Luz do Mundo

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CAPÍTULO 11

MULTIDÃO DE SOFRIMENTOS

Sempre estava Jesus Cercado pela multidão. Entardecia...

A multidão representava as enfermidades e mazelas que Lhe eram conduzidas pelos magotes humanos, assinalados pela dor.

Em todos os tempos o sofrimento é a cobrança do pretérito culposo dos atormentados em lapidação benéfica para a própria redenção, em clima de urgência.

A lepra, ingrata e hedionda, procede do espírito que exterioriza a degenerescência dos tecidos sutis, exsudando as misérias íntimas na faina incessante da purificação. Assim a cegueira e a surdez, a paralisia e a mudez, o câncer e tantos outros suplícios expressam o limite imposto ao devedor na faculdade cujo uso foi mal aplicado, fazendo o ser calceta em si mesmo, carecente de imediata reparação.

A falta do órgão ou membro, a desarmonia da faculdade ou função representam sempre a cobrança que chega em forma de controle e educação, predispondo o ser para a liberdade.

E como a dor tem sido a característica da vida humana, Jesus estava sempre cercado pela multidão.

Eram os atormentados de ontem ora envergando as marcas e manchas do passado, na condição de atormentados atuais, buscando, sequiosos, a água lustral do Evangelho do Reino, para lavarem as imundícies da imperfeição.

Cercado pela multidão Ele abria os braços e descerrava os lábios, socorrendo e falando...

A voz modulada em musicalidade divina derramava lições de vida em urgente profilaxia, de modo a que todo aquele que pudesse recuperar-se não tornasse aos erros transatos, a fim de não se acumpliciar com o crime, do que decorre sempre mais graves e danosos compromissos. E as mãos misericordiosas libertavam das amarras limitadas do padecimento, facultando agilidade e meios de crescimento superior aos beneficiados.

A multidão buscava-O sempre ansiosa...

Dos Seus lábios recolhia pérolas em luz, gemas em claridade incomparável para iluminar a senda de percalços e pedrouços. E das Suas mãos recebia o vigor em dádivas de saúde, que renovavam as peças gastas e os implementos orgânicos em desconserto, produzindo o refazimento e a paz.


Amava-O a multidão; ao menos necessitava d"Ele avidamente e O seguia.


* * *

Começava o ministério entre expectativas e ansiedades.

Quantas vezes Israel tivera outros profetas!

Procediam de todos os rincões e se caracterizavam não raro, pela severidade e aspereza dos conceitos que, semelhantes a látego em brasa punitiva, azorragavam com doestos e ameaçavam com longas e penosas correções...

Há pouco escutara-se a Voz do Batista e a sua figura austera derramava o verbo abrasador, conclamando ao arrependimento e ao aproveitamento da hora, antes que se fizesse tarde.

Ele, porém, Aquele suave Rabi, era a mansuetude e a abnegação. Quando o semblante se Lhe fazia grave, a meiguice e a dor exteriorizavam todo o Seu amor e ao mesmo tempo refletia as Suas esperanças, penetrando no porvir, em cujo curso incessante dos tempos o homem encontraria a paz...

Era o mês de Nisan. A tarde caía suave e calma.

A notícia da cura da sogra de Simão, cuja febre repreendida pelos Seus lábios se evadira, atraia a multidão dos necessitados.

Carreados por ventos brandos, aromas sutis balsamizavam a tarde em festa de luz.

A praia amiga, referta de esperanças, suspirando nos corações ansiosos dos homens, ali representava todos os tempos: o ontem e o amanhã da dor perseguindo a paz...

Ele aproximou-se e começou a curar.

Luz Divina em sombra densa, Sua aura reativava as forças fracas, recompondo os desgastes e desalinhos dos infelizes.


O espetáculo da alegria espontânea explodindo, comovia, e a reconstrução da saúde ante o olhar esgazeado de surpresa dos comensais do sofrimento, a rearticulação das faculdades psíquicas dos antes atormentados, os espíritos imundos expulsos pelo Seu magnetismo fascinavam, e, num crescendo, avolumavam-se as emoções à Sua volta... (Lucas 5:40-41) As vozes estremunhadas dos obsessores desligados das vítimas, gritavam: — "Tu és o Filho de Deus!" Ele, porém, sereno e pulcro, respondia: — "Eu vos proíbo de falar. Afastai-vos daqui... " No desabrochar natural das alegrias, uma pausa fez-se espontânea durante o sublime repasto da esperança. Ele, então, falou com eloquência e magnitude:

— Todos os males promanam do espírito. Tende tento!

"O espírito é a fonte gentil e abundante onde nascem a enfermidade e a saúde, o destino e o porvir de cada ser, conforme se acumulam nas nascentes os atos que padronizam as futuras necessidades. Enquanto o homem não mergulhar na intimidade dos seus problemas para solucioná-los à luz da razão e do amor, não conseguirá o lenitivo da harmonia.

"Sois o "sal da Terra". O valor dele é mantido enquanto conserva o sabor.

"Sois a luz" da oportunidade, enquanto mar chardes espargindo bênçãos e distribuindo esperanças.

"Deus, Nosso Pai, é o Criador, mas o homem, ascendendo, é o autor da sua dita ou desgraça.

"Inutilmente buscareis fora a saúde se não a mantiverdes retida no âmago do espírito, cuja perda se transforma em incessante aflição e maior tormento.

"A saúde, a seu turno, é oportunidade de evolução e de responsabilidade para com a vida.

"Buscai antes o amor e fazei todo o bem possivel, para vos conservardes em paz. O amor é a candeia acesa e o bem o combustível que a mantém.


"Pacificai-vos para que vos conduzais em espírito de sabedoria, fazendo longos e proveitosos os vossos dias de júbilo na Terra e felizes, mais tarde, nos Céus. "

Clara manhã. Sua presença apagava a noite sugando-a com beijos de luminosidade libertadora. E por onde andava, lá estava a multidão aflita e Ele prosseguia disseminando a saúde, por ser o Excelente Mensageiro da Vida.


* * *

Ao longe o sol declinava, caindo além dos montes, adornando a paisagem de ouro fulgurante no ar, e todos, tocados pela Sua misericórdia, os antes aflitos, debandaram na direção do lar, deixando a meditar, em profundo recolhimento sob o fulgor das primeiras estrelas, o Filho do Altíssimo...



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Marcos 3:11

E os espíritos imundos, vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus.

mc 3:11
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