Dias Venturosos
Versão para cópiaA transcendente sifonia do amor
Desde cedo as nuvens esgarçadas passavam céleres, sopradas por favônios lentos, deixando o céu de azul turquesa despido, silencioso e profundo, no qual o astro-rei se espraiava, com abundância de luz.
As tarefas começaram pela madrugada.
Aqueles homens simples e despretensiosos, que antes não aspiravam mais que à conquista do pão diário, ao modesto conforto do lar e à dádiva de bons vizinhos, subitamente estavam projetados para fora das comezinhas conquistas, procurados por desconhecidos loquazes e interesseiros que, por seu intermédio, desejavam chegar a Jesus.
Repentinamente viam-se num torvelinho, que não sabiam como contornar, prosseguindo nas suas fainas, que nunca mais seriam as mesmas. . .
Estavam em junho, e o calor abrasava mais do que noutras ocasiões.
Aquele dia, especialmente, se apresentava longo, parecendo que as horas não passavam.
Havia algo no ar que os assaltava em preocupação inabitual.
Ainda não se haviam acostumado à nova situação.
Acompanhavam o amigo e viam-nO, gigante, a cada momento. Deslumbravam-se, mas não compreendiam o que estava acontecendo. Não tinham o hábito de reflexionar, menos ainda o de penetrar nas intrincadas complexidades da fé religiosa.
Jesus era diferente.
Seus discursos rasgavam as carnes da alma, como lâ- minas aguçadas, que cicatrizavam logo com o bálsamo da esperança.
Quem O fitasse embriagava-se na luminosidade dos seus olhos mansos.
Os Seus feitos jamais foram vistos antes, e todo Ele era único.
Nunca houvera alguém que se lhe igualasse.
A suavidade da sua voz alteava-se sem desagradar, e a sua energia nunca magoava, exceto aos cínicos e hipócritas, que tentavam confundi-lO, perturbar-lhe o ministério.
Era, sim, uma revolução, aquilo que Ele pregava, porém, de vida e não de morte; para a paz, jamais para a destruição, e a sua espada - a verdade - servia para separar a criatura dos seus embustes e paixões. . .
Buscavam-nO todos, e isso confundia os seus discí- pulos mais próximos, que não entendiam.
O povo, que vivia esmagado, exausto de sofrer a injustiça social, seguia-O, aguardando apoio e libertação. . .
Os opressores, os ricos e debochados, que pareciam duvidar dEle, também O buscavam, apresentando suas feridas morais ou disfarçando-as. E Ele os atendia também, conforme as necessidades que apresentavam.
A cada um, dispensava auxílio especial, próprio, mantendo-se indiferente à bajulação e ao sarcasmo.
Ainda não haviam sido lançadas as bases do reino de Deus.
Jesus chamava a atenção e demonstrava a sua autoridade, pouco a pouco.
A revelação tem que ser progressiva. As criaturas não podem alimentar-se do que não têm condição para digerir; por isso a verdade é desvelada, a pouco e pouco, a fim de não afligir ou não ser identificada.
O Deus de vivos trabalha pelo crescimento dos seres e não pelo seu aniquilamento. Por essa razão, a sua mensagem renovadora fazia-se apresentada com sabedoria, pois que ela alterava por completo os parâmetros existenciais, os objetivos humanos, quase alienando aqueles que não possuem estrutura para realizar as mudanças, conforme devem ser feitas. . .
Jesus sabia-o. Psicoterapeuta especial, medicava, penetrando o ser com a luz incomparável da sua ternura.
A sua proposta se firmava na construção da criatura integral, na qual predominassem a abnegação, o espírito de sacrifício, a compreensão e a renúncia de si mesmo.
Aqueles eram dias ásperos, e ásperos também eram os corações.
Não poucas vezes, os sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus buscaram-nO com maldisfarçada hipocrisia, para O comprometer. Suas perguntas dúbias tinham finalidades nefandas; seus sorrisos melosos ocultavam a ira, a inveja, o despeito, e tudo faziam para perdê-lO.
Jesus conhecia-os, devassava-os com o olhar e os desarmava. . .
Naquele dia de junho, quando o Sol murchava, devorado pelo crepúsculo, e as montanhas ao longe se adornavam de ouro em brasa do poente, destacou-se da multidão que O seguia um escriba, que O ouvira discursar e discutir, e vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-Lhe: - Qual é o primeiro de todos os mandamentos? (Marcos
Aquele era o momento máximo do ministério até então vivido.
Toda a preparação anterior era para aquele instante.
Estaria Ele com ou contra a Lei antiga? Quais seriam os seus planos e estratégias? - pensavam todos.
A indagação direta exigia uma resposta concisa e clara.
Jesus então ripostou, tranquilo:
– O primeiro é: Ouve, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças.
Uma sinfonia mística embalou o ar morno do entardecer, enquanto suave brisa, que soprava do mar, refrescou a Natureza, desmanchando os cabelos do Mestre.
Ele prosseguiu, suave e canoro:
– O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que esses.
Ante o silêncio da multidão extasiada, podia-se perceber que a sua revolução igualava todos os seres no amor: vencedores e vencidos, poderosos e escravos, ricos e pobres, nobres e plebeus, cultos e incivilizados possuíam no amor ao seu próximo um lugar comum, nivelador. . .
Mas era necessário amar-se, desenvolver os valores íntimos adormecidos no ser, a fim de espraiar-se em interesse pelo próximo.
Aquele que não se ama, a ninguém ama. Explora-o, negocia o sentimento, transfere-o por seu intermédio e logo o abandona, decepcionado consigo mesmo.
Quem se ama sem egoísmo, sem o desejo de acumular, porém, vive para repartir; sem a paixão da posse, mas com o sentimento de libertação, ama o seu próximo, conforme Deus nos ama.
O amor é sustento da vida, por ser de origem divina e ter finalidade humana.
Subitamente, despertando da magia envolvente da sua palavra, as pessoas entreolharam-se, sorriram, tocaram-se.
O escriba, emocionado, disse-Lhe:
– Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e que não existe outro além dEle; e que amá-lO com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças e amar o próximo, como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.
Permaneciam as vibrações de paz, e as ansiedades dos corações se acalmavam.
Favônios, agora perfumados pelos loendros em flor, varriam o ambiente, inebriando as almas ali reunidas.
vendo Jesus que ele respondera sabiamente, disse-lhe:
– Não estás longe do reino de Deus.
Era um prêmio para o homem nobre, honesto, sincero em suas crenças.
Estavam lançadas as sementes de luz.
A partir daquele momento não mais sombras; eles co-
nheciam quais eram os meios de que se deveriam utilizar em quaisquer situações: Nunca revidar ao mal - amar.
Jamais ceder ao crime - amar.
Não desistir - amar.
Maltratados e amando.
Incompreendidos, porém amáveis.
Estava inaugurada a Era Nova, e a transcendente sin-
fonia do amor iniciava o período de estabilização do Bem na Terra.
. . . E ninguém mais ousava interrogá-lO. Nem era necessário.
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Marcos 12:28
Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
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Marcos 12:29
E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
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Marcos 12:30
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento.
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Marcos 12:31
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
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Marcos 12:32
E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele;
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Marcos 12:33
E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.
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Marcos 12:34
E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.
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