Pelos Caminhos de Jesus

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CAPÍTULO 2

A GRADE LUZ

A Galileia era o lugar ideal.

Região feliz e verde, suas gentes simples confiavam de coração.

Vivendo das gentilezas da terra e da fartura piscosa do seu mar, era rica de ternura e de ingenuidade.

O processo da cultura vã ainda não lhe chegara, não lhe pervertera os hábitos, despertando os apetites, as paixões amesquinhantes.

O mar, que é um lago de água doce, medindo doze milhas e meia de comprimento e sete milhas e meia de largura, no seu espaço mais aberto, parece uma turquesa imensa encravada nas montanhas, a refletir o céu.

Suas praias eram salpicadas de povoados e lugares alegres, onde viviam os puros de sentimentos, confiando nas bênçãos de Deus.


Foi essa a região que Ele escolheu para o Seu ministério, conforme acentua Mateus:

—"Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa-nova do Reino, e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. "A Sua fama estendeu-se por toda a Síria e traziam-Lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam de dores e de tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e Ele a todos curava. "Seguiram-No grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão. (Mateus 4:23-25) A dor, que a uns indivíduos asselvaja, a outros dulcifica.

Sempre presente no organismo social de todas as épocas, é parte integrante da vida do homem, fenômeno biológico de desgaste emocional de reajustamento, impositivo de evolução.

Quando o amor se recusa à realização do progresso, a dor propele à sua conquista.

Variando de dimensão na escala das necessidades, ninguém há que a não experimente ou que a desconheça.

Não será de estranhar que as criaturas, diante de qualquer indivíduo que as convoque a uma mudança de comportamento e lhes fale da imperiosa busca de Deus, não apresentem as mazelas e aflições, a fim de se sentirem menos sobrecarregadas, portanto, mais predispostas a ouvirem a mensagem.

O estômago esfaimado dificulta a atenção de outro assunto, que não seja o pão, e impede o raciocínio.

A enfermidade, que enfraquece as resistências físicas e morais, não permite o discernimento que esclarece e guia com segurança.

Diante de Jesus, os homens tornavam-se crianças e despiam-se dos atavismos, apresentando-Lhe as fraquezas e rogando-Lhe apoio.

Ele passeava a Sua misericórdia sobre as humanas tristezas e espalhava alegrias... e responsabilidades...

Somente poucos, porém, entendiam-No, o que é lamentável.

O contato com Ele deveria mudar os rumos das vidas. Nem todos, porém, que O buscavam, após os benefícios recebidos, seguiam-No.

Desatentos e ansiosos iam além, para retornarem ao Seu inefável amor, nos amanheceres do futuro, em outras reencarnações, saudosos da Sua presença e amargurados por havê-Lo deixado.

Deambulam hoje, melancólicos e lutadores, muitos daqueles que O viram e foram socorridos, que estão de volta, falando sobre Ele, e buscando arrancá-Lo da memória longínqua para os momentos presentes...

Quem conheceu Jesus, jamais O olvidará e d’Ele não mais se libertará...

Não importa o tempo que passe.

Impregnado pelo Seu amor, retornará à Sua presença como o rio coleante entre as anfractuosidades do terreno, buscando o mar do qual se separou...


* * *

Não obstante, ingênuos, os galileus pensavam nas questões imediatistas: a faina do dia, o aconchego do lar, o repouso, a devoção religiosa no sábado... Não aspiravam a mais altos e amplos ideais, pois que não os necessitavam.

O pão, o vestuário, a família, a fé — eis as necessidades reais, prementes.

O verbo divino despertava-os para a Vida, a conquista do país interior, o futuro eterno.

Ante a Sua presença alterava-se a paisagem dos sentimentos, e penetrante música dominava-lhes a pauta do coração e a partitura da mente aberta aos sons sublimes.

— O pão — refere-se Ele aos ouvintes curiosos, atentos — desgasta-se e a fome retorna... mas o alimento da alma, que é o conhecimento da verdade, nutre-a para sempre.

A verdade, porém, o que é para aquele povo, que não aspira às grandes conquistas e se basta com o que tem e conforme vive?

Indiferente às tricas farisaicas, teme mais aos sacerdotes do que os ama e respeita.

Os puros de coração alienam-se dos dominadores pelo temor, embora estejam próximos pela servidão, que mais os afasta deles...

— A verdade — explica o Mensageiro de Deus — são o conhecimento de si mesmo, a autoafirmação no Bem, a transformação pessoal para melhor, com incessante esforço de superação das imperfeições, a busca de vida eterna, a saúde integral...

Eles entendem, porque isto é lógico. Porém, estão enfermos, trazem os seus doentes, a fim de constatarem a legitimidade do Embaixador.

As Suas credenciais devem ser apresentadas, a fim de que seja aceito na condição em que se faz conhecer.

Jesus, então, cura as enfermidades, fortalece as debilidades orgânicas, restaura o otimismo, compartilha do festival das dores humanas, levando todos a estados majestosos, altissonantes, de ventura.

A variedade de injunções dolorosas é surpreendente.

O homem, herdeiro dos seus feitos passados, apresenta-se com a ceifa refletida na aparência e na conduta.

O Mestre o sabe e seleciona aqueles que devem ser reabilitados, enquanto outros necessitam de seguir em mais demorada recuperação.

Na azáfama dos labores de reequilíbrio das massas, aparecem os lunáticos, que a esquizofrenia ensandece e os endemoninhados, que a obsessão subjuga.

O desconcerto mental de ambos é, aparentemente, igual;

todavia, a gênese e a manifestação do desequilíbrio são diferentes.

No primeiro caso, o próprio Espírito arruinou os equipamentos mentais. No seguinte, a interferência de outra mente desestruturou a linha da razão e do comportamento.

A consciência culpada, que fugiu à Justiça, insculpe em si mesma os tormentos de que precisa para o ressarcimento da dívida.

A consciência em débito cede o seu campo ao cobrador inclemente que lhe cerceia a área do raciocínio.

Jesus conhece os autoflagelados e identifica os perseguidos.

A estes e àqueles, porém, desembaraça do cipoal da perturbação, pedindo-lhes que se reabilitem e não voltem a comprometer-se. E imperioso que seja seguida a recomendação, a fim de que não venham a tropeçar em problemas maiores, emaranhando-se em dificuldades mais graves e danosas.

E aos inclementes perseguidores concede, também, a liberação, facultando que sejam afastados e cresçam no amor, no perdão, evoluindo no rumo do próprio e do bem geral.

As multidões chegam de toda parte, para ouvi—Lo e beneficia-se.

A Grande Luz está no mundo, e durante aqueles dias não haverá escuridão.

Sua claridade impregna os homens, as paisagens onde brilha e fulgirá através dos tempos, no rumo do futuro e da Humanidade de amanhã.

Buscaram-na ontem as multidões aflitas e disputam-na hoje as culturas e civilizações enlouquecidas, seguindo o atavismo dos benefícios externos, sem a real preocupação de colocá-la no mundo íntimo, a fim de que nunca mais haja trevas.

Por um pouco mais, ainda será assim.

Quando realmente estiver cansado, o homem abrir-Lhe-á a vida e Jesus o tomará em definitivo, auxiliando-o na liberação total. Já então não haverá problemas, nem sofrimentos e somente júbilos e paz.



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Mateus 4:23

E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o Evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.

mt 4:23
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Mateus 4:24

E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava.

mt 4:24
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Mateus 4:25

E seguia-o uma grande multidão da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, e dalém do Jordão.

mt 4:25
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