Traços de Chico Xavier

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CAPÍTULO 5
Ilustração tribal

Exposição Sobre a Mediunidade de Chico Xavier


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O vocábulo latino médium significa meio, intermediário. É a pessoa através da qual os Espíritos externam seus pensamentos, usando seu aparelho vocal, ou servem-se de sua força psíquica para produzirem os mais variados fenômenos de efeitos físicos. Enfim, todas as manifestações de ordem espiritual, quer sejam inteligentes ou não, só se produzem havendo alguém dotado da faculdade mediúnica, mais ou menos desenvolvida.

Feita esta conceituação sobre o médium, embora sintetizada, vamos falar, a seguir, sobre um dos mais seguros intérpretes dos Espíritos até hoje surgido em todo o mundo: tratas-se de Francisco Cândido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier.

Conhecemo-lo, pessoalmente, no ano de 1951, quando o visitamos em Pedro Leopoldo, sua cidade natal, distante cerca de 60 quilômetros de Belo Horizonte (MG).

Fizemos uma viagem cansativa, pois a nossa condução era um pequeno carro arca Renault e o trajeto foi feito pelo Triângulo Mineiro, cujas estradas, naquela época, eram todas de leito natural. Viajamos cinco dias consecutivos para alcançar a pitoresca cidadezinha mineira, onde residia o Chico desde que nascera.

Mas valeu a pena. Nosso contato com o famoso médium de Pedro Leopoldo nos estimulou bastante para prosseguirmos na luta que abraçamos, ou seja, a de divulgar a Doutrina Espírita por todos os meios de que dispomos.

Objetivamos homenagear Chico Xavier, ao ensejo do transcurso do cinquentenário de sua atividades mediúnicas, o que fazemos prazerosamente, embora não nos seja possivel abordar, num trabalho jornalístico como este, todos os fatos registrados através de sua mediunidade, fatos esses que se enquadram, sem dúvida alguma, na mais complexa técnica mediúnica de que é detentor o missionário Pedro-leopoldinense.

E o primeiro acontecimento, para nós muito importante, porque se verificou quando de nossa viagem a Pedro Leopoldo, foi o da sua aparição à minha mulher, na cidade de São Gonçalo do Sapucaí (MG), no hotel onde pernoitamos. Eram aproximadamente cinco horas da madrugada quando procurei acordá-la para prosseguirmos viagem.

Nesse exato momento, o Chico acabava de transmitir-lhe um passe reconfortador. Realmente, em virtude da longa jornada já percorrida, e também porque minha mulher naquela época apresentava sintomas de "angina pectoris", estava bastante abatida, motivo pelo qual o Chico, possivelmente ligado pelas nossas vibrações mentais, desdobrou-se e veio prestar-lhe o indispensável auxílio. Trajava ele, na ocasião, terno listrado, detalhe esse que minha mulher não se esquecera.

Chegamos a Pedro Leopoldo, numa sexta-feira, e fomos ao Centro Espírita "Luiz Gonzaga", onde o Chico trabalhava. Cerca de quarenta pessoas, vinda de vários pontos do país, também ali aguardavam sua presença.

Precisamente às 20:30 horas, dava entrada no salão daquela Casa um moço moreno, trajando camisa esporte e calça listrada. Houve apresentações por parte dos presentes, que ainda não o conheciam. Nós também fizemos a nossa, dizendo que chegáramos de Curitiba - Paraná - e que éramos espíritas militantes. Diante disso, Chico recomendou-nos que ficássemos à vontade pois, segundo disse, éramos da casa. Precisava atender os que o procuravam para expor seus problemas. Antes, porém, de se afastar, minha mulher, observando seu traje, disse-lhe: - Chico, o senhor me transmitiu um passe, ontem de madrugada, que me fez muito bem. Eu o vi trajando um terno listrado. . .

—É o desta calça - disse ele - e já faz quinze dias que o estou usando.

Como todos sabemos, o fenômeno de desdobramento tem sido registrado em todos os tempos. Antônio de Pádua, por exemplo, na terça-feira santa do ano de 1226, quando pregava na 1greja de São Pedro de Orveyroix, em Limonges, desdobrou-se. Os monges dum mosteiro, localizado noutro extremos da cidade, viram-no sair da capela, ler no ofício a passagem designada e desaparecer, em seguida.

Afonso de Lignori, encarcerado em Arezzo, abstivera-se de alimentos na cela onde permanecia, quieto. Cinco dias após, despertou pela manhã e afirmou ter assistido aos últimos momentos de Clemente XIV. Ele fora visto ao lado do papa moribundo, confirmando-se, portanto, suas palavras.

Outro fato que merece ser relatado, por tratar-se de ocorrência registrada com Chico Xavier, foi publicado na revista portuguesa "Estudos Psíquicos", na edição de dezembro do ano passado.

Numa sessão realizada no Centro Espírita "Dr. Dias da Cruz", em Caratinga - Minas Gerais - em março do mesmo ano, Henrique Magalhães, colaborador daquela revista, os conta o seguinte: "A seguir, encontraram-se à materialização de Chico Xavier, o qual falou conosco em linguagem bem conhecida, abraçando-nos, bem como a uma sua sobrinha, que também se encontrava no local. Esta última, encarnada.

Foi a primeira vez em minha vida que abracei um espírito materializado, cuja criatura - Chico Xavier - ainda está vivendo entre nós, com a graça de Deus, pois ainda muito esperamos de seu labor. " "A ação extracorpórea do homem encarnado - explica Alexandre Aksakof - pode ir até o desdobramento do organismo, ostentando um simulacro de si mesmo, o qual se torna ativo durante certo tempo, independentemente de seu protótipo, e apresenta tributos incontestáveis de corporeidade. " No caso particular da materialização de Chico Xavier - afirma nosso confrade Aureliano Alves Neto, em brilhante artigo publicado no jornal "Mundo Espírita" - houve, concomitantemente, um fenômeno espírita, de vez que se fez imprescindível a doação de ectoplasma por parte dos médiuns do Centro Espírita "Dr. Dias da Cruz. " Embora sejam raros os fenômenos desta natureza verificados com Chico Xavier, não podemos deixar de considerá-los como parte integrante da sua incomparável faculdade mediúnica a serviço do progresso moral e intelectual da humanidade.

Manuseando as páginas da história, verifica-se que, desde épocas remotas, Deus tem enviado à Terra missionários capazes de ajudar o homem na sua grande caminhada rumo à perfeição, cada um desempenha seu trabalho no setor que lhe é peculiar. Assim, espíritos de escoltem reencarnado em nosso orbe terreno, em cumprimento dessa árdua tarefa, de acordo com os planos traçados pela Divina Providência.

É no campo da mediunidade que se observa acelerado movimento visando esclarecer o homem que a vida continua tal como na Terra; que o Espírito, após a morte do corpo físico, conserva sua individualidade e que seu progresso espiritual só se completará através das múltiplas reencarnações, neste ou outros planetas, dependendo do grau evolutivo que tenha alcançado.

Sim, no caso da mediunidade, dissemos, porquanto foi pela comunicação dos espíritos, servindo-se das mais variadas faculdades mediúnicas, que os céticos e inveterados materialistas do século passado renderam-se diante da evidência dos fatos.

E Chico Xavier, que detém mediunidade segura, graças às aquisições do seu passado de sofrimento e de lutas jamais fracassará, pois tem como guia e protetor aquele que sempre esteve junto dele em pretéritas existências: trata-se de Públios Lêntulus, presidente da Judeia, ao tempo do Cristo.

Hoje, no Plano Espiritual, mais ligado ao Chico por laços afins, após ter sido Manoel da Nóbrega, companheiro da Anchieta, quando muito contribuiu para assentar as bases do Cristianismo Nascente em nossa Pátria, apresenta-se como Emmanuel, cujo nome significa "Deus conosco", para continuar a grandiosa obra de evangelização em nossa terra, servindo-se da sua mediunidade desde 1931, quando apareceu ao médium pela vez primeira, como um velhinho de barbas longas e brancas, apoiado num cajado.

Desde então, a faculdade mediúnica vem-se aprimorando cada vez mais. Não sabemos qual técnica usada pelos mentores da espiritualidade para este aprimoramento, mas de uma coisa temos certeza: as obras que até agora foram ditadas por seu intermédio, abordando assuntos de ordem científica, filosófica e religiosa, atestam que está, realmente, preparado para o exercício mediúnico que abraçou desde o dia 7 de maio de 1927, quando assistiu à primeira sessão espírita. Nesse dia, fora dado por ele o primeiro passo. Outros mais seguiram-se a este e, em 1932, a Federação Espírita Brasileira lançava seu primeiro livro "Parnaso de Além-Túmulo" com grande sucesso, pois não deixava dúvida quanto à autoria atribuída às poesias compiladas nessa monumental obra literária.


Victor Ribas Carneiro, Jornal Espírita, julho de 1977, São Paulo, SP



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