Mensagem do Amor Imortal (A)
Versão para cópiaJESUS E FAMÍLIA
Terminadas as fainas diárias, quando se encontrava em Cafarnaum, a encantadora cidade à margem do Tiberíades, Jesus mantinha inolvidáveis tertúlias com os companheiros e outras pessoas que vinham ouvi-lO sob a tênue claridade das estrelas refulgentes no zimbório celeste.
Invariavelmente, nas noites primaveris, perfumadas e serenas, sentava-se na proa de alguma embarcação encalha¬da nas areias úmidas do mar, ou particularmente naquela que pertencia a Simão Pedro, e abordava temas do cotidiano, a fim de instruir os ouvintes interessados.
Noutras ocasiões, nos períodos outonais ou invernosos, utilizava-se da ampla sala da residência do querido pescador, e ali discorria sobre as necessidades humanas, seus conflitos, suas lutas, seus anseios de felicidade. . .
Essas lições, de suma importância, constituíam os alicerces para a construção do amor no imo das almas, bem como para oferecer segurança no comportamento quando surgissem situações inabituais, quase sempre geradoras de perturbação.
Os discípulos, curiosos uns e necessitados outros, aproveitavam-se das excelentes ocasiões para manterem a intimidade com o Amigo que os conduzia serenamente ao equilíbrio e à sabedoria.
Ele jamais se cansava ou se sentia incomodado com as perguntas ingênuas, fora do contexto das narrativas ou resultantes de equivocações.
Pacientemente, ouvia-os a todos e elucidava-os, demonstrando inesgotável paciência, característica própria da Sua personalidade extraordinária.
Numa dessas ocasiões, após a pregação do entardecer, quando narrara diversas parábolas, nelas guardando as pérolas luminosas da Revelação, e o povo retomara as suas atividades no retorno aos lares, Ele acercou-se do velho barco, seguido pelos discípulos e sentou-se, preparando-se para ouvi-los e elucidá-los.
A Natureza respirava perfumes suaves carreados nos braços dos ventos brandos.
Pairavam nas mentes e nos corações ansiedades feitas de alegrias e expectativas.
João, o discípulo amado, acercou-se-Lhe, e com serenidade, O interrogou:
— Quando dizemos que Deus é nosso Pai Amantíssimo, porque é o Criador de todas as coisas, depreendemos que todos somos irmãos, mesmo em relação àqueles que se afastam de nós e nos detestam?
— Sem dúvida, João - confirmou o Amigo - os maus e indiferentes, os perversos e odiosos também são nossos irmãos, pois que, se fora ao contrário, concordaríamos que existiria outro Genitor Divino. Pertencemos todos à família universal, ligados, uns aos outros, pela mesma energia que a tudo deu origem. A fim de que o amor se estabeleça entre as criaturas de conduta e de sentimentos tão difíceis, o Excelso Pai fez o ser humano também cocriador, contribuindo com ele para o crescimento de cada um, através da união conjugal, da qual surge a família consanguínea, que é pródromo da universal. Graças à união dos indivíduos pelo sangue, surgem as oportunidades da convivência saudável, mediante o exercício da tolerância e da fraternidade, em treinamento para a compreensão dos comportamentos antagônicos, que serão enfrentados nos relacionamentos fora do lar. "Assim, a família biológica é a célula inicial do organismo geral em que todos se movimentam. "
-E por que - prosseguiu, indagando - embora o grupo seja procedente dos mesmos pais, cada um dos seus membros é tão diferente do outro, chegando alguns a ser totalmente antagônicos entre si?
-Porque, nem todos procedem do mesmo conjunto moral -
respondeu, afável. Os Espíritos que irão habitar os corpos são criados sem experiências, desconhecendo as razões da vida, os processos de crescimento moral, uns adiantando-se mais do que outros, que estacionam nos erros e nos procedimentos incorretos, desse modo, tornando-os diferentes, portadores de aspirações e emoções distintas. "Nas experiências dos renascimentos sucessivos, criam situações embaraçosas para eles mesmos, tornando-se rebeldes e demorando-se na insensatez. Não poucas vezes, dominados pelos sentimentos inferiores, que não sabem ou não querem combater, inimizam-se com os demais, tornando-se-lhes adversários ferrenhos, sob a ação danosa da inveja e do egoísmo. "O Pai Generoso, a fim de ajudá-los a refazerem as experiências malogradas, proporciona-lhes novas experiências ao lado daqueles contra os quais se obstinam, na família consanguínea, em que as necessidades de evolução lhes trabalham as imperfeições. Eles constituem, desse modo, motivo de educação moral para os outros, ao tempo em que despertam para as emoções elevadas do amor e da fraternidade. Convivendo num meio saudável, e sendo motivo de apreensão e de luta, a pouco e pouco, despertam para os deveres da solidariedade e do bom relacionamento, iniciando o processo de transformação para melhor, para o bem e para a felicidade real. "Vejamos os exemplos entre nós, de Pedro e André, você e Tiago, unidos pelo mesmo sangue e, entretanto, com sentimentos próprios, diferentes, independentes, que reuni em torno de mim, iniciando a família universal. . . "A família doméstica, portanto, não é resultado apenas da união daqueles que se amam, porém, de todos quantos se necessitam, a fim de que se ajudem uns aos outros, gerando dependência afetiva. "
— E quando um viúvo - indagou Tomé com seriedade — que é pai, une-se em novo casamento, volta a ter filhos com a nova mulher, como será essa família?
-Não importa de quem seja a progenitura - esclareceu o Mestr e — porquanto, ao infinito, é sempre de Deus, impondo a união e o respeito entre todos, preservando a identidade fraternal, que um dia unirá todas as criaturas como ovelhas de um rebanho único. "Os pais terrestres são instrumentos transitórios da Divina Sabedoria, que deles se utiliza para o aperfeiçoamento das almas no seu processo de elevação. Podem ser considerados o solo fértil onde são depositadas as sementes que se converterão em vida e abundância, desenvolvendo os recursos que lhes dormem no íntimo, necessitadas, por enquanto, desse recurso espiritual. "
— E quando procedem de raças estranhas e inferiores — tornou à carga, o discípulo sisudo — não pertencentes ao grupo dos eleitos israelitas, como considerá-los irmãos ou membros da família espiritual?
O Senhor cravou os olhos luminosos no discípulo presunçoso, e respondeu com suavidade:
-O Pai de Sabedoria não elege uma raça em detrimento de outra, o que significaria ter paixão e ser prepotente, caso o fizesse. Quando nossa raça é tida como eleita, isso não significa superioridade, mas responsabilidade pelo conhecimento de que é portadora em face dos profetas e dos reveladores que nela apareceram, ao largo dos séculos, a fim de orientar as outras, ainda não conhecedoras da verdade, pelo melhor caminho a percorrerem. Não se trata de um privilégio, que não existe diante do Ser Supremo, mas sim, de uma grave condição para mais amar e melhor auxiliar a todas as outras. Não procedem os samaritanos do mesmo pai Abraão? Não são humanos como os judeus, crendo no mesmo Deus e nas Leis apresentadas por Moisés?
Por que o ódio que os separa, senão herança do primarismo espiritual, colocando-os distantes do mandamento do amor como essencial para a felicidade na vida eterna?! "No meu Reino, aquele que o Pai me confiou, todos viverão juntos e amando-se, procedam do setentrião ou do meio-dia, de um ou do outro lado da Terra. Eu venho para unir o que se encontra separado, para recuperar o que se haja perdido, para demonstrar que somente o amor é capaz de produzir a felicidade real entre todos os seres da Terra. . . . Eu vos tenho como a minha família. Por isso mesmo, oferecer-me-ei em holocausto, dando a vida, para que todos compreendam, por fim, que apenas o amor liberta e somente a doação enriquece. .
Os companheiros, colhidos de surpresa pela informação, que não puderam assimilar de imediato, ficaram pensativos, enquanto o vento suave percorria a paisagem.
O Mestre levantou-se, e, lentamente, afastou-se do grupo ensimesmado, caminhando pela praia adornada pelas rendas das espumas do mar que se desfaziam na areia molhada. . .
Quase três anos depois, quando se encontrava na cruz, expirando, e ouviu o grito de sua santa mãe chamando-O de filho, Ele fitou João, que se encontrava ao lado dela, e propôs a família universal do amor, enunciando:
— Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe!. . .
Rompiam-se, naquele momento, os laços da família biológica para ampliarem-se os sentimentos de união na família universal.
Paramirim-BA, em 18. 07. 2007.
AMÉLIA RODRIGUES
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João 19:26
Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
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João 19:27
Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa