Amor e Verdade
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Capítulo 3
Laura Maria Machado Pinto
Henrique, é muito difícil escrever depois de tamanhas provocações.
Isso ocorre porque de um lado é a dor fixada de modo irremovível e de outro a transformação amarga na essência, mas sempre configurado a promessa de melhores dias.
Compreendo o seu sofrimento que é o nosso, entretanto, estaria consolada com o reconforto que você pudesse articular, adentro de você mesmo, em nosso benefício.
Nossas lágrimas se entrelaçam,nossas tribulações ainda não diminuíram.
Ainda assim, muito embora traga o coração partido pela saudade e pela angústia daquele acontecimento que as palavras não descrevem, peço a você coragem e fé em Deus...
Minha benfeitora falou do estranho poder materno de que Deus dotou a alma da mulher-mãe e me afirmou que o descanso me alcançaria tão logo visse as meninas devidamente protegidas e reconfortadas...
Admito que não suportaria ver você, chorando por mim, desconhecendo em que cinzas se me consumira a identidade pessoal.
Refletindo na sua agonia espiritual, diante do que restava de nós, deixei que as lágrimas me ensopassem as vestes alvas do pouso em que me estirar.
A vovó Carmela e outras afeições se encarregavam de consolar-nos.
Nós, os adultos, para logo entrarmos no conhecimento do acidente de que nos retiráramos tão despojados de tudo, como quando nascemos na Terra.
Querido Henrique, você sabe que eu não entregaria você a ninguém, no sentido de me substituir junto ao seu coração dedicado e amigo, entretanto, nesse outro lado da vida, é impossível que o nosso amor deixe de ser amor verdadeiro e o amor verdadeiro pede forças para afirmar-lhe que, depois do aguaceiro de pranto, outras alvoradas surgirão.
Você está moço e não nasceu para uma vida de experimentações e desequilíbrios.
Laura Maria Machado Pinto