Irmã Vera Cruz
Versão para cópiaBendita luz dos protetores franciscanos
As suas preces me buscam. Respondo, confiando em que Jesus nos concederá a solução precisa aos problemas em vista.
Entendo as suas dificuldades que são igualmente minhas. Não conseguimos impor as nossas convicções aos mais queridos. Tenho falado a todos na linguagem do pensamento.
À querida mamãe Ambrosina rogo coragem para viver, superando as saudades que nos marcam os dias.
Em Arnaldo, tento infundir as ideias de libertação, porque seria crueldade em sua irmã exigir no esposo ainda jovem um tipo de vida espiritual, claramente incompatível com os seus impulsos naturais de homem integrado em necessidades que, de minha parte, devo considerar como sendo comuns. Arnaldo é livre e precisa viver com a nobreza que lhe conhecemos, sem atividades inconfessáveis no terreno dos sentimentos próprios.
Em Maurinho, o filhinho que presentemente é mais nosso, procuro incutir fé em Deus e amor ao dever que necessita cultivo, tão cedo quanto possível, na alma sensível de uma criança.
Em todos os nossos, diligencio reacender a confiança na Providência Divina, entretanto, querida irmã, as lutas não são pequenas para mim, diante do impositivo de garantir a tranquilidade no grupo familiar.
A nossa querida Cida se traumatizou, de tal modo, com a nossa separação temporária, que o sofrimento em nossa irmãzinha ultrapassou o nível da saudade para transformar-se em desespero.
Milza, peça. Peça a todos os nossos para que não me suponham transferida prematuramente para a Vida Espiritual. Onde estaria a nossa fé na Sabedoria e na Bondade de Deus, se fôssemos lançar culpas imaginárias num médico amigo, a quem beijo as mãos de benfeitor?
Onde colocamos os princípios de respeito a Jesus que nos presidiram constantemente a vida, em criando opiniões positivamente contrárias à verdade?
Ninguém julgue tenha sido vítima de processos inadequados de anestesia. Ninguém poderia barrar as paradas de meu coração doente senão Deus, e Deus já me havia concedido a graça da aceitação de meus momentos difíceis, iluminando o meu silêncio de luz, daquela bendita luz que os protetores franciscanos mantiveram em minhalma.
Saibamos ser gratos a quem nos deu tanto. Daqui, deste novo mundo em que me vejo, o acatamento às Leis Divinas é mais vivo em nós.
O hospital foi meu refúgio de paz e as mãos abençoadas que me cirurgiaram os olhos foram mãos de um amigo que sofreu comigo quando a inquietação me espreitava a hora final do corpo e que, em pensamento, se uniu a mim, querendo que eu vivesse. Grande amigo e devotado benfeitor! Deus o recompensará pela segurança que me proporcionava e pela esperança com que caminhou espiritualmente comigo, dia por dia, até que a Bondade do Pai me libertasse.
Rogue à Cida que compreenda isso e que me aceite as súplicas de irmã reconhecida. Todas as dificuldades passarão. Confiemos.
Nossa mãe precisa viver, sobrevivendo a tantas provas. Por isso mesmo, espero que os conflitos de ideias desapareçam de todo, para que ela tenha tranquilidade e bom ânimo.
Quanto às nossas tarefas em nosso recanto, continue trabalhando. Não se aflija por solidão que não existe. Lembre-se de que Jesus é Companheiro Invisível mas sempre conosco, representado por todos aqueles que lhe espalham as bênçãos de amor.
Um pão, uma frase de encorajamento, a migalha de recursos materiais e a luz de uma oração representam parcelas de um tesouro que se acumulará sempre nos Créditos Divinos, em auxílio daqueles que às distribuem.
Ajudar será sempre ajudar-nos.
Abençoar os outros é receber novas bênçãos em nós e para nós.
Prossigamos. Os cooperadores que devamos ter, no Plano Físico, se encontram a caminho e o melhor endereço para que nos encontrem será, em qualquer ocasião, o bendito lugar de nosso trabalho na sementeira do Bem.
Agradeço as suas queridas preces da semana que nos resume tantas lembranças e tantas aspirações à Vida Superior.
Hoje, compreendo, mais do que nunca, que a religião mais viva é aquela em que alguém se lembra dos outros, como sendo os nossos próprios irmãos perante Deus.
A caridade é o ponto de encontro, em que Jesus nos toma pelas mãos, guiando-nos para uma vida melhor.
Querida Milza, não se preocupe tanto e trabalhe pelo bem, sempre mais. Isso é o que importa.
Não se impressione quando essa ou aquela notícia de sua irmã venha a demorar, neste correio de orações. Isso não é ausência, é expectativa para que se possa escrever sem prejuízo para ninguém.
Peça à mamãe para que me abençoe, e rogo à Cida auxiliar-me. Venho procurando colaborar em favor de nosso irmão Abdala, e nossa irmã Olímpia continua ajudando-nos sempre.
Querida irmã, receba o abraço de muito carinho, com a alegria e confiança, com a paz e com as saudades de sua irmã e companheira muito reconhecida,
Vera Cruz
SILÊNCIO ILUMINADO DE LUZ
Da terceira mensagem de Vera Cruz, recebida pelo médium Xavier, em reunião pública da noite de 16 de outubro de 1976, destacamos alguns pontos importantes para a nossa meditação em torno da Imortalidade.
1 — “Arnaldo é livre e precisa viver com a nobreza que lhe conhecemos, sem atividades inconfessáveis no terreno dos sentimentos próprios.” — Mais uma vez, a Autora Espiritual volta a bater na mesma tecla, que foi objeto de nosso estudo no item 12 do Capítulo anterior.
Para valorizarmos ainda mais as palavras de Vera Cruz, sugerimos a leitura, se possível, do capítulo intitulado “O Império dos mortos”, do livro A Vontade de Viver, de Wilhelm Stekel, cuja primeira edição, na Alemanha, data de 1920, no qual o autor nos demonstra o quanto é grave alguém continuar vivendo na Terra, mas vinculado a figuras mortas, tentando seguir-lhes antigos ditames, e não buscando, por imperativo maior, a necessária renovação.
2 — “A nossa querida Cida se traumatizou,” — Com efeito, D. Maria Aparecida Leitão Abdala, segundo nos afirmou D. Milza, levou longo tempo para se conformar com a desencarnação da irmã, e o médium desconhecia, obviamente, esse importante pormenor.
3 — “Ninguém julgue tenha sido vítima de processos inadequados de anestesia.” — Lembrando-nos de que Vera Cruz nomeia o médico que lhe operou os olhos de amigo e benfeitor, consultemos, acima, o item 14 do primeiro Capítulo.
E não nos esqueçamos do respeito com que Francisco se referia aos médicos, ele, também, portador de doença ocular.
Vejamos, em torno do assunto, apenas alguns passos de seu contemporâneo e primeiro biógrafo :
“Quando São Francisco morava em um eremitério perto de Rieti, visitava-o um médico, todos os dias, para cuidar de seus olhos. Certo dia, disse o santo aos frades: “Convidai o médico e dai-lhe um bom almoço”. O guardião respondeu: “Pai, digo ruborizado que tenho vergonha de convidá-lo, tanto somos pobres”. O santo respondeu dizendo: “Por que queres que o diga outra vez?” E o médico, que estava presente, disse: “Também eu, irmãos caríssimos, vou achar que é uma delícia a vossa penúria”. Os frades correram e puseram na mesa toda a provisão de sua despensa, isto é, um pouquinho de pão e não muito vinho. Para comerem um pouco melhor, serviu-lhes a cozinha um pouco de legumes. Nesse meio tempo, a mesa do Senhor teve pena da mesa dos servos. Bateram à porta e eles logo atenderam. Era uma mulher que lhes deu uma cesta cheia de um belo pão, de peixes e de pastéis de camarão, e com mel e uvas por cima. Exultou a mesa dos pobres quando viu isso e, deixando seus alimentos pobres para o dia seguinte, comeram naquele dia os mais preciosos. O médico deu um suspiro e disse: “Irmãos, nem vós quanto deveríeis, nem nós seculares conhecemos a santidade deste homem”.”
“Vou contar rapidamente um fato admirável, de interpretação duvidosa mas de autenticidade garantida. Viajando o pobre de Cristo, São Francisco, de Rieti para Sena, para cuidar dos olhos, atravessava a planície da Rocha de Campília, tendo como companheiro de viagem um médico ligado à Ordem. (…) E pensando que aquelas mulheres fossem realmente pobrezinhas, virou-se para o médico que o acompanhava e disse: “Peço-te, pelo amor de Deus, que me dês alguma coisa para eu dar a essas pobrezinhas”. O homem deu imediatamente. Voou do cavalo e deu moedas para cada uma. Prosseguiram pouco depois o seu caminho mas, voltando-se logo o médico e os frades, não viram sinal das mulheres em toda aquela planície. Muito admirados, juntaram mais esse fato às maravilhas do Senhor, sabendo que não havia mulheres capazes de voar mais rápido que as aves.”
“No tempo da doença da vista, sendo obrigado a permitir que cuidassem dele, chamaram um médico. Ele veio, trouxe um ferro de cauterizar e mandou colocá-lo no fogo até ficar em brasa. O bem-aventurado pai, animando o corpo já abalado de medo, assim falou com o fogo: “Meu irmão fogo, o Altíssimo te fez forte, bonito e útil, para emulares a beleza das outras coisas. Sê camarada comigo, sê delicado, porque eu sempre te amei no Senhor. Rogo ao grande Senhor que te criou, para que abrande um pouco o teu calor, para que queime com suavidade e eu possa aguentar”. (…) O instrumento penetrou crepitando na carne mole e a cauterização se estendeu desde a orelha até o supercílio. (…) E para o médico: “Se ainda não queimou bem, aplica outra vez!” Percebendo a diferença daquele caso, o médico exaltou o milagre: “Eu vos digo, irmãos, que hoje vi uma coisa admirável”. Acho que tinha recuperado a inocência primitiva esse homem que, à sua vontade, amansava o que por si não é manso.”
“Chegava a convidar para o louvor até a própria morte, que todos temem e abominam, e, correndo alegre ao seu encontro, convidava-a com hospitalidade: “Bem-vinda seja minha irmã, a morte!” Ao médico disse: “Irmão médico, diga com coragem que minha morte está próxima, para mim ela é a porta da vida!”.”
4 — “Os cooperadores que devamos ter, no Plano Físico, se encontram a caminho e o melhor endereço para que nos encontrem será, em qualquer ocasião, o bendito lugar de nosso trabalho na sementeira do Bem.” — Oportuno lembrete este para aqueles que estão à frente das instituições de assistência social, quando chegam a se angustiar ante o intempestivo afastamento de determinados irmãos, que resolvem trilhar outros caminhos, alguns deles perseguindo objetivos inferiores. Em clima de preces, que todos possam aguardar a chegada dos novos seareiros, que “se encontram a caminho.”
5 — “A caridade é o ponto de encontro, em que Jesus nos toma pelas mãos, guiando-nos para uma vida melhor.” — Sem dúvida, tanto o “amai-vos uns aos outros” do Cristo, e a carità perfetta de Francisco, quanto o “Fora da Caridade não há salvação” de Kardec, nos induzem à prática da caridade, cabendo-nos ouvir a recomendação de Adolfo, bispo de Argel, transmitida em Bordéus, em 1861: “Possam meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio contra as aflições da vida. Oh! quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar abaixo de vós; vede quanta miséria a aliviar; quantas pobres crianças sem família; quantos velhos que não têm mais uma só mão amiga para os socorrer e lhes fechar os olhos quando a morte os reclame! Quanto bem a fazer! Oh! não vos lamenteis; mas, ao contrário, agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias vossa simpatia, vosso amor, vosso dinheiro a todos aqueles que, deserdados dos bens desse mundo, definham no sofrimento e no isolamento. Colhereis nesse mundo alegrias bem suaves, e mais tarde… só Deus o sabe!…”
6 — “Não se impressione quando essa ou aquela notícia de sua irmã venha a demorar, neste correio de orações. Isso não é ausência, é expectativa para que se possa escrever sem prejuízo para ninguém.” — Muito útil esta recomendação, uma vez que, havendo grande número de entidades espirituais necessitadas de transmitir, com urgência, seus recados aos familiares que ficaram no mundo, as que já deram suas notícias, em oportunidades anteriores, podem ceder o lugar, de bom grado, àquelas primeiras, levando-se em consideração, ainda, que elas mesmas poderão servir de intermediárias para a transmissão de algum comunicado que venha a se lhes afigurar inadiável.
7 — Nosso irmão Abdala: Trata-se de Abdala Melin, desencarnado a 13 de julho de 1975. Sobre ele, eis o que diz o Dr. Antônio Emílio Borges, em comunicado pessoal:
“Quanto ao irmão Abdala, mencionado na mensagem, devemos esclarecer o seguinte: a irmã de Milza, Maria Aparecida, casou-se com Latuf Melin Abdala. Entre os irmãos de Latuf citaremos dois, o primeiro Melin Abdala, desencarnado há muitos anos, e o segundo, conhecido como Abud Abdala Melin, desencarnado dois meses após o passamento de Vera.
À primeira vista, a mensagem parecia obscura: a qual dos dois irmãos se referia Vera, pois se ambos tinham o mesmo sobrenome de Abdala?
Quando ainda cheia de dúvidas, Milza mostrou a mensagem a Latuf, este esclareceu aquele aparente equívoco, que revela conhecerem os Espíritos coisas que a maioria dos encarnados ignoram.
Por um equívoco, o nome de Abud foi omitido pelo escrivão, que o registrou apenas como Abdala Melin, que eram os dois sobrenomes da família colocados em sentido contrário. Assim, o segundo sobrenome da família ficaria sendo o prenome do registrado.
Inconformada com tal engano, a família apelidou-o de Abud, apelido pelo qual ele ficou conhecido durante toda a sua vida terrena. Semelhante fato era conhecido apenas pelos pais (já falecidos) de Abud, e de seus irmãos. Maria Aparecida, a esposa de Latuf, desconhecia-o também.
Assim, não resta qualquer dúvida de que a mensagem se refere ao segundo irmão.”
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações; enquanto que um se compraz em seu horizonte limitado, o outro, que compreende alguma coisa de melhor, se esforça para dele se libertar e sempre o consegue quando tem vontade firme.” — Cap. XVII, 4.
“À fé é preciso uma base, e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer; para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender.” — Cap. XIX, 7.
Elias Barbosa
[40] Wilhelm Stekel, A Vontade de Viver, Tradução supervisionada por F.M.J., Editora Mestre Jou, São Paulo, 1966, pp. 111-115.
[41] Tomás de Celano, Vida de São Francisco de Assis, pp. 116-117; 142; 182-183; 184; 209-210.
[42] Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, nº 11, Trad. de Salvador Gentile, 8ª edição revista e corrigida, 1980, pp. 176-177.
Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 3.
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