Os mensageiros

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Capítulo VI

Advertências profundas

— Irmãos nossos, — prosseguiu Telésforo, sob o calor de sagrada inspiração, — fazem-se ouvir na Terra gritos comovedores de sofrimento. Necessitamos de servidores que desejem integrar-se na escola evangélica da renúncia.

Desde as primeiras tarefas do Espiritismo renovador, “Nosso Lar” tem enviado diversas turmas ao trabalho de disseminação de valores educativos. Centenas de companheiros partem daqui anualmente, aliando necessidades de resgate ao serviço redentor; mas ainda não conseguimos os resultados desejáveis. Alguns alcançaram resultados parciais nas tarefas a desenvolver, mas a maioria tem fracassado ruidosamente. Nossos institutos de socorro debalde movimentam medidas de assistência indispensável. Raríssimos conquistam algum êxito nos delicados misteres da mediunidade e da doutrinação.

Outras colônias de nossa Esfera providenciam tarefas da mesma natureza, mas pouquíssimos são os que se lembram das realidades eternas, no “outro lado do véu”… A ignorância domina a maioria das consciências encarnadas. E a ignorância é mãe das misérias, das fraquezas, dos crimes. Grandes instrutores, nos fluidos da carne, amedrontam-se por sua vez, diante dos atritos humanos, e se recolhem, indevidamente, na concepção que lhes é própria. Esquecem-se de que Jesus não esperou que os homens lhe atingissem as glórias magnificentes e que, ao invés, desceu até ao Plano dos homens para amar, ensinar e servir. Não exigiu que as criaturas se fizessem imediatamente iguais a Ele, mas fez-se como os homens, para ajudá-los na subida áspera.

E, com profundo brilho no olhar, Telésforo acentuou, depois de pequeno intervalo:

— Se o Mestre Divino adotou essa norma, que dizer das nossas obrigações de criaturas falidas? Abstraindo-nos das necessidades imensas de outros grupos, procuremos identificar as falhas existentes naqueles que nos são afins.

Em derredor de nós mesmos, os laços pessoais constituem extenso campo de atividade para o testemunho.

Cesse, para nós outros, a concepção de que a Terra é o vale tenebroso, destinado a quedas lamentáveis, e agasalhemos a certeza de que a Esfera carnal é uma grande oficina de trabalho redentor. Preparemo-nos para a cooperação eficiente e indispensável. Esqueçamos os erros do passado e lembremo-nos de nossas obrigações fundamentais.

A causa geral dos desastres mediúnicos é a ausência da noção de responsabilidade e da recordação do dever a cumprir.

Quantos de vós fostes abonados, aqui, por generosos benfeitores que buscaram auxiliar-vos, condoídos de vosso pretérito cruel? Quantos de vós partistes, entusiastas, formulando enormes promessas? Entretanto, não soubestes recapitular dignamente, para aprender a servir, conforme os desígnios superiores do Eterno. Quando o Senhor vos enviava possibilidades materiais para o necessário, regressáveis à ambição desmedida; ante o acréscimo de misericórdia do labor intensificado, agarrastes a ideia da existência cômoda; junto às experiências afetivas, preferistes os desvios sexuais; ao lado da família, voltastes à tirania doméstica, e aos interesses da vida eterna sobrepusestes as sugestões inferiores da preguiça e da vaidade. Destes-vos, na maioria, à palavra sem responsabilidade e à indagação sem discernimento, amontoando atividades inúteis. Como médiuns, muitos de vós preferíeis a inconsciência de vós mesmos; como doutrinadores, formuláveis conceitos para exportação, jamais para uso próprio.

Que resultado atingimos? Grandes massas batem às fontes do Espiritismo sagrado, tão só no propósito de lhe mancharem as águas. Não são procuradores do Reino de Deus os que lhe forçam, desse modo, as portas, e sim caçadores dos interesses pessoais. São os sequiosos da facilidade, os amigos do menor esforço, os preguiçosos e delinquentes de todas as situações, que desejam ouvir os Espíritos desencarnados, receosos da acusação que lhes dirige a própria consciência. O fel da dúvida invade o bálsamo da fé, nos corações bem intencionados. A sede de proteção indevida azorraga os seguidores da ociosidade. A ignorância e a maldade entregam-se às manifestações inferiores da magia negra.

Tudo porque, meus irmãos? Porque não temos sabido defender o sagrado depósito, por termos esquecido, em nossos labores carnais, que Espiritismo é revelação divina para a renovação fundamental dos homens. Não atendemos, ainda, como se faz indispensável, à construção do “Reino de Deus” em nós.


Contudo, não abandonemos nossos deveres a meio da tarefa. Voltemos ao campo, retificando as semeaduras. O Ministério da Comunicação vem incentivando esse movimento renovador. Necessitamos de servidores de boa vontade, leais ao espírito da fé. Não serão admitidos os que não desejarem conhecer a glória oculta da cruz do testemunho, nem atendem aqui os que se aproximem com objetivos diferentes…

Aqui estamos todos, companheiros da Comunicação, endividados com o mundo, mas esperançosos de êxito em nossa tarefa permanente. Levantemos o olhar. O Senhor renova diariamente nossas benditas oportunidades de trabalho, mas, para atingirmos os resultados precisos, é imprescindível sejamos seguidores da renunciação ao inferior. Nenhum de nós, dos que aqui nos encontramos, está livre do ciclo de reencarnações na Crosta. Todos, portanto, somos sequiosos de Vida Eterna. Não olvidemos, desse modo, o Calvário de Nosso Senhor, convictos de que toda saída dos Planos mais baixos deve ser uma subida para a Esfera superior. E ninguém espere subir, espiritualmente, sem esforço, sem suor e sem lágrimas!…


Nesse momento, cessou a preleção de Telésforo, que abençoou a assembleia, mostrando o olhar infinitamente brilhante e aceitando, em seguida, o braço de Aniceto, para afastar-se.

Debaixo de profunda impressão, em face das incisivas declarações do instrutor, observei que numerosos circunstantes choravam em silêncio.

Ao meu olhar interrogativo, Vicente explicou:

— São servidores fracassados.

Nesse instante, Telésforo e o nosso orientador postaram-se junto de nós.


Duas senhoras, de grave fisionomia, aproximaram-se respeitosamente e uma delas dirigiu-se a Aniceto, nestes termos:

— Desejávamos o obséquio de uma informação concernente à próxima oportunidade de serviço que será concedida a Otávio.

— O Ministério prestará esclarecimentos respondeu o interpelado, atencioso.

— Todavia, — tornou a interlocutora, — ousaria reiterar-lhe o pedido. É que Marina, grande amiga nossa, casada na Terra há alguns meses, prometeu-me cooperação para auxiliá-lo, e seria muito de meu agrado localizar, agora, o meu pobre filho em novos braços maternais.

Aniceto esboçou um gesto de compreensão, sorriu e esclareceu, sem afetação:

— Convém não estabelecer o plano por enquanto, porque, antes de tudo, precisamos conhecer a solução do processo de médiuns fracassados, em que está ele envolvido. Somente depois, minha irmã.

Volvi os olhos para o Vicente, sem ocultar a surpresa, mas, enquanto as senhoras se retiravam conformadas, Aniceto dirigia-nos a palavra:

— Tenho serviços imediatos, em companhia de Telésforo. Deixo-os, a todos, em estudos e observações aqui no Centro de Mensageiros.


Retirou-se Aniceto com os maiores, e um companheiro declarou alegremente:

— Podemos conversar.

— Nosso orientador, — explicou-me Vicente, solícito, — considera trabalho útil toda conversação sadia que nos enriqueça os conhecimentos e aptidões para o serviço. Pelas nossas palestras construtivas, portanto, receberemos também a remuneração devida à cooperação normal.


Curioso e surpreendido, indaguei:

— E se eu tentasse voltar aos assuntos inferiores da Terra, esquecendo a conversação edificante?

Vicente sorriu e retrucou:

— O prejuízo seria seu, porque aqui a palavra define o Espírito, e, se você fugisse à luz da palestra instrutiva, nossos orientadores conheceriam sua atitude imediatamente, porquanto sua presença se tornaria desagradável e seu rosto se cobriria de sombra indefinível.




[Os capítulos do n.° 5 ao 12, dizem respeito às observações e estudos efetuados por André Luiz em uma reunião no Centro de Mensageiros.]



André Luiz
Francisco Cândido Xavier

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