer (2) depois de descer de um comboio no qual fizera longa viagem, disse a um amigo:

(2) Snorrer - mendigo, pedinte.

—O que mais me impressionou na excursão foi ver que o chefe do trem me fitava de modo extremamente particular. . .

—E que há nisso demais, disse o outro? Porque o chefe o fixaria desse modo?


O Snorrer explicou:

—Ele supunha que eu viajava sem passagem. . .


—E que fez você à frente disso? O outro esclareceu:

—Eu respondia fitando igualmente o homem, como se a tivesse!

Falo no assunto, porque me tratam do pobre natalício com tamanho carinho que estou na mesma posição do viajante desvalido. Estou na alegria de quem realmente merecesse a festividade que me trazem.

Sou grato aos pais queridos, aos queridos irmãos, Rachel, Renato, Ricardo, Rosana e Moises, por todas as bênçãos e sacrifícios que fizeram para que a felicidade e o estímulo ao trabalho estejam comigo.

Mãe querida e querido Papai David, estou muito grato e repetindo a música do Shalom em meu coração, a fim de agradecer-lhes.

E hoje peço ao nosso grupo aqui, a devida permissão para um pequeno apontamento. Acontece que estão aqui muitos pais e muitas mães à espera de que os filhos queridos se comuniquem, quando parece que lhes tomo o lugar.

Com muito respeito e veneração a todas as lições que se explicam neste salão acolhedor, preciso dizer aos queridos amigos cristãos aqui presentes que meus pais e meus irmãos não se encontram conosco na ideia de comprarem as minhas palavras com o preço da beneficência.

Acontece que estamos dispostos a transformar as nossas saudades em bênçãos para os nossos semelhantes.

Por organizarmos uma pequena festa de amor ao próximo, memorizando o meu natalício, isso não quer dizer que estejamos pretendendo direitos dos quais nos sentimos ainda tão longe!

Creiam nossos irmãos que a minha despedida apressada do Plano Físico nos deixou a todos marcados de profundo sofrimento.

Meu pai é médico de muita dedicação ao trabalho e minha Mãezinha Sonia é instrumentadora para serviços de cirurgia e enfermeira devotada e eficiente. Não somos ricos de metal, mas ricos de serviço e de amor.

Entendemos que o pão doado a uma criança ou um brinde entregue a um doente valem muito mais que uma flor sobre a pedra ou mais ainda do que uma festa do mundo, a caráter, com guloseimas e bebidas de que não necessitamos.

Perdoem-nos os amigos cristãos que respeitamos e estimamos tanto, se a poesia da oração, transformada em bolos de alegria à gurizada, está em nossos pensamentos. Nada fizemos demais, diante da Lei que nos determina amar ao próximo, tanto quanto a nós mesmos.

E estamos agradecidos pela compreensão que nos possam doar. Acreditamos que noventa por cem das solenidades em andamento no mundo poderiam ser transformadas em utilidades e bênçãos para os nossos irmãos infelizes e continuaremos nessa prática de solidariedade humana.

Mãezinha Sonia, agradeço a sua decisão de se dedicar aos enfermos sem ninguém, asseando-lhes o corpo fatigado, e esperamos para breve a fundação e funcionamento da nossa cantina de fraternidade em que toda criança de qualquer procedência possa encontrar conosco o pão e o leite que se fazem bases simples da vida.

Agora terminarei, rearticulando a todos os nossos agradecimentos.

Vejam os nossos amigos, aos quais me dirijo, que se meu pai surge bem trajado, por dentro ele carrega uma fonte de lágrimas ao recordar o filho supostamente morto e que, se a Mãezinha Sonia nos aparece vestida de alegria, no íntimo, saibam todos que ela se apresenta no mesmo figurino de outras mães que se acham aqui raladas de saudade e sofrimento.

E, se os meus irmãos se mostram sorridentes, quero contar, sem o consentimento deles, que cada um sacrificou a aquisição dessa ou daquela utilidade para que a poupança feita fosse transformada em amor aos que sofrem.

Nada digo por espírito de reclamação ou de crítica, mas sim para sermos perdoados, se aparecemos com tanto júbilo, embora chorando e sofrendo, para homenagearmos a Providência Divina com tudo o que possamos ter para dar e dividir.

Somos gratos a todos e meu pai David e minha Mãezinha Sorria dirão como nos sentimos felizes aqui na companhia de todos.

Pais queridos, com os queridos irmãos e nossos amigos, recebam o coração feliz e reconhecido do filho, irmão e companheiro sempre agradecido.


ROBERTO MUSZKAT, 13 Novembro 1982



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