Mensagem do Amor Imortal (A)
Versão para cópiaA PIOR CEGUEIRA
Somente angústia ressumava Tomé, o Dídimo, após os acontecimentos trágicos que culminaram na maldita Colina da Caveira, quase às portas de Jerusalém. . .
Toda a sinfonia de esperanças que lhe enchia a alma sensível transformara-se em melodia fúnebre de dor e de morte.
Sentia-se ludibriado nos seus sentimentos, traído na confiança que depositara n’Ele.
Acreditara até o último instante, com fé abrasadora, certo de que aquele Deus Todo Amor a que Ele se referia com emoção e beleza impediria as armadilhas da perversidade contra o Seu Filho, inclusive, retirando-O da cruz em momentosa demonstração de poder celestial.
Que pai não o faria, mesmo submetendo-se a qualquer sacrifício?!
Ele se entregara como um cordeiro manso e submisso, sem qualquer reclamação, certamente aguardando que os Seus anjos viessem em Seu auxílio, o que não ocorrera.
Ele fizera tanto!
Os fenômenos realizados comprovavam a Sua procedência, demonstravam-Lhe a grandeza. Todavia, no momento culminante, tudo falhara, acontecendo o sinistro da morte, o inesperado. . .
Tomé não conseguia entender aquelas ocorrências de significado transcendental, pois que, para elas viera Jesus.
A noite moral, em consequência, que se abateu sobre o discípulo, era povoada por sombras densas e fantasmas apavorantes.
Tomé não se interessava anteriormente pelos tesouros espirituais.
A sua existência simplória desenrolava-se relativamente tranquila. Era quase um céptico em relação à sobrevivência espiritual, ou melhor, não conseguia compreender essa realidade.
Não constituíra família, no entanto, ao ser chamado por Jesus, tudo se modificou na sua vida, aceitando, inclusive, os companheiros como se fossem membros do seu mesmo sangue.
Jesus conseguira enriquecê-lo de fé, de esperança no Seu Reino, de alegria de viver.
Evidentemente, adaptou o conceito à sua concepção de gozo terreno, de justiça em relação aos infelizes, de oportunidades iguais para todos, porém, na Terra. . .
As sutilezas espirituais escapavam-lhe por serem inabituais ao seu raciocínio.
Pensava que todos aqueles fatos produzidos por Jesus e que O tornavam maior do que todos os profetas eram para demonstrar o Seu poder, fazendo tremer Caifás, Pilatos e o pusilânime Herodes Antipas, os governantes arbitrários e indignos, que Lhe deveriam ceder o lugar em que se encontravam.
Aquelas autoridades sandias teriam que ser substituídas desde as primeiras horas da revolução preparatória do Reino. . .
Aguardara aquele momento com ansiedade, uma quase desesperação, e tudo acontecera exatamente ao contrário.
Desde o terrível lance no Jardim das Oliveiras, quando Ele se rendeu sem nenhuma resistência àquela matilha humana, pois eram cães alucinados, que o medo o dominou.
Tudo o mais foi imaginação, foram narrativas que lhe chegaram, porque ele não teve coragem para acompanhar o desdobramento das ocorrências. Quis fugir, refugiar-se na solidão em que permanecia. . .
Nada obstante, disfarçando-se, adentrou-se na multidão e O seguiu até o momento último.
Nesse estado de espírito foi que tomou conhecimento da ressurreição, cujas testemunhas eram a ex-obsidiada e os companheiros saudosos, quase em delírio de expectativa para vê-lO.
Ao receber a notícia, fremiu de ira. Acontecera exatamente quando ele se encontrava ausente, o que lhe confirmara a ilegitimidade do fato.
Não podia acreditar, mesmo que O visse. . . - reflexionava em amargura.
Os olhos enganam e, muitas vezes, as pessoas veem o que querem enxergar.
Para ele deveria acontecer de maneira palpável, mediante o contato físico.
Além de ver-Lhe as feridas dos pregos, deveria colocar a mão na chaga produzida pela certeira lança arrasadora. . .
Tomé era vítima da cegueira mais grave: a da alma, que dilacera o coração.
O cego dos olhos pode imaginar e conceber na mente, mas o cego do espírito nega-se a pensar, sequer, na remota possibilidade de algo existir ou acontecer, conforme se narrava.
O primeiro, às vezes, nega porque não visualiza, mas o outro não pretende enxergar, nega-se a ver.
O mundo está repleto de cegos do espírito, aqueles que apalpam e apertam coisas, que abarcam as posses, que se comprazem com o vinho do prazer espúrio que lhes corre nas veias e artérias do sentimento. . .
Há também a cegueira dos néscios e dos que se jactam de sábios, dos esbirros dos poderosos e dos que se apresentam como tal, e que se enganam em relação à precariedade das suas forças. . . Há, ainda, os insolentes e astutos que se acreditam portadores de recursos que se lhes escasseiam, dos soberbos e fátuos que a tudo negam, quando não lhes convém acreditar, ou simplesmente não desejam que se caracterize pela realidade.
Sobejam religiosos hipócritas, literatos presunçosos, artistas embriagados pela fantasia, que também são vítimas dessa estranha cegueira, gritando alto a sua recusa, a sua descrença na ressurreição de Jesus.
Acreditam, isto sim, que o Seu corpo foi roubado pelos aturdidos discípulos, como fora propalado por testemunhas compradas pelo Sinédrio, para evitar que surgisse o mito do Seu retorno. . .
Não têm provas e creem. No entanto, o testemunho daqueles que O viram não lhes é válido.
Passaram-se oito dias desde a sua aparição aos amigos e todos estavam reunidos novamente, inclusive Tomé, o gêmeo.
Subitamente, como uma aragem perfumada que se adentrou na sala, embora a porta estivesse trancada, ouviu- -se também a Sua doce voz saudando:
— Paz seja convosco!
Era Jesus redivivo!
Ante o assombro, explodindo em todos a alegria, o Amigo abandonado e quase desprezado relanceou o olhar pelo recinto e deteve-o em Tomé.
Acercou-se-lhe e, suavemente, propôs-lhe:
— Vê as chagas, toca-as. . .
Abrindo a túnica alvinitente, acrescentou:
— Põe toda a tua mão dentro da ferida no meu peito.
Atordoado, afogando-se em convulsivo e inestancável pranto, Tomé, o cego de espírito, rendeu-se, exclamando:
— Eu creio, meu Senhor!
— Crês porque viste — respondeu-lhe o Mestre: — Bem-
-aventurado, no entanto, é aquele que não viu e creu. . .
Bem-aventurado! Ele dissera. . .
Somente agora ficava concluída a sinfonia do monte, seria essa a última bem-aventurança. . .
Despertando para a verdade, o Dídimo renovou-se, compreendeu qual era o Seu Reino e deu-se-Lhe integralmente a partir de então.
Após a terrível noite em que se debatera em pesadelos hórridos, surgira a madrugada do interminável dia da ressurreição.
Tomé, o Dídimo, consciente da necessidade de espalhar a Mensagem da imortalidade ao mundo, entregou-se a Jesus de tal maneira, que o levou à Pérsia e à índia.
Na índia, iniciou o ministério sobre o Reino incomparável que se encontrava ao alcance de todos que o desejassem conquistar.
Assassinado a flechadas, tornou-se um exemplo de abnegação e de amor. No entanto, ficou imortalizado como aquele que somente acredita se vir, se tocar.
Felizes, porém, são todos aqueles que se inebriam nos aromas do amor que se exteriorizam de Jesus e vitalizam as vidas.
Ele estava na sombra e saiu à luz, então enxergou a verdade.
Salvador-BA, em 14. 01. 2008.
AMÉLIA RODRIGUES
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João 20:24
Ora Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
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João 20:25
Disseram-lhe pois os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.
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João 20:26
E oito dias depois estavam outra vez o seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco.
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João 20:27
Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.
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João 20:28
Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa
João 20:29
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.
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