Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858

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Capítulo LIX

Julho - A inveja

Julho


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DISSERTAÇÃO MORAL DITADA PELO ESPÍRITO DE SÃO LUÍS AO SR. D...

São Luís nos havia prometido uma dissertação sobre a inveja, para uma das sessões da Sociedade. O Sr. D..., que começava a desenvolver a mediunidade e que ainda duvidava um pouco, não da doutrina, da qual é um dos mais fervorosos adeptos, compreendendo-a na sua essência, isto é, do ponto de vista moral, mas da faculdade que se lhe revelava, evocou São Luís em particular e lhe dirigiu a seguinte pergunta:

─ Poderíeis dissipar minhas dúvidas, minha inquietação, relativamente à minha faculdade mediúnica, escrevendo por meu intermédio a dissertação que prometestes à Sociedade para terça-feira 1º de junho?

─ Sim. Fá-lo-ei de bom grado, para te tranquilizar.

Então foi ditado o trecho adiante. Salientamos que o Sr. D... se dirigia a São Luís com o coração puro e sincero, sem segundas intenções, condição indispensável a toda boa comunicação. Não era uma prova que fazia. Apenas duvidava de si mesmo e Deus permitiu que fosse atendido, para lhe dar meios de tornar-se útil. Hoje, o Sr. D... é um dos médiuns mais completos, não só pela grande facilidade de atuação, como por sua aptidão em servir de intérprete a todos os Espíritos, mesmo os das mais elevadas categorias, os quais por seu intermédio se exprimem facilmente e de boa vontade.

São essas, sobretudo, as qualidades que devemos procurar nos médiuns e que podem sempre ser adquiridas com paciência, vontade e exercício. O Sr. D... não necessitou de muita paciência; dispunha da vontade e do fervor, aliados à aptidão natural. Poucos dias bastaram para levar sua faculdade ao mais alto grau. Eis o ditado que recebeu sobre a inveja:

“Vede este homem. Seu Espírito está inquieto, sua infelicidade terrena chega ao auge: inveja o ouro, o luxo, a felicidade aparente ou fictícia de seus semelhantes; seu coração está devastado, sua alma surdamente consumida por essa luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita. Ele carrega consigo, em todos os instantes de sua miserável existência, uma serpente que alimenta e que lhe sugere incessantemente os mais fatais pensamentos: “Terei essa volúpia, essa felicidade? Tenho tanto direito a isto quanto aqueles; sou um homem como eles, por que seria eu deserdado?”

Ele se debate na sua impotência, vítima do horrível suplício da inveja, feliz ainda se essas ideias funestas não o levam às bordas de um abismo. Entrando nessa via, a si mesmo pergunta se não deve obter pela violência aquilo que julga ser-lhe devido; se não irá expor aos olhos de todos o terrível mal que o devora. Se esse infeliz tivesse olhado somente para baixo de sua posição, teria visto a quantidade daqueles que sofrem sem um lamento e ainda bendizem o Criador, porque a desgraça é um benefício de que Deus se serve para fazer a pobre criatura avançar até o seu trono eterno.

Fazei das obras de caridade e de submissão, as únicas que vos podem dar entrada no seio de Deus, a vossa felicidade e o vosso verdadeiro tesouro na Terra. Essas obras no bem farão a vossa alegria e a vossa felicidade eternas. A inveja é uma das mais feias e tristes misérias do vosso globo. A caridade e a constante emissão da fé extirparão todos esses males, que desaparecerão, um a um, à medida que se multiplicarem os homens de boa vontade que virão depois de vós. Amém.”


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