Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858
Versão para cópiaJaneiro - Os médiuns julgados
“Há algum tempo, por intermédio do Boston Courier, havia sido feita uma oferta de 500 dólares a quem quer que, em presença e conforme a vontade de um certo número de professores da Universidade de Cambridge, reproduzisse alguns desses fenômenos misteriosos que os espiritualistas dizem ter sido frequentemente produzidos por intermédio de agentes chamados médiuns.
“O desafio foi aceito pelo Dr. Gardner e por várias pessoas que se gabavam de estar em comunicação com os Espíritos. Os concorrentes reuniram-se no edifício Albion, em Boston, na última semana de junho, prontos para a prova de seu poder sobrenatural. Entre eles notavam-se as senhoritas Fox, que se haviam tornado célebres por sua proeminência nesse gênero. A comissão examinadora das pretensões dos aspirantes ao prêmio era composta pelos Professores Pierce, Agassiz, Gould e Horsford, de Cambridge, todos eles sábios de nomeada. As tentativas espiritualistas duraram vários dias. Jamais os médiuns tiveram tão bela oportunidade de evidenciar seu talento ou sua inspiração. Entretanto, como os sacerdotes de Baal nos dias de Elias, em vão invocaram suas divindades, como demonstra a seguinte passagem do relatório da comissão:
“A comissão declara que o Dr. Gardner, não tendo conseguido apresentar um agente ou “médium” que, da sala vizinha, revelasse a palavra pedida aos Espíritos; que lesse a palavra inglesa escrita no interior de um livro ou sobre uma folha de papel dobrada; que respondesse a uma pergunta que só as inteligências superiores podem saber; que fizesse soar um piano sem tocá-lo, ou mover-se uma pequena mesa de um só pé sem o auxílio das mãos; como se mostrou incapaz de dar à comissão o testemunho de um fenômeno que, mesmo com a mais elástica interpretação e a maior boa vontade, pudesse ser considerado como equivalente ao das provas pedidas; de um fenômeno para cuja produção fosse exigida a intervenção de um Espírito, supondo, ou pelo menos implicando tal intervenção; de um fenômeno até aqui desconhecido pela Ciência ou cuja causa não fosse palpável e imediatamente assinalada pela comissão, não tem o direito de exigir do Courier de Boston o pagamento da soma oferecida de 500 dólares.”
“A experiência feita nos Estados Unidos em relação aos médiuns lembra outra, feita na França há cerca de dez anos, pró ou contra os sonâmbulos lúcidos, isto é, magnetizados. A Academia de Ciências recebeu a incumbência de conferir um prêmio de 2.500 francos ao sensitivo magnético que lesse com os olhos vendados.
Habitualmente, todos os sonâmbulos faziam tais exercícios nos salões ou nos palcos: Liam em livros fechados e decifravam uma carta, sentando-se sobre ela ou pondo-a sobre o peito, fechada e bem dobrada, mas perante a Academia não leram absolutamente nada e o prêmio não foi conquistado por ninguém.”
Esta tentativa prova, mais uma vez, a absoluta ignorância, por parte dos nossos antagonistas, dos princípios sobre os quais repousam os fenômenos das manifestações espíritas. Eles têm a ideia fixa de que tais fenômenos devem obedecer à vontade e produzir-se com uma precisão mecânica. Eles esquecem completamente, ou antes, não sabem que a causa de tais fenômenos é inteiramente moral e que as inteligências que são os agentes imediatos não obedecem ao capricho de quem quer que seja ─ médiuns ou outras pessoas.
Os Espíritos agem quando lhes apraz e perante quem lhes agrada. Por vezes, quando menos se espera sua manifestação é que ela ocorre com mais energia, e quando a solicitamos ela não se verifica.
Os Espíritos têm maneiras de comportar-se para nós desconhecidas. O que está fora da matéria não pode submeter-se ao cadinho da matéria. Julgá-los do nosso ponto de vista é enganar-se. Se acharem útil manifestar-se por sinais particulares, fá-lo-ão, mas nunca à nossa vontade, nem para satisfazer uma vã curiosidade.
Além disso, deve-se levar em conta uma causa muito conhecida, que afasta os Espíritos: sua antipatia por certas pessoas, principalmente pelas que querem submeter à prova sua perspicácia, fazendo perguntas sobre coisas conhecidas. Pensam que quando uma coisa existe, eles devem saber; ora, é precisamente porque uma coisa nos é conhecida ou que nós temos meios de verificá-la que eles não se dão ao trabalho de responder. Tal suspeita os irrita e nada se obtém de satisfatório; ela afasta sempre os Espíritos sérios que de boa vontade não falam senão aos que se lhes dirigem com confiança e sem segundas intenções.
Não temos um exemplo diariamente entre nós? Homens superiores e que têm consciência de seu valor não gostam de responder a todas as perguntas ingênuas que visam submetê-los a um exame de primeiras letras. Que diriam se lhes objetássemos: “Mas se o senhor não responde é porque não sabe!” Voltar-nos-iam as costas. É o que fazem os Espíritos.
Então direis: Se assim é, qual o meio de nos convencermos? No próprio interesse da doutrina dos Espíritos, não devem eles desejar fazer prosélitos? Responderemos que é muito orgulho julgar-se alguém indispensável ao êxito de uma causa. Ora, os Espíritos não gostam dos orgulhosos. Eles convencem a quem querem; quanto aos que acreditam em sua importância pessoal, eles lhes provam o pouco caso que lhes fazem, não lhes dando ouvidos.
Vejamos, para finalizar, sua resposta a duas perguntas sobre o assunto:
P. — Pode-se pedir aos Espíritos provas materiais de sua existência e de seu poder?
R. — Sem dúvida podem provocar-se certas manifestações, mas nem todos estão aptos a isto, e muitas vezes aquilo que se pede não se alcança. Eles não se dobram aos caprichos dos homens.
P. — Mas, quando alguém pede provas para se convencer, não haveria conveniência em ser atendido, pois que seria um adepto a mais?
R. — Os Espíritos só fazem o que querem e o que lhes é permitido. Falando convosco e respondendo às vossas perguntas, atestam a sua presença: isto deve bastar à gente séria, que busca a verdade na palavra.
Os escribas e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, gostaríamos de ver-te fazer algum prodígio”. Jesus respondeu: “Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro senão o prodígio do profeta Jonas” (São Mateus).
Acrescentaremos ainda que é conhecer muito pouco a natureza e a causa das manifestações, pensar em excitá-las por um prêmio qualquer. Os Espíritos desprezam a cupidez, tanto quanto o orgulho e o egoísmo. Esta condição única pode ser para eles um motivo para não se manifestarem. Sabei, portanto, que obtereis cem vezes mais de um médium desinteressado que daquele movido pelo engodo do lucro, e que um milhão não o levaria a fazer o que não deve. Se algo há para estranhar, é o fato de se encontrarem médiuns capazes de submeter-se a uma prova que tinha por objetivo uma soma em dinheiro.
Janeiro Evocações particulares
A evocação seguinte não desperta menor interesse, embora sob um outro ponto de vista.
Um senhor, que designaremos sob o nome de Georges, farmacêutico numa cidade do sul, havia perdido o pai há pouco tempo, objeto de toda a sua ternura e de uma profunda veneração. O pai do Sr. Georges aliava a uma instrução muito vasta todas as qualidades que distinguem o homem de bem, embora professasse opiniões muito materialistas. A esse respeito o filho partilhava e até mesmo excedia as ideias do pai; duvidava de tudo, de Deus, da alma, da vida futura. O Espiritismo não poderia reconhecer como verdadeiros tais pensamentos. Todavia, a leitura de O Livro dos Espíritos produziu nele uma certa reação, corroborada por uma entrevista direta que tivemos com ele. “Se meu pai — disse pudesse responder-me, não duvidaria mais.” Foi então que ocorreu a evocação que iremos relatar e na qual encontraremos mais de um ensinamento.
— Em nome do Todo-Poderoso, peço se manifeste o Espírito de meu pai. Estais perto de mim? “Sim”. — Por que não vos manifestastes diretamente a mim, quando tanto nos amamos? “Mais tarde”. — Poderemos nos reencontrar um dia? “Sim, breve”. Haveremos de nos amar, como nesta vida? “Mais”. — Em que meio estais? “Sou feliz”. — Estais reencarnado ou errante? “Errante por pouco tempo”.
— Que sensação experimentastes quando deixastes vosso invólucro corporal? “Perturbação”. — Quanto tempo durou essa perturbação? “Pouco para mim; bastante para ti”. — Podeis avaliar a duração dessa perturbação conforme nossa maneira de contar? “Dez anos para ti, dez minutos para mim”. — Mas, não se passou esse tempo todo desde que vos perdi; não há somente quatro meses? “Se estivesses em meu lugar, terias sentido esse tempo”.
— Acreditais agora em um Deus justo e bom? “Sim”. Acreditáveis nele quando estáveis na Terra? “Eu tinha a presciência, mas não acreditava nele”. — Deus é Todo-Poderoso? “Não me elevei até Ele para avaliar a sua força; somente Ele conhece os limites de seu poder, porque só Ele é seu igual”. Ocupa-se Ele dos homens? “Sim”. — Seremos punidos ou recompensados conforme nossos atos? “Se fazes o mal, sofrer-lhe-ás as consequências.” — Serei recompensado se fizer o bem? “Avançarás na tua rota”. — Estou no caminho certo? “Faze o bem e nele estarás”. — Acredito ser bom, mas estaria melhor se um dia, como recompensa, vos encontrasse. “Que esse pensamento te sustente e te encoraje! — Meu filho será bom como seu avô? “Desenvolve suas virtudes, abafa seus vícios”.
— Custo a crer que estamos nos comunicando, tão maravilhoso me parece este momento. “De onde provém tua dúvida?” — De que, partilhando vossas opiniões filosóficas, fui levado a tudo atribuir à matéria. “Vês de noite o que vês de dia?” — Estou, pois, nas trevas, meu pai? “Sim”. — Que vedes de mais maravilhoso? “Explica-te melhor”. — Reencontrastes minha mãe, minha irmã e Ana, a boa Ana? “Eu as revi”. Vede-as quando quiserdes? “Sim”.
— Achais penoso ou agradável que me comunique convosco? “Para mim é uma felicidade, se posso te conduzir ao bem”. — Voltando para casa, o que poderia fazer para comunicar-me convosco, o que me faz tão feliz? Isso serviria para conduzir-me melhor e me ajudaria a melhor educar os meus filhos. “Cada vez que um impulso te conduzir ao bem, sou eu; serei eu a inspirar-te.”
— Calo-me, com receio de importunar-vos. “Se queres ainda, fala”. — Visto que permitis, dirigir-vos-ei ainda algumas perguntas. De que afecção morrestes? “Minha prova havia alcançado seu termo”. — Onde contraístes o abscesso pulmonar que se manifestou? “Pouco importa; o corpo nada é; o Espírito é tudo”. Qual a natureza da doença que me desperta tão frequentemente, à noite? “Sabê-lo-ás mais tarde”. — Considero grave minha afecção, e queria viver ainda para os meus filhos. “Ela não o é; o coração do homem é uma máquina de vida; deixa a natureza agir”.
— Visto que estais presente aqui, sob que forma vos apresentais? “Sob a aparência de minha forma corpórea”. — Estais em um local determinado? “Sim, atrás de Ermance” (a médium). Poderíeis tornar-vos visível a nós? “Para quê? Teríeis medo”.
— Vede-nos todos, aqui reunidos? “Sim”. — Tendes uma opinião de cada um de nós? “Sim”. — Poderíeis dizer-nos alguma coisa? “Em que sentido me fazes essa pergunta?” — Do ponto de vista moral. “De outra vez; por hoje é bastante”.
O efeito produzido no Sr. Georges por essa comunicação foi imenso; uma luz inteiramente nova já parecia clarear-lhe as ideias; uma sessão que houve no dia seguinte, na casa da Sra. Roger, sonâmbula, terminou por dissipar as poucas dúvidas que lhe restavam. Eis um resumo da carta que, a respeito, nos escreveu:
“Essa senhora entrou espontaneamente em detalhes comigo, tão precisos, com respeito a meu pai, minha mãe, meus filhos, minha saúde; descreveu todas as circunstâncias de minha vida com tal precisão, relembrando mesmo certos fatos que há longo tempo se me haviam apagado da memória; numa palavra, deu-me provas tão patentes dessa faculdade maravilhosa da qual são dotados os sonâmbulos lúcidos, que a reação das ideias foi completa em mim desde esse momento. Na evocação, meu pai havia revelado a sua presença; na sessão sonambúlica eu era, a bem dizer, testemunha ocular da vida extracorpórea, da vida da alma. Para descrever com tanta minúcia e exatidão, e a duas centenas de léguas de distância, o que de mim somente era conhecido, era preciso ver; ora, uma vez que isso não era possível com os olhos do corpo, haveria, portanto, um laço misterioso, invisível, que ligava a sonâmbula às pessoas e às coisas ausentes, e que ela jamais tinha visto; havia, pois, algo fora da matéria; o que poderia ser esse algo, senão aquilo que se chama alma, o ser inteligente, do qual o corpo é apenas o invólucro, mas cuja ação se estende muito além de nossa esfera de ação?”
Hoje, não somente o Sr. Georges deixou de ser materialista, como é um dos mais fervorosos e zelosos adeptos do Espiritismo, o que o faz duplamente feliz, pela confiança que o futuro agora lhe inspira e pelo prazer que experimenta em praticar o bem. [v. Período Psicológico, as observações feitas pelo Sr. Georges.]
Essa evocação, bem simples à primeira vista, não é menos notável em muitos aspectos. O caráter do Sr. Georges, pai, reflete-se nas respostas breves e sentenciosas que estavam em seus hábitos; falava pouco, jamais dizia uma palavra inútil; não é mais o céptico que fala: reconhece seu erro; seu Espírito é mais livre, mais clarividente, retratando a unidade e o poder de Deus por estas admiráveis palavras: Só Ele é seu igual; aquele que em vida referia tudo à matéria, diz agora: O corpo nada é, o Espírito é tudo; e esta outra frase sublime: Vês à noite o que vês de dia? Para o observador atento tudo tem uma importância, e é assim que a cada passo encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos.
Janeiro Evocações particulares n
A evocação seguinte não desperta menor interesse, embora sob um outro ponto de vista.
Um senhor, que designaremos sob o nome de Georges, farmacêutico numa cidade do sul, havia perdido o pai há pouco tempo, objeto de toda a sua ternura e de uma profunda veneração. O pai do Sr. Georges aliava a uma instrução muito vasta todas as qualidades que distinguem o homem de bem, embora professasse opiniões muito materialistas. A esse respeito o filho partilhava e até mesmo excedia as ideias do pai; duvidava de tudo, de Deus, da alma, da vida futura. O Espiritismo não poderia reconhecer como verdadeiros tais pensamentos. Todavia, a leitura de O Livro dos Espíritos produziu nele uma certa reação, corroborada por uma entrevista direta que tivemos com ele. “Se meu pai — disse pudesse responder-me, não duvidaria mais.” Foi então que ocorreu a evocação que iremos relatar e na qual encontraremos mais de um ensinamento.
— Em nome do Todo-Poderoso, peço se manifeste o Espírito de meu pai. Estais perto de mim? “Sim”. — Por que não vos manifestastes diretamente a mim, quando tanto nos amamos? “Mais tarde”. — Poderemos nos reencontrar um dia? “Sim, breve”. Haveremos de nos amar, como nesta vida? “Mais”. — Em que meio estais? “Sou feliz”. — Estais reencarnado ou errante? “Errante por pouco tempo”.
— Que sensação experimentastes quando deixastes vosso invólucro corporal? “Perturbação”. — Quanto tempo durou essa perturbação? “Pouco para mim; bastante para ti”. — Podeis avaliar a duração dessa perturbação conforme nossa maneira de contar? “Dez anos para ti, dez minutos para mim”. — Mas, não se passou esse tempo todo desde que vos perdi; não há somente quatro meses? “Se estivesses em meu lugar, terias sentido esse tempo”.
— Acreditais agora em um Deus justo e bom? “Sim”. Acreditáveis nele quando estáveis na Terra? “Eu tinha a presciência, mas não acreditava nele”. — Deus é Todo-Poderoso? “Não me elevei até Ele para avaliar a sua força; somente Ele conhece os limites de seu poder, porque só Ele é seu igual”. Ocupa-se Ele dos homens? “Sim”. — Seremos punidos ou recompensados conforme nossos atos? “Se fazes o mal, sofrer-lhe-ás as consequências.” — Serei recompensado se fizer o bem? “Avançarás na tua rota”. — Estou no caminho certo? “Faze o bem e nele estarás”. — Acredito ser bom, mas estaria melhor se um dia, como recompensa, vos encontrasse. “Que esse pensamento te sustente e te encoraje! — Meu filho será bom como seu avô? “Desenvolve suas virtudes, abafa seus vícios”.
— Custo a crer que estamos nos comunicando, tão maravilhoso me parece este momento. “De onde provém tua dúvida?” — De que, partilhando vossas opiniões filosóficas, fui levado a tudo atribuir à matéria. “Vês de noite o que vês de dia?” — Estou, pois, nas trevas, meu pai? “Sim”. — Que vedes de mais maravilhoso? “Explica-te melhor”. — Reencontrastes minha mãe, minha irmã e Ana, a boa Ana? “Eu as revi”. Vede-as quando quiserdes? “Sim”.
— Achais penoso ou agradável que me comunique convosco? “Para mim é uma felicidade, se posso te conduzir ao bem”. — Voltando para casa, o que poderia fazer para comunicar-me convosco, o que me faz tão feliz? Isso serviria para conduzir-me melhor e me ajudaria a melhor educar os meus filhos. “Cada vez que um impulso te conduzir ao bem, sou eu; serei eu a inspirar-te.”
— Calo-me, com receio de importunar-vos. “Se queres ainda, fala”. — Visto que permitis, dirigir-vos-ei ainda algumas perguntas. De que afecção morrestes? “Minha prova havia alcançado seu termo”. — Onde contraístes o abscesso pulmonar que se manifestou? “Pouco importa; o corpo nada é; o Espírito é tudo”. Qual a natureza da doença que me desperta tão frequentemente, à noite? “Sabê-lo-ás mais tarde”. — Considero grave minha afecção, e queria viver ainda para os meus filhos. “Ela não o é; o coração do homem é uma máquina de vida; deixa a natureza agir”.
— Visto que estais presente aqui, sob que forma vos apresentais? “Sob a aparência de minha forma corpórea”. — Estais em um local determinado? “Sim, atrás de Ermance” (a médium). Poderíeis tornar-vos visível a nós? “Para quê? Teríeis medo”.
— Vede-nos todos, aqui reunidos? “Sim”. — Tendes uma opinião de cada um de nós? “Sim”. — Poderíeis dizer-nos alguma coisa? “Em que sentido me fazes essa pergunta?” — Do ponto de vista moral. “De outra vez; por hoje é bastante”.
O efeito produzido no Sr. Georges por essa comunicação foi imenso; uma luz inteiramente nova já parecia clarear-lhe as ideias; uma sessão que houve no dia seguinte, na casa da Sra. Roger, sonâmbula, terminou por dissipar as poucas dúvidas que lhe restavam. Eis um resumo da carta que, a respeito, nos escreveu:
“Essa senhora entrou espontaneamente em detalhes comigo, tão precisos, com respeito a meu pai, minha mãe, meus filhos, minha saúde; descreveu todas as circunstâncias de minha vida com tal precisão, relembrando mesmo certos fatos que há longo tempo se me haviam apagado da memória; numa palavra, deu-me provas tão patentes dessa faculdade maravilhosa da qual são dotados os sonâmbulos lúcidos, que a reação das ideias foi completa em mim desde esse momento. Na evocação, meu pai havia revelado a sua presença; na sessão sonambúlica eu era, a bem dizer, testemunha ocular da vida extracorpórea, da vida da alma. Para descrever com tanta minúcia e exatidão, e a duas centenas de léguas de distância, o que de mim somente era conhecido, era preciso ver; ora, uma vez que isso não era possível com os olhos do corpo, haveria, portanto, um laço misterioso, invisível, que ligava a sonâmbula às pessoas e às coisas ausentes, e que ela jamais tinha visto; havia, pois, algo fora da matéria; o que poderia ser esse algo, senão aquilo que se chama alma, o ser inteligente, do qual o corpo é apenas o invólucro, mas cuja ação se estende muito além de nossa esfera de ação?”
Hoje, não somente o Sr. Georges deixou de ser materialista, como é um dos mais fervorosos e zelosos adeptos do Espiritismo, o que o faz duplamente feliz, pela confiança que o futuro agora lhe inspira e pelo prazer que experimenta em praticar o bem. [v. Período Psicológico, as observações feitas pelo Sr. Georges.]
Essa evocação, bem simples à primeira vista, não é menos notável em muitos aspectos. O caráter do Sr. Georges, pai, reflete-se nas respostas breves e sentenciosas que estavam em seus hábitos; falava pouco, jamais dizia uma palavra inútil; não é mais o céptico que fala: reconhece seu erro; seu Espírito é mais livre, mais clarividente, retratando a unidade e o poder de Deus por estas admiráveis palavras: Só Ele é seu igual; aquele que em vida referia tudo à matéria, diz agora: O corpo nada é, o Espírito é tudo; e esta outra frase sublime: Vês à noite o que vês de dia? Para o observador atento tudo tem uma importância, e é assim que a cada passo encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos.