Traços de Chico Xavier

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CAPÍTULO 9
Ilustração tribal

Cidadão da Luz


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Vou começar lembrando meu primeiro contato com Chico Xavier.

Sim, era julho de 1974 e eu estava noutra. Me tinha por escritor e fazia um livro sobre a Revolução Farroupilha de 1835. Não sei porque fui redigi-lo em Uberaba, eu precisava de reconhecimento e solidão. Num sábado à noite, cansado de pesquisas e apontamentos, fui ao Centro "Comunhão Espírita Cristã", pensando em aliviar a cabeça. Conhecer o médium de que todo o Brasil falava. Bem, a fila era enorme, eu queria apenas cumprimentá-lo por curiosidade. Eu tinha um livro de poesias (Um Violinista te Acompanha do Exílio), fui me chegando pelo lado e, quando ele me notou, ofereci-lhe o livro. Chico abriu-o ao acaso, leu algumas linhas, olhou-me e perguntou se eu podia aguardá-lo na sala ao lado.

Surpreso pela distinção que ele me oferecia, aguardei-o sentado por mais de uma hora. Como a fila continuava enorme, já era uma hora da manhã, achei que ele me havia esquecido e tratei de ir embora. Nesse instante, Chico adentrou a sala. Não me lembro agora sobre o que conversamos no início, mas recordo que ele me disse: "Você veio hoje aqui trazido por sua falecida mãe (. . .) . Ela sente-se muito feliz, está atrás de você trajando um vestido azul com bolinhas brancas e um coque romano no cabelo preto. Diz que você a chama de "Téia" e que sua grande esperança foi, e é, vê-lo cooperando na obra da Criação Divina". . . Sim, foi isso. Ninguém me conhecia na cidade, não era telepatia, mas como ele poderia saber? Empalideci, a boca ficou sem saliva, o que ele dissera batia 100% com a realidade.

Eu não acreditava em espíritos nem na sobrevivência da alma, meus valores eram outros, eu me tinha por ateu assumido, irretocável, aquilo era a negação básica das minhas armações racionalistas.

Minha mãe era espírita e, antes de morrer, disse-me: "Tu não crês mas, um dia, todos nós temos nossa Estrada de Damasco. Sei que vou desencarnar (ela estava com câncer terminal), mas estarei orando por ti". Foi a maior perda da minha vida, junto com a do meu filho Fernando Augusto, num acidente de moto. Saí de Uberaba intrigado, conflitado, confuso mesmo. Antes repetira para mim mesmo o famoso monólogo de Amado Nervo, ante o féretro da mãe que tanto amava: "Padre de los vivos, adonde van los muertos, adonde van?". . . Bem, o tempo passou, as águas do rio desceram para o grande mar, muita coisa mudou. A vida mudou. Eu mudei. À minha mãe e Chico Xavier, devo para sempre a opção de seguir o caminho da espiritualidade.

Sou servo que chega atrasado ao banquete do Senhor, mas é importante pra mim que esteja entre os convidados.

Sei que Chico Xavier lerá estas pobres linhas, então este recado me é importante: Convivemos alternadamente entre os anos de 1972/1984 e nos correspondemos até hoje. Compusemos juntos dois livros e tecemos sublimes ideais. Dentre as inúmeras coisas que aprendi condigo sobre mediunidade confiável, a principal delas é que o médium nunca deve mentir.

Lastimo que o mundo não tenha compreendido melhor tua mensagem. É antigo hábito da humanidade ignorar, desvalorizar ou desprezar seus mentores e profetas. Sei que depois, depois e muito depois de teres ido para o Mundo Maior, povos e nações te buscarão nas luzes do passado e no pressentimento do porvir. Quando vierem as horas de provação coletiva, algumas já acontecidas, outras sem andamento, te buscarão para ouvir-te.

Uma vez me disseste que, no Além, gostarias de continuar médium. Acho que isso é o que vai acontecer. Aos que te buscarem em horas de sofrimento, aflição ou problemas difíceis, continuarás o medianeiro entre a Espiritualidade Superior e a Humanidade chapinhando entre paixões e trevas.

Habitas o reino onde a luz nunca se apaga.

Não conheço a linguagem dos anjos, por isso não encontro palavras para manifestar-te minha gratidão. Que um dia todos os médiuns confiáveis da Terra possam, ou possamos nos reencontrar auxiliando o amanhecer espiritual da evolução terrestre. O espiritismo ajuda-nos a compreender, medir e aceitar o peso de nossa cruz. Todos somos filhos de Deus por igual; e todos, e cada um, teremos de despertar para a vida Maior. É da Lei Divina e é indesviável. Roga a nós, portanto, teus irmãos pela filiação Divina e pela fraternidade, que nossos caminhos sejam os da justiça e mais os da misericórdia. Porque tu próprio, pelos exemplos que vivenciaste, és a personificação da Misericórdia.

Concluíste tua parte no labor e no sonho. Ensinaste-nos como viver para que Deus permaneça conosco. Porque a morte não separa os afetos verdadeiros, é certo que um dia nos reencontraremos sob a égide de Deus.

Fernando do Oz Folha Espírita, maio de 1995 Nota de Folha Espírita: Explicação aos leitores: até aqui usei meu nome civil de nascimento, Fernando Worm. Muita pessoas tinham dificuldade de pronunciar corretamente meu sobrenome, de origem austro-húngara. Então, resolvi cortar três letras do sobrenome, para simplificar. Adotei o pseudônimo: Fernando do Ó. Letra O de Cristo, de Amor e de Trabalho, passando depois a Fernando do Oz.



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